Goiás SAÚDE

Insônia pode estar ligada à personalidade, aponta estudo da USP

Pesquisa revela que traços como instabilidade emocional aumentam risco de insônia, enquanto abertura a novas experiências pode atuar como fator protetivo

13/04/2025 18h00
Por: Lara Duarte
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

A dificuldade para dormir pode ir muito além de estresse ou maus hábitos noturnos. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) revelou que certos traços da personalidade têm relação direta com a insônia, distúrbio que atinge cerca de 30% da população mundial. A pesquisa mostra que pessoas com altos níveis de neuroticismo – traço associado à instabilidade emocional – são mais propensas a sofrer com noites mal dormidas, enquanto indivíduos mais abertos a novas experiências demonstram menor incidência do problema.

A pesquisa analisou 595 adultos com idades entre 18 e 59 anos, divididos entre dois grupos: um composto por pacientes diagnosticados com insônia por médicos especialistas e outro formado por pessoas sem queixas de sono. Os participantes responderam a um questionário psicológico com 60 itens, capaz de mapear os cinco grandes traços da personalidade humana, segundo a teoria conhecida como Big Five.

De acordo com os resultados, os insones apresentaram índices significativamente mais altos de neuroticismo, além de níveis mais baixos de amabilidade, abertura à experiência e conscienciosidade — esta última relacionada à disciplina e ao comprometimento. Já o traço de abertura, que envolve criatividade, curiosidade e interesse pelo novo, apareceu com mais frequência no grupo que não relatava dificuldades para dormir.

“Estudamos a influência da personalidade porque a insônia é um transtorno comum, que impacta negativamente a saúde física e mental das pessoas”, explicou a psicóloga do sono Bárbara Araújo Conway, uma das autoras da pesquisa. Segundo ela, a condição pode aumentar o risco de doenças como hipertensão, diabetes, ansiedade e depressão, além de comprometer a qualidade de vida.

A pesquisa também dialoga com uma teoria amplamente aceita na área da medicina do sono, que propõe os chamados “3 Ps” da insônia: predisposição, precipitação e perpetuação. Os traços de personalidade entrariam no primeiro grupo — como fatores que tornam o indivíduo mais vulnerável ao distúrbio.

Em São Paulo, os números são ainda mais expressivos: cerca de 45% da população relata dificuldades para dormir, segundo dados do Estudo Epidemiológico do Sono (Episono). Diante desse cenário, os pesquisadores destacam a importância de considerar aspectos psicológicos na avaliação e no tratamento da insônia.

Os resultados completos da pesquisa foram publicados no periódico científico Journal of Sleep Research.

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