Economia PÁSCOA SALGADA

Preço do chocolate assusta consumidores e afeta produção artesanal em Anápolis

Com alta de até 27% nos ovos de Páscoa e dificuldades para pequenos confeiteiros, anapolinos repensam a tradição e optam por alternativas mais baratas

22/03/2025 16h16
Por: Lara Duarte
Foto: Brendo Araújo
Foto: Brendo Araújo

A Páscoa de 2025 promete ser uma das mais caras dos últimos anos para os consumidores anapolinos. O aumento expressivo no preço do cacau, que acumula alta de 189% nos últimos 12 meses, impactou diretamente o valor dos chocolates e, consequentemente, dos tradicionais ovos de Páscoa. De acordo com levantamento do Procon Anápolis, alguns produtos chegaram a ficar 27% mais caros em relação ao ano passado.

A pesquisa do órgão de defesa do consumidor apontou que o preço médio do ovo de Páscoa Sonho de Valsa 277g caiu 9%, ficando em R$ 51,63. No entanto, outros produtos apresentaram aumentos consideráveis, como o ovo de Prestígio 225g, que saltou de R$ 42,57 para R$ 52,53, uma variação de 23%. Já o ovo de Laka e Diamante Negro 494g ficou 6% mais caro, passando para R$ 107,09.

Para a população, o impacto nos preços tornou inviável a compra dos ovos de Páscoa tradicionais. A anapolina Maressa Gonçalves desabafa: “Já está difícil comprar café e ovos, imagine ovo de Páscoa. Um bom custa R$ 70, R$ 100. Para quem ganha um salário mínimo e tem itens de primeira necessidade para comprar, não compensa”.

A alternativa mais viável para muitos consumidores tem sido a substituição dos ovos por barras de chocolate. Ana Cecília, outra moradora da cidade, defende essa troca: “É melhor comprar a barra. Sai mais em conta e tem mais chocolate”.

Além do impacto para os consumidores, os altos preços do cacau e dos ingredientes também afetam os confeiteiros locais. Ana Paula Batista, confeiteira há 12 anos e proprietária do Paula Ateliê de Bolos, revela que este pode ser o primeiro ano em que não produzirá ovos de Páscoa. “Sempre vendi cerca de 350 ovos, mas esse ano não sei se compensa. O cacau está caríssimo e eu só uso chocolate nobre. O retorno financeiro não justifica as noites sem dormir e o alto investimento”, explica.

Para os pequenos produtores, a principal dificuldade está no repasse do aumento de custos ao consumidor. Diferentemente das grandes indústrias, que conseguem reajustar os preços com mais facilidade, os confeiteiros enfrentam resistência dos clientes. “Se um bolo custa R$ 60 hoje e R$ 90 no mês seguinte, ninguém aceita. Tenho que manter os preços dentro do possível, mesmo com o aumento dos ingredientes”, acrescenta Ana Paula.

A confeiteira destaca que a Páscoa sempre foi um período lucrativo, funcionando como uma espécie de “13º salário” para quem trabalha com doces. No entanto, com os preços atuais, a margem de lucro está comprometida. “Antes, a Páscoa ajudava a sair do aperto, a planejar uma viagem. Hoje, parece que o esforço será o mesmo que um final de semana comum de vendas de bolos”, compara.

Uma das alternativas para os confeiteiros seria a produção de ovos menores, mas nem todos veem essa opção como viável. Além disso, há a concorrência das grandes marcas, que conseguem produzir em larga escala e oferecer preços mais acessíveis. “Os meus clientes não aceitam chocolate fracionado, sempre trabalharam com marcas como Garoto e Nestlé. Se não puder manter esse padrão, prefiro não produzir”, afirma Ana Paula.

A alta no preço do cacau tem sido um dos principais responsáveis pelo aumento dos chocolates. Fatores como mudanças climáticas em países produtores, como Costa do Marfim e Gana, além de desafios logísticos e cambiais, contribuíram para a escassez da matéria-prima e, consequentemente, para a escalada dos custos.

Segundo o economista João Silva, a oferta reduzida de cacau tem elevado os custos de produção dos chocolates, o que reflete diretamente no valor final do produto. Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indicam que o chocolate registrou um aumento de 11,99% nos últimos 12 meses, encerrados em dezembro de 2024.

Embora a indústria tenha buscado eficiência e investido em automação para reduzir custos, o impacto nos preços é inevitável. O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), João Dornellas, ressalta que cada empresa adota sua própria política de preços, mas confirma que os valores seguirão elevados.

Com os ovos de Páscoa cada vez mais caros, a principal recomendação do Procon Anápolis para os consumidores é a pesquisa de preços. “Os valores variam bastante de um estabelecimento para outro, e a melhor estratégia é avaliar antes de comprar”, orienta o órgão.

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