O câncer de testículo, embora seja relativamente raro, é um dos tumores sólidos mais frequentes entre homens jovens, especialmente na faixa etária dos 15 aos 35 anos. Segundo o cirurgião oncologista e pesquisador Adriano Augusto Peclat de Paula, que atua no Cebrom Oncoclínicas, a doença se origina, em sua maioria, a partir de células imaturas chamadas germinativas. “Essas células são responsáveis pela formação de espermatozoides e, por serem imaturas, têm maior propensão a sofrer mutações descontroladas, resultando no surgimento de tumores”, explica.
O padrão de manifestação do câncer de testículo segue o que os especialistas chamam de padrão trimodal. De acordo com o médico, “ele pode se manifestar na infância, com maior incidência de rabdomiossarcomas; na fase adulta jovem, onde atinge seu pico de casos; e também na terceira idade, principalmente sob a forma de seminomas espermatocíticos”. Apesar da variedade de tipos histológicos, a atenção deve ser redobrada entre jovens, justamente pela fase de transição e amadurecimento que atravessam, período em que muitas vezes alterações no corpo podem ser negligenciadas.
Entre os fatores de risco mais conhecidos estão síndromes genéticas, como a de Down, que eleva em até vinte vezes a probabilidade de surgimento da doença, e anomalias como a criptorquidia, quando o testículo não desce adequadamente para a bolsa escrotal. “A exposição a radiações também é apontada como um agravante”, acrescenta Adriano. Sinais de alerta incluem o aumento no volume testicular, dores, desconfortos ou mesmo endurecimento da região. “Qualquer alteração deve ser investigada imediatamente para que se tenha maiores chances de cura”, orienta.
Embora o câncer de testículo represente cerca de 2% dos tumores que acometem homens, é um dos tipos com maior taxa de cura dentro da oncologia, mesmo em estágios mais avançados. O diagnóstico, geralmente, é iniciado com exame físico, palpação e observação de anormalidades, complementado pelo ultrassom, capaz de detectar alterações como acúmulo de líquido ou massas. “Quando o diagnóstico é confirmado, o tratamento costuma começar com a cirurgia para retirada do testículo pela região da virilha”, afirma o oncologista. Em alguns casos, segundo ele, pode ser necessária a colocação de uma prótese testicular, além de quimioterapia e, eventualmente, radioterapia.
Um caso que ganhou grande repercussão foi o do ciclista Lance Armstrong, diagnosticado com câncer de testículo já com metástase cerebral. Após cirurgia para retirada do testículo e sessões de quimioterapia, Armstrong não apenas superou a doença como voltou a competir em alto nível, conquistando mais uma vitória na Volta da França, um dos eventos mais importantes do ciclismo mundial.
Apesar dos avanços nos tratamentos, a desinformação e o preconceito ainda são obstáculos relevantes para o diagnóstico precoce. “Muitos jovens tendem a ignorar alterações testiculares, seja por vergonha, desconhecimento ou receio de procurar ajuda médica”, lamenta Adriano. Esse constrangimento, segundo ele, é ainda mais acentuado em adolescentes, dificultando a comunicação com os pais e o acesso ao atendimento especializado. A consequência é o diagnóstico tardio, que poderia ser evitado com informações corretas e campanhas de conscientização.
“Nesse cenário, o papel da informação se torna ainda mais vital”, enfatiza o cirurgião. A conscientização, especialmente voltada ao público jovem, é ferramenta indispensável para o aumento das taxas de detecção precoce e cura do câncer de testículo, contribuindo para que mais pacientes possam receber o diagnóstico em estágios iniciais e tenham melhores prognósticos.