Mais tempo com a família, liberdade para escolher os próprios projetos e controle sobre a rotina. Esses são alguns dos motivos que levaram anapolinos como Rodrigo Matheus e Brisa Mayna a deixarem a carteira assinada para empreender como Pessoa Jurídica (PJ). Em comum, eles compartilham o desejo de viver com mais autonomia - uma tendência que também se reflete no aumento de MEIs em Goiás nos últimos dez anos.
Aos 29 anos, o profissional de TI Rodrigo Matheus decidiu romper com a estabilidade da carteira assinada para buscar novos horizontes. “Trabalhei como CLT por uns cinco anos em uma empresa de tecnologia aqui em Anápolis, mas sempre senti que faltava algo. A estabilidade era boa, mas o crescimento era muito lento”, lembra.
Em 2022, Rodrigo optou por abrir seu próprio CNPJ e atuar como prestador de serviços para empresas de diferentes cidades - inclusive fora do país. A mudança, segundo ele, foi transformadora. “Hoje, tenho flexibilidade de horários, ganho mais do que ganhava como CLT e posso escolher os projetos que quero me envolver”, afirma. Apesar dos desafios, como impostos e a ausência de benefícios tradicionais, ele destaca: “Me sinto mais dono da minha carreira.”
A busca por liberdade também foi essencial para a lash designer Brisa Mayna, de 34 anos. Mãe da Aurora e do Khaléo, ela conta que o regime CLT dificultava a conciliação entre maternidade e trabalho. “Sentia que vivia correndo, pegava trânsito, e ainda chegava em casa esgotada", relata.
Quando decidiu empreender e abrir o estúdio próprio, a rotina mudou completamente. “Hoje, como PJ, administro meu estúdio, tenho minha clientela fiel e consigo montar minha agenda de acordo com as necessidades da minha família”, conta. Para Brisa, o modelo PJ não trouxe apenas liberdade de tempo, mas também autoestima. “Me deu confiança e a chance de mostrar que posso ser mãe e empreendedora ao mesmo tempo.”
MEIs em crescimento
Segundo levantamento do Sebrae Goiás, o número de microempreendedores individuais (MEIs) cresceu 183% nos últimos 10 anos, saltando de 208 mil, em 2015, para 589 mil em 2025.
O setor de serviços lidera a participação entre os MEIs, com 53% dos registros, seguido pelo comércio (27%), indústria (11%) e construção civil (9%). As atividades mais comuns entre os microempreendedores incluem cabeleireiros, manicure e pedicure (6%), comércio varejista de vestuário (6%), promoção de vendas (5%) e obras de alvenaria (4%).
A maior parte dos MEIs goianos atua em estabelecimentos fixos (34%) ou em casa (20%). O principal motivo para empreender, segundo os entrevistados, é o desejo de ser dono do próprio negócio (40%), seguido por busca de flexibilidade e independência (37%).
Mesmo com as vantagens — como direito à aposentadoria (38%), possibilidade de emissão de nota fiscal (27%) e melhores condições de compra com fornecedores (23%) —, o caminho do PJ não é isento de obstáculos. As maiores dificuldades enfrentadas pelos microempreendedores são o acesso a crédito (47%) e a expansão do negócio (29%).
Para superá-las, 63% dos MEIs afirmam que buscam capacitação com frequência. As principais áreas de necessidade apontadas foram: vendas e conquista de clientes (40%), marketing digital (36%), uso de redes sociais (35%) e controle financeiro (34%).
Atualmente, 78% dos microempreendedores individuais em Goiás têm o próprio negócio como principal ocupação e, para 74%, ele representa a principal fonte de renda. No entanto, 60% têm um faturamento médio de até R$ 5 mil por mês e 46% relatam dificuldades ocasionais para manter as contas em dia.