A obesidade canina é uma realidade e preocupa muitos tutores. Os cães podem apresentar dificuldades em realizar atividades cotidianas, subir escadas, correr, brincar, além de apresentar problemas respiratórios, cansaço, dentre outros sintomas. Para a médica veterinária pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Zootecnia pela Universidade Federal de Goiás, professora titular na Faculdade Metropolitana de Anápolis, Fernanda Vieira Castejon, na maior parte dos casos, a superalimentação é identificada como fator decisivo para a obesidade.
Como ela explica, o fornecimento de grande quantidade de alimentos e petiscos associados ao sedentarismo fazem com que o animal acumule o excesso calórico na forma de gordura e armazene no tecido adiposo. “Mas, é uma doença multifatorial que associa aspectos genéticos, castração, consumo calórico e a realização de atividades físicas e, portanto, todos os aspectos são avaliados no atendimento individualizado”, explica.
A veterinária cita que de acordo com dados observacionais publicados, há maior ocorrência de obesidade em algumas raças específicas tais como Pug, Dachshund, Basset, Beagle, Cocker Spaniel, Labrador e Golden Retriever e Rottweiller. “Há fatores genéticos associados sim, como no caso do Labrador, na qual foi identificada que essa predisposição à obesidade está relacionada a uma deleção no gene pró-opiomelanocortina (POMC)”, detalha.
Em linhas gerais, a base do tratamento clínico é a modificação da dieta com restrição calórica. Fernanda Castejon detalha que a utilização de rações específicas para o tratamento para obesidade apresenta bons resultados com perda de peso e manutenção de massa muscular, além de ingredientes que promovem saciedade e saúde intestinal. “Dietas caseiras também podem ser utilizadas, desde que formuladas e suplementadas. Alguns casos necessitam do uso de medicações e suplementos alimentares para otimizar a perda de peso. Exercícios físicos podem ser prescritos para cães que não tenham limitações de mobilidade”, explica.
PROJETO
A médica veterinária Castejon fala sobre o projeto "Tratamento da obesidade em cães atendidos na Clínica Ivet - FAMA", que foi submetido a avaliação e aprovado em edital institucional de iniciação científica voluntária da instituição de ensino. “O objetivo é implementar uma rotina de identificação, acompanhamento nutricional e tratamento de cães classificados como em sobrepeso ou obesos e avaliar os benefícios para a saúde e melhoria da qualidade de vida desses pacientes”, detalha.
É um projeto de iniciação científica que envolve dois alunos bolsistas voluntários do curso de Medicina Veterinária, do 5º e 7º períodos, além dos estagiários do 9º período e demais professores que participam da rotina de atendimentos da clínica Ivet. Segundo ela, após a triagem e verificação que o animal atende os requisitos de escore corporal acima do ideal, o atendimento clínico ocorre de forma convencional, com anamnese geral e nutricional acompanhada da avaliação física completa.
“Conversamos com o tutor sobre o manejo alimentar e a relação do animal junto à família. Após, realizamos uma prescrição dietética específica para os objetivos do animal com foco no emagrecimento. São realizadas pesagens periódicas e reavaliações com ajustes para um processo de emagrecimento mais saudável e menos estressante”, diz.
Ela conta que a demanda surgiu da própria necessidade de sensibilizar os tutores e alunos sobre esta temática. “Temos observado um número cada dia maior de pets obesos no atendimento clínico, mesmo não sendo a própria obesidade o motivo da consulta”, diz. Ela avalia que muitas vezes, o tutor não consegue observar os sinais clínicos da obesidade ou entender os possíveis prejuízos à saúde do pet. “Por isso criamos uma rede de suporte para que esses cães possam ser acompanhados e ter uma expectativa de vida melhor e maior, uma vez que a obesidade é uma comorbidade”, detalha.