Sensações de cansaço, sonolência e desmotivação são frequentemente relatadas durante dias de tempo nublado ou chuvoso. A ciência oferece explicações multifatoriais para esse fenômeno, que pode estar relacionado tanto a alterações fisiológicas quanto a condicionamentos comportamentais.
Alfred J. Lewy, professor emérito de psiquiatria na Oregon Health & Science University explica que sensação de letargia em dias nublados não é incomum e pode ter causas diversas. Em primeiro lugar, a exposição reduzida à luz solar afeta diretamente o ritmo circadiano — o relógio biológico responsável por regular funções como sono, vigília, apetite e humor.
A menor intensidade luminosa em ambientes externos pode desencadear uma diminuição na produção de serotonina, neurotransmissor associado à sensação de bem-estar e à regulação do humor. Embora a melatonina, hormônio indutor do sono, continue sendo interrompida ao amanhecer pelo relógio biológico mesmo na ausência de luz intensa, a carência de luz natural pode impactar indiretamente o nível de alerta e energia ao longo do dia.
Outro fator relevante é o comportamento adaptativo que ocorre nesses dias. "Pessoas tendem a reduzir a atividade física em dias chuvosos ou nublados, permanecendo por mais tempo em ambientes internos, muitas vezes em repouso, o que favorece a sensação de inércia corporal", explica o especialista. Essa redução de movimento, combinada a uma possível monotonia ambiental, contribui para a diminuição da estimulação cognitiva e emocional.
É importante, contudo, distinguir esse cansaço eventual de condições clínicas mais sérias, como o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS). O TAS é uma forma de depressão com padrão sazonal, mais comum em países de alta latitude durante o outono e o inverno, e afeta cerca de 5% da população adulta dos Estados Unidos, conforme dados do National Institute of Mental Health. O distúrbio está relacionado à diminuição da duração da luz solar ao longo do dia, e não necessariamente à nebulosidade isolada.
Para indivíduos diagnosticados com TAS, uma das abordagens terapêuticas mais utilizadas é a fototerapia, que consiste na exposição a luz artificial de alta intensidade, preferencialmente nas primeiras horas da manhã, para estimular o ritmo circadiano e restaurar o equilíbrio neuroquímico.
Em casos em que o cansaço ocorre de forma esporádica em dias nublados, a recomendação é adotar estratégias para aumentar a vitalidade, como garantir uma boa qualidade de sono, manter a regularidade nas atividades físicas, realizar pausas ativas durante o dia e optar por uma alimentação rica em nutrientes energéticos.
Assim, embora o tempo nublado não represente, por si só, um fator de risco à saúde, seus efeitos subjetivos sobre a disposição podem ser mitigados por hábitos saudáveis e, quando necessário, com apoio clínico especializado.