A busca por pertencimento, o contato com a política e uma comunicação moderna, que acompanha os fenômenos e mudanças das redes sociais, têm levado cada vez mais jovens em Anápolis a se aproximarem das igrejas evangélicas. Em um cenário os espaços de acolhimento se tornam raros, muitos encontram nas comunidades religiosas protestantes não apenas um lugar para expressar a fé, mas também para construir identidade e estabelecer relações. A linguagem adaptada, os cultos voltados para o cotidiano juvenil e a abertura ao diálogo formam uma combinação que tem atraído uma geração em movimento.
Dados do Censo 2022 reforçam o avanço. A religião evangélica representa atualmente 38,7 por cento da população anapolina, o que marca um crescimento de mais de quatro pontos em comparação com 2010. No mesmo período, a proporção de católicos caiu de 56,84 para 50,3 por cento. A diferença entre os dois grupos, que já foi de mais de vinte pontos, hoje é inferior a doze. Entre os adolescentes de 10 a 14 anos, os evangélicos já são maioria, o que indica uma possível virada nos próximos anos.
Para o pastor Ediomar Coutinho, da Igreja Ministerial Vida, localizada no bairro Adriana Parque, o crescimento da participação jovem está diretamente ligado à forma como as igrejas têm se adaptado.
“O que antes era uma estrutura pensada para o conjunto da igreja, hoje tem se diversificado. As igrejas perceberam que o jovem precisa de atenção específica, com cultos voltados para a sua linguagem, seu contexto e seus desafios”, explica o pastor.
Segundo ele, a mudança de postura tem feito com que os jovens sintam que pertencem a esses espaços. “Eles gostam de movimento, de socializar, de estar em grupos grandes. A igreja tem entendido isso e criado programações voltadas para eles. Isso tem feito com que o jovem vá por vontade própria, e não mais só por influência dos pais. Às vezes, os pais nem estão indo à igreja, mas o jovem está”, observa.
Além disso, Ediomar destaca o papel do acolhimento. “Lá fora, você precisa se moldar para ser aceito. Na igreja, você é recebido como está, como é. Não importa de onde veio, o que pensa, sua cor ou história. Isso tem agradado muito aos jovens”,
Identidade
Sara Oliveira, cristã protestante desde a adolescência, aponta que o crescimento do número de jovens evangélicos também pode estar relacionado a fatores culturais e ideológicos.
“Tenho percebido que o conservadorismo tem crescido no Brasil, especialmente entre os jovens. Isso parece ser, em parte, uma reação à falta de identificação com pautas progressistas que, muitas vezes, são vistas como distantes da realidade”, afirma.
Segundo ela, isso contribui para o fortalecimento de discursos religiosos centrados em valores como família, moral e justiça. “A fé evangélica oferece segurança em meio ao caos social e político. Em tempos de incerteza, muitos jovens encontram na igreja não só respostas espirituais, mas também um espaço de estabilidade e pertencimento”, completa.
Sara também observa que as igrejas têm ampliado a presença no cotidiano dos jovens, oferecendo desde atividades culturais até apoio emocional. “A mensagem do evangelho continua sendo central, mas ela agora vem acompanhada de ações concretas, de espaços de convivência e escuta, que fazem diferença na vida das pessoas”, cita.
Jaqueline Marques, jovem católica, também acredita que o acolhimento faz diferença no crescimento das igrejas evangélicas. “Parece ter muita coisa voltada de jovem para jovem. Isso aproxima mais", pondera.
Já Luan Henrique de Jesus, jovem de fé que não se identifica com nenhuma religião institucional, destaca a liberdade de expressão nos ambientes protestantes. “A linguagem mais jovem dos cultos é muito atrativa. E, por ser protestante, há mais espaço para debates, e os jovens gostam disso”, diz.
Católica, a jovem Nathália Guimarães observa o movimento de adesão ao protestantismo crescer entre pessoas da mesma idade. “Percebo que eles têm um contato maior de pessoa com pessoa. Isso cria vínculos”, conclui.