Economia ECONOMIA

Financiamento de veículos atinge 29,5% ao ano, maior taxa da história, mas setor mantém crescimento

Mesmo com juros elevados, indústria automotiva registra aumento nas vendas, produção e exportações no início de 2025

18/03/2025 14h08
Por: Lara Duarte
Foto: Marcelo Camargo/EBC
Foto: Marcelo Camargo/EBC

O custo do financiamento de veículos para pessoas físicas alcançou 29,5% ao ano, o nível mais alto já registrado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O acompanhamento desse índice teve início em 2011, mas nem mesmo antes desse período havia um patamar tão elevado.

No mesmo período do ano passado, a taxa era de 24,5%, refletindo o impacto da alta da Selic, que subiu de 10,75% para 13,25% ao ano nos últimos 12 meses. Além disso, o valor dos financiamentos também inclui o spread bancário, que tem influência direta sobre o custo final para os consumidores.

Apesar desse cenário desafiador, os números da indústria automobilística no primeiro bimestre de 2025 foram positivos. O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, destacou que a expansão do mercado pode estar associada à melhora na renda e à redução do desemprego, fatores que impulsionam a economia como um todo. Segundo ele, o avanço do marco das garantias, que facilita a retomada de bens em caso de inadimplência, pode contribuir para uma queda nas taxas de financiamento futuramente.

Mesmo com a taxa de juros elevada, a inadimplência no setor permanece sob controle: 4% para consumidores e 2,6% para empresas. Atualmente, 55% das aquisições de veículos são feitas à vista, enquanto 45% são financiadas.

No acumulado dos dois primeiros meses do ano, as vendas de veículos cresceram 9% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando 356,2 mil unidades comercializadas. Os modelos importados representaram 21% desse volume, mesmo diante da concorrência dos veículos chineses, que seguem ganhando espaço no mercado brasileiro.

A produção de veículos também avançou, registrando um crescimento de 14,8%, com 392,9 mil unidades fabricadas. Já as exportações tiveram um salto de 54,9%, totalizando 76,7 mil unidades vendidas para outros países, com destaque para a Argentina, que sozinha ampliou suas compras em 172% no período. Outros mercados sul-americanos, como Chile, Colômbia e Uruguai, também demonstraram recuperação significativa.

Por outro lado, as importações apresentaram queda em fevereiro, passando de 39,3 mil unidades em janeiro para 35,9 mil no mês seguinte. Ainda assim, no acumulado do bimestre, houve um avanço de 26,2% em comparação com o mesmo período do ano passado, totalizando 75,2 mil unidades adquiridas no exterior.

Dentro do Mercosul, as vendas de veículos da Argentina para o Brasil diminuíram, enquanto a importação de modelos chineses continuou crescendo. Diante desse cenário, a Anfavea tem pressionado o governo para antecipar a alíquota de 35% do Imposto de Importação sobre veículos eletrificados, prevista para 2026, para ainda este ano.

Outro fator que traz incertezas ao setor automotivo é a política tarifária dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump. Medidas protecionistas adotadas pelo país impactam diretamente montadoras que operam no México e podem influenciar o mercado brasileiro.

Além disso, o preço do aço, um insumo essencial para a produção de veículos, não deve sofrer reduções significativas, segundo Lima Leite. Ele alertou que o fechamento de auto-fornos nas siderúrgicas pode representar riscos à produção nacional, já que o custo para reativá-los se aproxima do valor de construir novas instalações.

Diante desses desafios, a Anfavea segue monitorando o setor e dialogando com o governo para garantir a competitividade da indústria automotiva nacional, mantendo o crescimento das vendas e da produção nos próximos meses.

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