A inflação no Brasil continua impactando diretamente o dia a dia da população, principalmente no que diz respeito ao consumo de alimentos. Dados da mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no último dia 13, mostram que 58% dos brasileiros passaram a comprar menos alimentos do que costumavam. Entre os mais pobres, esse percentual sobe para 67%.
Os efeitos dessa alta nos preços são sentidos em diversas esferas da vida cotidiana, como apontam os próprios consumidores. O levantamento mostra que 8 em cada 10 brasileiros tiveram que mudar hábitos devido à inflação. Entre as principais mudanças estão sair menos para comer fora de casa (61%), trocar marcas por versões mais baratas (50%), reduzir o consumo de luz, água e gás (50%) e diminuir a compra de bebidas (49%) e medicamentos (36%).
Em Anápolis, não é diferente. Moradores da cidade relatam que o custo de vida aumentou consideravelmente, especialmente quando se trata de itens essenciais como arroz, feijão, carne e produtos de limpeza. A autônoma Dinoraci Marcelino de Oliveira, que vende bolos, relata que está cada vez mais difícil manter a mesa abastecida com o básico.
“Na minha opinião, o que tem ficado mais complicado é que os alimentos, os produtos, que são o básico, né? É o básico, que não pode faltar na mesa no dia a dia. Esse aqui tá muito caro. Esse aqui tá pesando”, afirma. Ela destaca que, antes, o mais caro eram os itens considerados supérfluos, mas que agora os produtos essenciais lideram os aumentos. “Hoje o básico que seria o mais barato é o mais caro. O arroz, açúcar, feijão, produtos de limpeza básicos, a carne, o ovo. Esses não podem faltar no dia a dia e esses realmente estão muito caros, fora mesmo da base".
Segundo o Datafolha, um quarto da população afirma ter menos comida do que o suficiente em casa. Outros 60% dizem que a quantidade é suficiente e 13% declaram ter mais do que o necessário. Essa percepção de escassez é acentuada nas famílias de menor renda, especialmente quando o aumento dos preços atinge tanto alimentos quanto outras necessidades, como contas de energia, água e gás.
A manicure Márcia Nascimento também compartilha sua experiência com os impactos da inflação. Ela afirma que, em sua casa, o aumento mais sentido foi o da carne, que forçou a família a buscar alternativas — nem sempre mais baratas.
“Eu percebi que aumentou todos os produtos, né? Aumentou tudo, principalmente a carne. Aqui em casa nós gostamos muito de carne. Eu falo que nós somos carnívoros e tivemos que diminuir. Fazer substituições por ovo, por frango, que também aumentou”, diz Márcia. “É uma falsa ilusão você achar que vai substituir alimentos e vai ficar mais barato, mas não vai. Aí você vai continuar pagando caro, né? Às vezes você não vai comer aquilo que você gosta".
Ela também relata que, além dos alimentos, os aumentos no custo da energia elétrica afetaram a rotina da casa. “A luz aumentou muito também. Energia, né? Então a gente teve que diminuir assim o tempo de chuveiro, não pode ficar muito tempo com o chuveiro ligado. As luzes, todas as luzes apagadas. A gente já tinha esse costume de não deixar a luz do cômodo acesa sem ninguém, agora até para assistir televisão a gente assiste televisão só com a luz da TV mesmo".
Como manicure, ela ainda precisa lidar com os altos preços dos materiais que utiliza para trabalhar. “Os preços estão muito caros: acetona, algodão, esmalte... são coisinhas simples, pequenas, mas que você vê o impacto, que você vê que aumentou quase o dobro do preço que era antes. E aí fica complicado porque a unha você não pode cobrar tão caro assim das clientes, porque se você cobrar muito caro, você perde cliente".
Além disso, Márcia destaca que precisou abrir mão de certos confortos em casa para manter o orçamento equilibrado. “Os produtos de limpeza também aumentaram bastante. Eu sempre gostava de muito perfume para deixar a casa perfumada, mas tive que tirar tudo. Agora lavo a casa mesmo só com sabão e pronto. Então assim, você tem que tirar algumas coisas para ver se dá para sustentar as outras coisas, né? Infelizmente”.
A pesquisa do Datafolha também mostra que, para 54% dos entrevistados, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem “muita responsabilidade” pela alta nos preços dos alimentos. Outros 29% atribuem “um pouco de culpa” ao Planalto, enquanto apenas 14% acreditam que o governo “não tem nenhuma responsabilidade".
A pesquisa ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios entre os dias 1º e 3 de abril, com margem de erro de dois pontos percentuais.