Vítimas do 'Anápolis na Roda' detalham danos pessoais e cobram justiça em audiência pública

A Câmara Municipal de Anápolis realizou na noite desta terça-feira (3) a primeira audiência pública com vítimas do perfil “Anápolis na Roda”, investigado por difamações e ataques anônimos contra figuras públicas, profissionais liberais e cidadãos comuns da cidade. O evento integra as ações da Frente Parlamentar de Acompanhamento da Operação Máscara Digital e reuniu relatos de empresários, pastores e médicos que afirmam ter sofrido danos à imagem, à honra e à vida familiar.

O empresário Tarsis Saraiva foi um dos primeiros a relatar os impactos sofridos desde o início das publicações. “Em novembro de 2024 começaram os ataques caluniosos, difamatórios, e todas essas informações foram levadas à Polícia Civil, com registro de boletim de ocorrência. Também ingressei com ações cíveis, pedindo a exclusão das postagens. A Justiça determinou a retirada do conteúdo sob pena de multa, mas como não foi possível localizar os responsáveis, as postagens permaneceram ativas até a exclusão da página”, contou.

Tarsis disse ainda que os ataques afetaram diretamente a vida pessoal dele. “Tenho orgulho da minha paternidade. Como pai, sofri muito. A repercussão foi extremamente negativa, inclusive junto à escola do meu filho e da minha filha”, declarou. 

O pastor Horllikyo Camilo também comentou sobre o impacto dos ataques no exercício de sua função religiosa. “Postaram que eu revelava nas redes sociais segredos que me eram confiados em gabinete pastoral. Isso repercutiu fortemente. Tive que me explicar para irmãos, para a comunidade, amigos, família. Foi um ataque à igreja, não apenas a mim”, disse. “Estou aqui em defesa da honra, da igreja e da causa de Cristo. Espero que a justiça e a verdade se estabeleçam. Sei que Deus usa as autoridades para isso", completou.

Durante a audiência, o vereador Rimet Jules (PT), que também foi alvo do perfil anônimo, reforçou que o Legislativo vai atuar para dar suporte às vítimas e colaborar com a investigação. “Foi um dia muito produtivo. Passamos a tarde no Tribunal de Justiça com o corregedor e encerramos com a audiência, ouvindo pessoas que foram violentadas publicamente. Nosso papel é dar visibilidade e encaminhar qualquer nova informação ao Judiciário e à Polícia Civil”, garantiu.

O parlamentar também destacou que outras vítimas, ainda receosas, devem se manifestar futuramente. “Muitas pessoas entraram em contato, relataram constrangimento de se expor. Ainda estão emocionalmente e psicologicamente abaladas. Entendemos que esse processo de manifestação será gradual, e que as investigações estão apenas começando", frisou.

Além de Tarsis e do pastor Camilo, a médica Marcela Pimenta também prestou depoimento, relatando que sua vida pessoal e profissional foi profundamente abalada pelas acusações espalhadas na internet. “Insinuaram traição, questionaram a orientação sexual do meu marido e o acusaram de fraude como síndico. Isso destruiu a nossa paz”, comentou.

A audiência ocorreu em meio ao desdobramento da Operação Máscara Digital, deflagrada pela Polícia Civil de Goiás. A investigação já resultou na prisão do então secretário municipal de Comunicação, Luis Gustavo Souza Rocha, do ex-diretor de Comunicação da Câmara Municipal, Denilson Boaventura, e de Elyssama Aires, suspeita de participar da veiculação dos ataques.

Três dias após a operação, Luis e Denilson foram exonerados dos cargos. A Polícia já solicitou ao Tribunal de Justiça autorização para investigar o prefeito Márcio Corrêa (PL), por suposta ligação com o conteúdo das postagens. O inquérito aponta indícios de direcionamento político nas difamações, com alvos como o ex-prefeito Roberto Naves, vereadores como Domingos Paula e Luzimar Silva, e a ex-vereadora e ex-candidata a prefeita Erizânia Freitas.

Os vereadores Domingos Paula (PDT), Alex Martins (PP), Luzimar Silva (PP) e Rimet Jules (PT) organizaram a audiência. O vereador Cabo Fred Caixeta (PRTB), também membro da Frente Parlamentar, não compareceu, mas manifestou apoio à iniciativa.