Até 2030, cerca de 500 milhões de jovens poderão estar obesos ou com sobrepeso, segundo relatório internacional divulgado pela conceituada revista científica The Lancet. O documento revela ainda que aproximadamente um bilhão de adolescentes enfrentarão riscos de desenvolver doenças preveníveis.
O levantamento, conduzido por uma comissão internacional de especialistas, aponta que a saúde global da juventude entrou em um “estado crítico”. Sarah Baird, presidente da comissão e pesquisadora da Universidade George Washington (EUA), destaca que embora alguns indicadores tenham melhorado — como a redução no consumo de tabaco e álcool e o maior acesso ao ensino médio e superior — outros problemas cresceram de forma alarmante.
Entre os pontos mais preocupantes, está o avanço acelerado do sobrepeso e da obesidade, que chegaram a aumentar até oito vezes em determinados países da África e da Ásia nas últimas três décadas. Paralelamente, há uma escalada nos transtornos mentais entre adolescentes em todas as partes do mundo.
Os dados utilizados no relatório são oriundos do Global Burden of Disease de 2021, um estudo internacional que monitora a carga global de doenças. De acordo com o documento, quase 1,1 bilhão de adolescentes vivem hoje em contextos onde enfermidades preveníveis e tratáveis — como HIV/AIDS, depressão, gravidez precoce, má nutrição, lesões e sexo desprotegido — continuam a ameaçar sua saúde diariamente.
O relatório evidencia também uma tendência negativa: quando comparado aos dados de 2016, quando menos de um bilhão de jovens estavam expostos a tais riscos, observa-se um agravamento no cenário global.
Além das questões relacionadas ao estilo de vida e à saúde mental, o relatório chama atenção para o papel das mudanças climáticas no agravamento dos problemas de saúde juvenil. Segundo os pesquisadores, esta será a primeira geração a vivenciar toda a sua trajetória em um mundo com temperaturas médias globais 0,5°C acima dos níveis pré-industriais.
E as projeções para o futuro são ainda mais preocupantes: estima-se que, até 2100, cerca de 1,9 bilhão de adolescentes estarão vivendo em um planeta com um aquecimento médio de aproximadamente 2,8°C em relação à era pré-industrial. Esse cenário extremo acarretará riscos severos, como o aumento de doenças provocadas pelo calor, insegurança alimentar e hídrica e uma maior incidência de transtornos psicológicos, associados a eventos climáticos extremos.
Os especialistas também criticam a falta de investimento adequado para enfrentar esses desafios. Embora os adolescentes representem cerca de 25% da população mundial e correspondam a 9% da carga global de doenças, os recursos destinados à saúde e bem-estar desse grupo equivalem a apenas 2,4% da ajuda internacional.
"Sem um compromisso político sólido, ações eficazes e investimentos significativos, milhões de jovens crescerão enfrentando múltiplos problemas de saúde", concluem os autores do relatório.