Anápolis 100 DIAS

Fanbase blindada e tom truculento marcam comunicação de Márcio Corrêa

Foco em base própria pode fortalecer a imagem a curto prazo, mas amplia o risco de isolamento político e dificulta o diálogo com a sociedade, aponta analista

10/04/2025 12h00
Por: Emilly Viana
Foto: Secom Anápolis
Foto: Secom Anápolis

Nos primeiros 100 dias à frente da Prefeitura de Anápolis, o prefeito Márcio Corrêa (PL) apostou pesado em uma comunicação direta pelas redes sociais. Segundo especialistas ouvidos pelo DM Anápolis, os três meses de administração foram marcados pela prioridade na mobilização de uma “fanbase” e por um tom classificado como truculento em várias aparições públicas.

Vídeos curtos, com direito a trilha sonora e no estilo “denúncia”, têm sido a principal estratégia de comunicação do prefeito. De 1º de janeiro até esta quarta-feira (9), foram 171 conteúdos deste tipo no Instagram, em uma média de quase dois vídeos por dia. Entre os que mais repercutiram, estão uma vistoria de maquinário no pátio da prefeitura, que alcançou 469 mil visualizações, e as fiscalizações de sinalização viária nos dias 29 e 30 de janeiro, com 207 mil e 376 mil visualizações.

Contudo, episódios polêmicos também marcaram a comunicação do prefeito. Um dos casos mais comentados foi a visita a um orfanato, em que Corrêa sugeriu a um grupo de crianças órfãs que adotaria uma delas. A exposição gerou críticas e levou à exclusão do vídeo.

Outro situação que repercutiu negativamente foi uma abordagem a pessoas em situação de rua na qual o líder do Executivo afirma: "Ou vai ter que trabalhar ou sair da cidade”. A frase foi interpretada por lideranças da Assistência Social como uma ameaça e escancarou a falta de sensibilidade do prefeito diante da complexidade do problema social. 

Em março, o gestor também protagonizou uma intervenção na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Alair Mafra, na Vila Esperança, que mais parecia cena de filme. Acompanhado por uma comitiva e transmitindo tudo ao vivo pelas redes sociais, adentrou a unidade de saúde para notificar pessoalmente a Organização Social (OS) sobre a rescisão imediata do contrato de gestão.

Para o pesquisador e professor de Comunicação e Marketing Marcos Marinho, Márcio Corrêa faz parte de um perfil de gestores com forte exposição pessoal, como o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), que enfrenta críticas pelo tom agressivo e ações midiáticas. “Percebo que há uma semelhança entre o Márcio e o Sandro. Eles estão nessa leva agora de prefeitos que querem se mostrar com muito 'hands-on', os caras que estão com a mão na massa, que fazem, que vão pra cima, e até um pouco de truculência, um pouco de agressividade”, analisa em entrevista ao DM Anápolis.

Segundo o especialista, o estilo reforça a imagem de ação, mas limita o alcance político. “São ações muitas vezes mais pirotécnicas do que efetivas em nível de gestão, mas como é tudo dentro de uma janelinha, de um recorte muito bem desenhado, muito bem pensado, para manter fanbase, funciona”, pondera. “É uma iniciativa para isolar o seu eleitorado de outras narrativas que não a sua. Você cristaliza sua base, mas corre o risco de conversar apenas com os seus, sem atingir públicos maiores”, completa. 

Marinho também alerta que a blindagem pode ser ilusória. “O prefeito pode achar que está se blindando, mas, na prática, está se isolando. Em cidades como Anápolis, com questões sociais complexas, a comunicação precisa ter mais capilaridade”, alerta.

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