Anápolis COMPORTAMENTO

Apostas esportivas impactam a rotina e o bolso de anapolinos

Com o crescimento do mercado, anapolinos se dividem entre disciplina e compulsão nas plataformas de aposta

17/04/2025 16h00
Por: Janayna Carvalho
Foto: Secom / PR
Foto: Secom / PR

O crescimento acelerado das apostas esportivas no Brasil tem transformado o hábito de torcer em uma atividade de risco para muitos. O tema voltou aos holofotes após o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, ser indiciado pela Polícia Federal por suspeita de fraudar uma partida para beneficiar apostadores. Segundo a investigação, ele teria forçado um cartão amarelo em um jogo contra o Santos, em 2023. Casas de apostas identificaram movimentações atípicas e acionaram as autoridades. Além dele, nove pessoas, incluindo familiares, também foram indiciadas. O Ministério Público deve formalizar a denúncia nos próximos dias.

Entre os apostadores, a linha entre a diversão e a compulsão pode ser tênue. Um morador de Anápolis, de 29 anos, que preferiu não se identificar, revelou à reportagem que já perdeu mais de R$ 20 mil em apostas esportivas. 

"Comecei brincando, com R$ 10, R$ 20. Em menos de um ano, estava tirando dinheiro do cartão de crédito, fazendo empréstimo pra tentar recuperar o que perdi. E perdia ainda mais", contou. 

Segundo ele, o vício tomou conta da rotina e afetou até relacionamentos pessoais. “Você começa a viver em função dos jogos. Assiste campeonato da Indonésia às 3h da manhã acreditando que vai virar o jogo da sua vida", relatou.

Em contrapartida, há quem tenha encontrado uma forma de apostar com responsabilidade. É o caso do técnico em informática Rafael Lemos, de 26 anos, também morador de Anápolis, que destina uma pequena parte da renda mensal exclusivamente para esse fim. 

“Eu separo R$ 100 por mês. Se perder, paciência. Não faço recarga extra e não mexo no que não posso. É uma diversão pra mim, como ir ao cinema”, garante.

Rafael também diz que só aposta em partidas que conhece, priorizando estatísticas e informações confiáveis. “Se for pelo feeling, você dança. A galera precisa entender que isso não é um atalho pra enriquecer", reforça.

Dados recentes do setor indicam que o Brasil movimentou entre R$ 100 bilhões e R$ 120 bilhões em apostas apenas em 2023, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas em parceria com o Instituto do Jogo Legal. O montante representa cerca de 1% do PIB nacional, superando proporcionalmente até mesmo o mercado dos Estados Unidos. 

A regulamentação da atividade pelo governo federal tem buscado dar mais segurança e transparência ao processo. Ainda assim, especialistas em saúde mental e economia alertam para o perigo do uso compulsivo. A falta de controle pode levar a dívidas, ansiedade, depressão e isolamento social. Em redes sociais e fóruns online, é comum encontrar relatos de apostadores que chegaram ao fundo do poço, tentando refazer a vida após perdas significativas.

Com a regulamentação das bets sancionada em 2023, empresas do setor agora precisam seguir uma série de exigências, como sede no Brasil, controle de lavagem de dinheiro, publicidade responsável e proteção a menores de idade. O Ministério da Fazenda é responsável pela concessão das licenças e pela fiscalização do mercado, enquanto apostadores são orientados a buscar plataformas autorizadas e manter controle rígido sobre os próprios limites.

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