Em Goiás, mais de 140 mil mulheres tocam seus negócios a partir do próprio lar. Em Anápolis, essa realidade se reflete na rotina de empreendedoras como Ana Carolina, esteticista, e Karina Virgilio, confeiteira. Ambas decidiram montar seus empreendimentos em casa por diferentes motivos, mas compartilham a mesma certeza: empreender no lar é sinônimo de autonomia, economia e, acima de tudo, qualidade de vida.
“Meu ramo de atuação é a estética. E eu decidi empreender em casa por questão de aluguel mesmo, economizar com aluguel. Porque economizando com aluguel eu consigo colocar os procedimentos mais em conta e investir mais no meu espaço”, conta Ana Carolina, proprietária da Ana Carolina Estética e Saúde, que adaptou parte da própria casa para oferecer serviços estéticos em Anápolis.
A decisão de trabalhar em casa foi, para ela, um divisor de águas. “Tem sido uma experiência ótima para mim. Como é em casa, no intervalo entre uma cliente e outra, eu posso ir, mais separado da casa, é um pouco comercial na frente. Eu posso lanchar, posso descansar um pouco”, afirma.
Essa flexibilidade é um dos principais atrativos para as mulheres que empreendem em casa em Goiás.
Segundo a pesquisa “Perfil da Empreendedora Goiana”, realizada pelo Sebrae Goiás em parceria com a UFG, quatro em cada dez mulheres empreendem a partir de casa. A pesquisa também aponta que, entre os principais motivos para essa escolha, estão a redução de custos, a possibilidade de conciliar trabalho e família e o conforto proporcionado pelo modelo.
Em Anápolis, a história de Ana Carolina se mistura com essa realidade. Além do conforto, ela destaca a segurança. “Se eu pudesse voltar atrás, com certeza escolheria de novo empreender em casa. Porque quando você aluga um lugar, tem o risco do dono desistir, ou de não poder atender até mais tarde. Já em casa, eu tenho essa segurança.”
Ana, que trabalhou por anos em uma clínica de estética, viu seu faturamento crescer quando passou a se dedicar integralmente ao próprio negócio. “Eu trabalhava numa clínica de estética no período da manhã e no meu espaço no período da tarde. No carnaval agora, eu decidi sair da clínica e ficar só com o meu negócio. Foi tão financeiramente viável que, quando eu peguei o meu livro-caixa, eu fiquei até assustada. Porque eu não sabia que tinha essa capacidade de fazer essa quantidade de atendimentos, essa quantidade financeira. Agora é o maior salário que eu já tive na minha vida”.
E se engana quem pensa que a escolha de empreender em casa é motivada apenas por necessidade. Karina Virgilio, dona da La Boutique Patisserie, também optou por esse modelo após uma trajetória que passou pela Argentina, seu país de origem, e por Santa Catarina. Em Anápolis, desde a pandemia, ela encontrou na confeitaria, feita em casa, uma forma de manter-se próxima do filho pequeno e, ao mesmo tempo, realizar sua paixão.
“Decidi voltar à minha primeira e grande paixão, a confeitaria. Decidi fazer de casa por comodidade. Depois de um ano engravidei do meu filho e continuei desse jeito, porque foi o que me permitiu e permite acompanhar seu crescimento. Eu considero que tem sido, sim, uma boa experiência”, relata.
Assim como Ana Carolina, Karina valoriza a autonomia que o modelo de trabalho em casa oferece. “Sou eu quem decide horário e tempo de trabalho. Decido quantos pedidos consigo fazer e posso conciliar com outras atividades ou lazeres. Até mesmo cuidar do meu filho se ele ficar doente. Sem dúvida, poder administrar meus tempos e horários é o que mais gosto.”
Contudo, os desafios também existem. “É difícil, porque aqui não tenho muitos conhecidos e meu trabalho é muito por indicação. Além da crise que a gente está vivendo nos últimos tempos. Eu sou uma confeiteira com poucos clientes e ateliê pequeno, mas não posso reclamar. Tem mês que as vendas são maiores, como Natal e Páscoa, e é ali onde a gente consegue fazer uma diferença.”
De acordo com o levantamento do Sebrae, o rendimento médio das mulheres que empreendem em casa em Goiás é de R$ 1.755, abaixo da média das que atuam fora, de R$ 3.412. Apesar disso, muitas mulheres seguem firmes nessa escolha, valorizando outros ganhos que não estão apenas no bolso.
“Eu escolhi minha família e minha paixão por cima do dinheiro. Mas também tenho certeza que em alguns anos vou ter um salário muito melhor”, acredita Karina, que sonha em abrir uma confeitaria física, mas reconhece que o momento ainda não é o ideal. “Por enquanto não tenho condições financeiras para fazê-lo. E tenho um pouco de receio também de que não dê muito certo.”
Para quem pensa em empreender de casa, tanto Ana quanto Karina deixam mensagens de incentivo e reflexão. “Pode investir sem medo. A mulher tem a vida muito corrida, tem marido, tem filho, tem casa para arrumar, tem muita coisa. Então, tem muita mulher que não consegue sair para trabalhar. E você tendo o seu negócio em casa, consegue fazer todas essas tarefas e ainda consegue atender”, reforça Ana.
Karina completa: “Procurem um ramo que vocês realmente gostem. Vejam os prós e os contras, analisem suas metas e desejos, e qual é a sua prioridade: ser exitosa, cuidar da sua família, acompanhar seu crescimento”.