Contas atrasadas, cartões de crédito no limite e dificuldade para negociar dívidas: essa é a realidade de muitas famílias em Anápolis. Dados recentes mostram que a inadimplência se mantém alta, principalmente entre os trabalhadores que vivem com até três salários mínimos - um quadro observado em todo o país.
Na cidade, histórias como a de Sirlene, moradora do bairro Vivian Parque, se multiplicam. Auxiliar de serviços gerais, ela conta que o cartão de crédito se tornou a única forma de garantir alimentação e medicamentos para a família, mas que agora enfrenta dificuldades até mesmo para pagar o valor mínimo da fatura. “Já tentei renegociar, mas os juros só aumentam. A gente entra numa bola de neve”, desabafa. Com dois filhos e vivendo com o marido, a renda da casa gira em torno de dois salários mínimos, insuficiente para cobrir os custos mensais, mesmo com bicos extras.
Eduardo Melo, mototaxista da Vila Jaiara, enfrenta situação semelhante. Pai solo de uma adolescente, ele relata que o acúmulo de contas — da moto, aluguel e despesas básicas — acabou comprometendo o orçamento. “Quando vi, já estava com o nome sujo. Não é por má vontade. É que não tem como fugir disso quando tudo aumenta e o salário continua o mesmo”, explica.
Em escala nacional, uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) no fim de abril confirma a tendência de alta no endividamento. O levantamento mostra que 77,6% das famílias brasileiras relataram possuir algum tipo de dívida. O número representa um avanço em relação a março, quando o índice estava em 77,1%.
O dado mais preocupante, no entanto, é o crescimento da inadimplência: 29,1% das famílias estão com dívidas em atraso. Entre os lares com renda de até três salários mínimos — perfil que corresponde à maioria da população anapolina — a situação é ainda mais crítica: 81,1% estão endividados, e 37% estão inadimplentes. Além disso, 17,5% dessas famílias afirmam não ter condições de pagar o que devem.
Enquanto isso, nas faixas de renda mais alta, os índices são menores. Entre os que ganham mais de dez salários mínimos, apenas 15,2% estão inadimplentes, e 5,4% dizem não ter condições de quitar suas dívidas. Mesmo assim, esse grupo também registrou aumento no endividamento no último mês.
A CNC projeta que o endividamento continue crescendo em 2025, com um avanço estimado de 2,4 pontos percentuais até dezembro. A inadimplência também deve seguir em alta, impulsionada por juros elevados e pela dificuldade de acesso ao crédito. A entidade alerta que, sem ações de educação financeira e políticas públicas voltadas ao controle da inadimplência, programas de estímulo ao consumo podem acabar agravando ainda mais o cenário.