Economia ITEM DE LUXO

Alta do café muda hábito de consumo em Anápolis

Com alta de mais de 80% em 12 meses, preço do café atinge recorde histórico e faz amantes do cafezinho se reinventarem

13/05/2025 14h00
Por: Janayna Carvalho
Foto: Reprodução
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O café, símbolo das manhãs brasileiras, tem pesado cada vez mais no bolso dos anapolinos. Em Anápolis, o impacto da disparada nos preços já é sentido nas prateleiras e, principalmente, nas casas das famílias. Tem, claro, muita gente que decidiu mudar hábitos de consumo para se adaptar à carestia, que não cede nas prateleiras dos supermercados da cidade.

“O café que eu comprava por R$ 13 agora está quase R$ 25. Tenho que ficar de olho nas promoções e, mesmo assim, às vezes levo uma marca diferente só para economizar”, lamenta a vendedora Maria das Graças, de 56 anos. A rotina do aposentado João Ferreira também mudou. “Sempre fui de tomar café a manhã inteira, mas agora estou racionando. É triste dizer que até o café está virando luxo”, comenta. 

Nos 12 meses encerrados em abril de 2025, o preço do café moído acumulou alta de 80,2%, segundo dados do IPCA divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do maior avanço já registrado desde a criação do Plano Real, em 1994, evidenciando o peso da conjuntura climática, econômica e internacional sobre um dos produtos mais consumidos no país.

Esse avanço vertiginoso nos preços está diretamente relacionado a um conjunto de fatores que, somados, criaram o cenário perfeito para a escalada inflacionária. As condições climáticas adversas enfrentadas pelo Brasil — o maior produtor e exportador mundial de café — foram determinantes. A combinação de geadas severas em 2023 e longos períodos de estiagem em áreas produtoras comprometeu a produtividade das lavouras, reduzindo drasticamente a oferta. O impacto não se restringiu ao território nacional: países como Vietnã e Colômbia, também importantes players no mercado global, enfrentaram dificuldades semelhantes, agravando o quadro.

Além disso, a demanda global por café segue em expansão, puxada especialmente por mercados emergentes como China e países do Sudeste Asiático. O crescimento do consumo em regiões que tradicionalmente não faziam parte do centro consumidor impôs uma pressão adicional sobre os estoques mundiais, já fragilizados pelas safras comprometidas. O cenário se complicou ainda mais com as oscilações no câmbio e o fortalecimento do dólar frente ao real, o que encarece o produto internamente, mesmo quando ele é exportado a preços mais vantajosos para o produtor.

A disparada nos preços atinge de forma desigual as regiões brasileiras. Porto Alegre lidera o ranking com um aumento de 99,4% no café moído em 12 meses, seguida de perto por Goiânia, onde a alta chegou a 97,01%. Em contrapartida, cidades como Recife (61,63%) e São Paulo (65,34%) registraram variações menos acentuadas, ainda que igualmente expressivas. A intensidade com que a inflação do café se manifesta em cada região reflete aspectos como logística, tributação local e hábitos de consumo.

A perspectiva, segundo analistas do setor, é que os preços elevados devam persistir até, pelo menos, o fim de 2026. As perdas severas na produção de 2024, causadas pelos reflexos climáticos de safras anteriores, não serão rapidamente revertidas. A recomposição dos estoques e o equilíbrio entre oferta e demanda são processos lentos e dependem de uma sequência de safras bem-sucedidas, o que é cada vez mais incerto diante do avanço das mudanças climáticas.

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