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Jovens adultos estão menos felizes: estudo aponta mudança no padrão global de bem-estar

Tradicional “curva em U” da felicidade, que indicava queda do bem-estar na meia-idade, parece estar se achatando. Pesquisadores alertam para fatores sociais, econômicos e psicológicos que afetam especialmente os mais jovens

27/06/2025 12h00
Por: Lara Duarte
Foto: Tania Rego/Agência Brasil
Foto: Tania Rego/Agência Brasil

O que antes era entendido como um ciclo natural da felicidade ao longo da vida — com altos níveis na juventude, queda na meia-idade e retomada após os 50 anos — está passando por mudanças significativas. Um estudo global conduzido por instituições como a Universidade Harvard e a Gallup revela que a nova geração de jovens adultos têm apresentado níveis mais baixos de bem-estar, tendência que persiste ao longo das décadas seguintes.

A pesquisa faz parte do Global Flourishing Study, que avalia o que os cientistas chamam de “florescimento”, conceito que vai além da felicidade momentânea. São analisadas áreas como propósito de vida, saúde mental, conexões sociais, segurança econômica e sensação de sentido. Segundo os dados mais recentes, a clássica “curva em U” da felicidade parece estar se achatando, indicando que os mais jovens já começam a vida adulta com baixo bem-estar — e permanecem assim por longos períodos.

De acordo com Henrique Bueno, mestre em Psicologia Positiva pela University of East London, o contexto atual contribui para esse novo cenário. “A juventude, que costumava ser marcada por uma felicidade intensa, agora é atravessada por instabilidade emocional, ansiedade e constante comparação”, explica.

O papel das redes sociais é apontado como um dos fatores mais influentes. “A alta exposição e a comparação social constante criam um ambiente que mina a autoestima e o senso de propósito dos jovens”, afirma Bueno. Ele destaca que a busca por sucesso e aprovação, muito presente nessa faixa etária, frequentemente esbarra em frustrações e incertezas sobre a própria identidade.

Além disso, fatores externos como a instabilidade econômica e a precarização das relações de trabalho têm pesado sobre a saúde emocional da juventude. Empregos inseguros, pressão por produtividade e o alto custo de vida geram insegurança constante.

O psicólogo Alexandre Coimbra Amaral acrescenta que a crise climática e o sentimento de impotência diante do futuro também interferem na construção do bem-estar. “A ecoansiedade e a percepção de um planeta em colapso somam-se às pressões existenciais. O jovem de hoje está tentando entender quem é, consolidar sua carreira e ainda precisa lidar com um futuro altamente incerto”, observa.

Enquanto os dados mostram um aumento da infelicidade precoce, a perspectiva para quem envelhece parece mais positiva. Segundo Amaral, envelhecer tem se tornado, para muitas pessoas, um processo de reinvenção e aceitação.

“Há uma mudança no foco de vida. Após os 60 anos, as pessoas tendem a buscar mais vínculos afetivos, gratidão e satisfação com o que têm, em vez de perseguir status e bens materiais”, aponta Henrique Bueno. “Esses objetivos são mais intrínsecos, e por isso mais sustentáveis emocionalmente.”

O contraste entre o sofrimento da juventude e a reinvenção na velhice gera um novo olhar sobre o ciclo da vida. A chamada “crise da meia-idade” talvez esteja sendo substituída por uma “crise da juventude”, exigindo da sociedade novos caminhos de apoio emocional, inclusão social e acesso à saúde mental.

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