Saúde BEM-ESTAR

Ambientes desorganizados podem afetar a saúde mental, alertam especialistas

Desordem em casa pode gerar ansiedade, estresse e até vergonha, influenciando o bem-estar emocional

21/03/2025 17h00
Por: Lara Duarte
Foto: Shutterstock
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A relação entre a organização dos espaços e a saúde mental tem sido cada vez mais estudada por especialistas. Um ambiente desordenado pode ir além do mero incômodo visual, tornando-se um reflexo do estado emocional dos moradores e contribuindo para sentimentos de ansiedade, estresse e até mesmo baixa autoestima. Segundo psicólogos, a dificuldade em manter a casa organizada pode ser um sinal de alerta para um sofrimento psíquico mais profundo.

Foi o que aconteceu com a analista de marketing Roberta (nome fictício), que se sentia sobrecarregada ao chegar em casa após um longo dia de trabalho e encontrar o espaço tomado pela desordem. O que deveria ser um refúgio de tranquilidade acabava se tornando um gatilho para a ansiedade. Mesmo consciente da necessidade de organização, ela não conseguia tomar iniciativa para mudar a situação. “Eu via a bagunça e me sentia desmotivada. Ao mesmo tempo, sabia que precisava arrumar, mas não conseguia. Era um ciclo que parecia não ter fim”, relata.

Roberta mora sozinha e, sem dividir as tarefas domésticas com ninguém, o acúmulo de afazeres se tornava cada vez mais pesado. A vergonha de receber visitas aumentava, levando-a ao isolamento social. Foi apenas com acompanhamento psicológico que percebeu que sua dificuldade de manter a casa em ordem estava diretamente relacionada ao seu estado emocional. “A minha casa refletia o que eu sentia por dentro. Quando comecei a trabalhar essas questões na terapia, a organização passou a ser mais natural”, conta.

A psicóloga Patrícia Borges explica que a desorganização dos ambientes pode estar associada a condições como depressão, ansiedade e estresse ocupacional. Além disso, quadros específicos, como o transtorno de acumulação e o estresse pós-traumático, também podem influenciar o modo como uma pessoa lida com a organização do espaço onde vive. “Eventos traumáticos podem levar algumas pessoas a perderem o controle sobre seus ambientes, tornando-se incapazes de organizar seus pertences”, exemplifica.

Estudos científicos apontam que a desordem afeta até mesmo a capacidade de processamento cerebral. Uma pesquisa publicada no Journal of Neuroscience indicou que um ambiente caótico pode dificultar a tomada de decisões e comprometer a produtividade, aumentando a sensação de fadiga e desmotivação. Isso ocorre porque o excesso de estímulos visuais desordenados sobrecarrega o cérebro, dificultando a concentração e a clareza mental.

Por outro lado, manter os ambientes organizados pode trazer benefícios significativos. A psicóloga afirma que a organização do espaço físico impacta diretamente a sensação de bem-estar e o estado emocional. “Ter controle sobre o ambiente em que se vive gera um efeito positivo, ajudando a reduzir sintomas de desânimo e promovendo mais equilíbrio mental. O importante é adotar mudanças progressivas e respeitar o próprio ritmo, sem cobrança excessiva”, ressalta.

No entanto, ela reforça que ninguém deve se culpar por não conseguir manter a casa impecável o tempo todo. Pequenas mudanças graduais podem fazer diferença, e buscar apoio psicológico pode ser necessário para compreender as dificuldades relacionadas à desordem. “O mais importante é entender que não se trata apenas de uma questão estética, mas de um aspecto ligado ao bem-estar emocional”, afirma.

Para algumas pessoas, iniciar a organização pode ser um desafio. A personal organizer Laiza Barbosa recomenda que o processo de arrumação leve em consideração o estilo de vida de cada indivíduo. Um dos primeiros passos é se desfazer de objetos que já não fazem sentido para aquela fase da vida, o que pode ajudar a criar um ambiente mais leve e funcional.

Além disso, a especialista alerta para a importância de revisar periodicamente os espaços da casa, garantindo que a organização seja mantida a longo prazo. “Manter o ambiente arrumado não significa perfeição, mas sim praticidade. Pequenos hábitos, como separar os itens por categoria e revisar periodicamente o que está sendo acumulado, fazem diferença”, pontua.

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