A gama de vítimas do perfil Anápolis na Roda, desmantelado na última sexta-feira (16), após a Operação Máscara Digital, tinha uma grande variedade. Os alvos iam de influenciadores digitais da cidade a políticos, mas não poupava pessoas de vida mais discreta - são médicos, advogados, trabalhadores industriais, policiais e pastores evangélicos. Até empresas foram fustigadas. Ao todo, já são 50 boletins de ocorrência.
Um dos alvos mais contumazes foi a influenciadora Kelly Pires, que denunciou o caso à polícia - e desta denúncia nasceu o inquérito que levou à investigação. Em entrevista à TV Anhanguera, ela firmou que os responsáveis pelo perfil aproveitaram um momento de fragilidade dela, publicaram mentiras e prejudicaram sua vida pessoal e profissional.
“Usaram um momento delicado que eu passei com o fim de um relacionamento. Uma coisa familiar que se tornou pública. E isso afetou e machucou muita gente, inventando fake news, falando que eu estava em lugares onde não fui, criando situações. Isso atingiu muito tanto na minha vida sentimental quanto no meu trabalho”, disse.
Pires ainda afirmou que, pelas calúnias, perdeu ‘grandes contratos’ e ficou com o estado emocional abalado. “Tenho um filho adolescente e ele teve acesso a todas essas postagens. Não atrapalhou só a minha vida, mas do meu filho e de várias outras pessoas.”
Outra influenciadora atacada – que também está no meio político e foi candidata a vereadora no ano passado - é a médica Marcela Pimenta. A profissional de saúde foi diversas vezes alvo das postagens do perfil. Na sua conta pessoal, comemorou a prisão dos investigados e afirmou que “agora toda comunicação da prefeitura e Câmara estarão sob suspeição.”
Diversos pastores também foram alvos das publicações difamatórias do ‘Anápolis na Roda’. Elas ‘denunciavam’ supostas traições ou tratavam sobre a vida íntima e familiar de líderes religiosos. Uma destas vítimas foi Thiago Cunha, que é pastor da Igreja Church City. No seu perfil, ele fez um desabafo.
“As pessoas são muito irresponsáveis quando falam inverdades e se esquecem que do outro lado há gente que tem filhos, esposa, familiares”, disse. “Não estou celebrando a prisão de ninguém. Estou agradecendo pela resposta que não precisei dar ao longo de oito anos. Não fiz boletim de ocorrência, não procurei a polícia, pois sabia que cedo ou tarde teria uma resposta”, destacou.
No meio político, os ataques eram mais direcionados àqueles que hoje não estão no grupo de situação. Alvo contumaz, o vereador Domingos Paula (PDT) publicou quatro das representações que fez contra os atos de difamação. Ele lembrou que, por diversas vezes, falou sobre “blogs e perfis que propagam fake news para prejudicar não só a minha, mas a imagem de várias pessoas da nossa cidade.” Afirmou ainda que “internet não é terra sem lei”.
O ex-vereador Leandro Ribeiro, hoje subsecretário na Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), foi outro alvo. À reportagem, ele disse que vai buscar reparação na esfera cível.
Insinuações sobre a vida sexual eram ato comum no perfil. Deste tipo de postagem foram vítimas, entre outras pessoas, o ex-prefeito Roberto Naves, a deputada estadual Vivian Naves e Eerizania Freitas, hoje secretária de Políticas Sociais na Prefeitura de Goiânia.
A diversa gama de ataques atingiu ainda renomados médicos de Anápolis. Um deles, que preferiu não se identificar, garantiu que vai à Justiça e processará os apontados como responsáveis pelas publicações. Advogados e jornalistas também foram vítimas. Entre eles, Henrique Morgantini, editor do Anápolis Diário, acusado de ter contratos fraudulentos pelo perfil. Ele destacou a surpresa em ver que pessoas do seu círculo de conhecimento estavam por trás das calúnias.
“Principalmente Luís Gustavo (Rocha, secretário de Comunicação), com quem trabalhei junto por anos na gestão Roberto Naves, e que mantive uma relação social de amizade fora do ambiente de trabalho”. Também disse que pode buscar reparação na Justiça.