O uso prolongado de smartphones tem se tornado um hábito rotineiro na vida dos brasileiros. No entanto, especialistas da área da saúde alertam que essa prática pode trazer prejuízos silenciosos ao cérebro, afetando o foco, a memória e o equilíbrio emocional. Reduzir a dependência e estabelecer limites no contato com o celular é considerado fundamental para preservar a saúde mental.
A exposição contínua a telas interfere diretamente em funções cognitivas essenciais, como a atenção e a capacidade de memorização. Segundo o neurologista Marcelo Masruha, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o cérebro passa a enfrentar uma sobrecarga de estímulos gerada por notificações, aplicativos e rolagens infinitas nas redes sociais, o que compromete o funcionamento natural da mente.
“A atenção é a porta de entrada da memória. Quando o indivíduo está frequentemente distraído, há um comprometimento da codificação adequada das informações, afetando tanto a memória de curto quanto de longo prazo”, afirma o especialista. Ele ressalta que o ambiente digital dificulta a aprendizagem profunda, que depende de concentração, silêncio e reflexão — elementos escassos diante da constante conexão com o celular.
O psiquiatra Marcel Fúlvio Padula Lamas, do Hospital Albert Sabin, reforça o alerta ao destacar que o celular estimula, em excesso, a liberação de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer. “As telas oferecem recompensas rápidas e constantes, o que torna mais difícil competir com atividades do cotidiano, como o convívio familiar ou o descanso. O uso descontrolado pode reduzir a tolerância ao tédio, que é essencial para o desenvolvimento da criatividade e da paciência”, pontua.
De acordo com os especialistas, alguns sinais de alerta para uma relação disfuncional com o celular incluem irritabilidade, dificuldade de concentração, cansaço mental e negligência com atividades presenciais. Nesses casos, é recomendada a adoção de medidas práticas para reorganizar a rotina, como desligar notificações, limitar o tempo de uso diário, evitar o uso do celular em momentos de descanso e buscar alternativas fora do ambiente digital, como leitura, atividades físicas e interação social direta.
“Não se trata de excluir a tecnologia da vida, mas de usá-la com mais critério”, afirma Masruha. A recomendação é que cada indivíduo avalie seu padrão de uso e busque desenvolver uma relação mais consciente e equilibrada com os dispositivos.
Para os especialistas, a qualidade de vida no mundo moderno depende, cada vez mais, da capacidade de se desconectar de forma intencional, priorizando a saúde mental diante de um cenário de hiperconectividade.