A audiência pública de prestação de contas do primeiro quadrimestre de 2025, realizada nesta sexta-feira (27), na Câmara Municipal de Anápolis, foi marcada por cobranças a promessas de campanha, esclarecimentos sobre obras paradas, falas inéditas sobre a investigação do perfil “Anápolis na Roda” e um panorama fiscal que, segundo o prefeito Márcio Corrêa (PL), ainda exige contenção de gastos.
Com presença da maioria dos vereadores, a sessão teve questionamentos sobre saúde, educação, infraestrutura e uso de recursos públicos, além de explicações do gestor sobre sua recente viagem à Europa com o vice-governador Daniel Vilela.
Segundo os dados apresentados, a Prefeitura arrecadou R$ 982,9 milhões entre janeiro e abril deste ano, o que representa 30% da previsão anual de receita. Desse total, R$ 246,3 milhões foram repassados ao Fundo Municipal de Saúde. A despesa liquidada da Secretaria de Saúde no período chegou a R$ 213,9 milhões, com destaque para os gastos com contratos de gestão, que somaram R$ 44,8 milhões no quadrimestre, sendo R$ 29,1 milhões direcionados à atenção básica e R$ 15,6 milhões ao Hospital Municipal Alfredo Abrahão.
Na área da educação, o prefeito destacou a entrega de kits escolares e anunciou que seis escolas passarão por reformas ainda em julho. Já na infraestrutura, citou que o viaduto do Recanto do Sol, além dos postos de saúde da Alexandrina e de Souzânia, estão com obras em andamento, todas custeadas com recursos próprios. A prestação também trouxe dados sobre a execução orçamentária da Secretaria de Educação, que comprometeu R$ 134 milhões no período, com despesa liquidada de R$ 74,6 milhões. A maior parte foi destinada à manutenção do ensino infantil e fundamental.
Durante a audiência, Márcio Corrêa afirmou que a ausência de informações de gestões anteriores comprometeu o controle fiscal da cidade. Segundo ele, o déficit previdenciário pressiona o limite prudencial de gastos com pessoal, que estaria em torno de 53%, acima do teto de 51%, quando considerado o passivo do Instituto de Seguridade dos Servidores de Anápolis (Issa). Por esse motivo, disse que o equilíbrio fiscal só deve ser alcançado no próximo ano. “Estamos buscando o aumento da arrecadação, combatendo a sonegação fiscal e melhorando o ambiente de negócios”, destacou.
O prefeito também confirmou que a obra da ponte estaiada, iniciada na gestão anterior, permanece sem perspectiva de retomada. Do valor total estimado de R$ 130 milhões, apenas R$ 40 milhões foram executados. Segundo ele, os R$ 90 milhões restantes foram alocados em outras frentes e, diante da atual situação fiscal, o município não tem capacidade econômica para retomar a construção.
Sobre o caso do perfil “Anápolis na Roda”, investigado por promover ataques anônimos nas redes sociais, o prefeito respondeu pela primeira vez, após 36 dias de silêncio. Ao ser questionado pelo vereador Domingos Paula (PDT), Corrêa afirmou que nunca processou jornalistas, disse que foi vítima de ataques por anos e que, se for investigado, contratará advogados. “Estamos passíveis de investigação. Não será a primeira nem a última pela função que exerço. Estou muito tranquilo nesse sentido”, declarou.
Também mencionou a existência de “uns 500 grupos de WhatsApp” em seu celular, entre eles o Café com Pimenta, citado no inquérito policial.
A viagem à Europa com a comitiva do vice-governador também foi alvo de questionamentos. O vereador Luzimar Silva (PP) perguntou se a ida foi oficial e quanto foi gasto com recursos públicos. O prefeito respondeu que os custos foram pagos com recursos próprios e que usou seu carro para deslocamentos, sem consumir combustível da Prefeitura. “Não gastei um centavo de dinheiro público”, assegurou.
O modelo de gestão por organizações sociais (OSs) na saúde foi tema de crítica por parte do vereador Rimet Jules (PT), que questionou a manutenção dos contratos mesmo após o prefeito, durante a campanha, ter prometido substituí-los e realizar concurso público.
Corrêa respondeu que a contratação direta de servidores depende da redução do limite prudencial. “É uma escolha para não engessar a administração”, disse. Atualmente, a Funev administra o Hospital Alfredo Abrahão e 34 UBSs, com contratos que somam mais de R$ 115 milhões ao ano.
O prefeito também anunciou a criação de um Refis para o ITBI, visando regularização de imóveis e aumento de arrecadação. Segundo ele, a sonegação é elevada. Também confirmou a instalação do novo Hemocentro Regional, com previsão de lançamento nas próximas semanas. Outra medida mencionada foi a força-tarefa em julho para garantir qualidade na merenda escolar da rede municipal.
Ao final da audiência, Corrêa não concedeu entrevista coletiva à imprensa, como tradicionalmente ocorre. Disse ao DM Anápolis que estava atrasado para um evento junino e pediu desculpas. Apesar de mencionar em plenário que tem concedido entrevistas com frequência, o prefeito não respondeu a nenhum veículo desde que foi citado formalmente no inquérito da Operação Máscara Digital.