A inflação de fevereiro registrou um aumento de 1,31% em relação a janeiro, tornando-se a maior para o mês desde 2003, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O acumulado dos últimos 12 meses chegou a 5,06%, ultrapassando o teto da meta inflacionária de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O aumento nos preços impactou diretamente os moradores de Anápolis, que relatam dificuldades para manter o padrão de vida diante dos aumentos expressivos.
O reajuste de 16,8% na energia elétrica residencial, juntamente com o aumento nos preços dos combustíveis e dos alimentos, estão entre os principais fatores que pressionaram o orçamento das famílias. Dinoraci Marcelino, autônoma que vende bolos caseiros, conta que sua rotina foi fortemente afetada pelo aumento dos custos: "Me afetou, sim. Principalmente o aumento do combustível. Eu não consigo diminuir minha necessidade de andar, mas [o combustível] subiu muito e isso me impactou demais. No supermercado também, tudo aumentou. Meu lucro diminuiu porque não consigo aumentar o valor dos meus produtos na mesma proporção que os custos subiram".
O impacto da inflação também é sentido nas prateleiras dos supermercados, onde os anapolinos precisaram mudar seus hábitos de consumo para tentar equilibrar o orçamento. "O supermercado foi onde mais me afetou. O aumento foi geral: alimentação, limpeza e higiene. Acaba que a gente tem que diminuir as compras. Tem que cortar alguma coisa", explica Dinoraci.
A manicure Márcia do Nascimento também sente os efeitos da alta dos preços no dia a dia de sua família. "A carne foi o mais gritante. Aqui em casa, nós gostamos muito de carne, mas tivemos que diminuir. Substituímos por ovo e frango, que também aumentaram. É uma falsa ilusão achar que substituindo você vai economizar, porque tudo subiu", relata.
A conta de energia elétrica foi outra vilã para os orçamentos familiares. "A luz aumentou muito. Tivemos que diminuir o tempo no chuveiro e manter as luzes apagadas. Agora, assistimos televisão só com a luz da TV mesmo, para ver se economiza", conta Márcia.
A manicure ainda destaca o impacto da inflação nos produtos necessários para seu trabalho. "Os preços estão muito caros: acetona, algodão, esmalte. Coisas pequenas, mas que fazem diferença. A gente não pode aumentar muito o preço do serviço, senão perde cliente. Aí fica complicado."
Os produtos de limpeza também são itens que sofreram reajustes significativos. "Sempre gostei de deixar a casa perfumada, mas tive que cortar isso. Agora, é sabão e pronto. A gente tem que tirar algumas coisas para conseguir sustentar outras", desabafa Márcia.
A empreendedora Iris Coutinho, que trabalha com semijoias, também notou as mudanças nos preços. "Tudo subiu. O café mesmo está um absurdo. A gente acaba mudando de marca, tentando pegar um produto similar, mas com preço mais em conta. Mas, no fim das contas, tudo aumentou muito", conta.
Íris explica que, apesar de sua casa contar com energia solar, ela percebeu os aumentos frequentes na conta de eletricidade. "Minha mãe reclama todo mês que tem um acréscimo na conta de luz. Vai subindo de pouquinho em pouquinho, mas não para de subir", diz.
Com a inflação pressionando os orçamentos das famílias anapolinas, a adaptação virou regra para os consumidores. "Tem que trocar as marcas para tentar economizar. Muda o sabão em pó, o desinfetante, tenta pegar uma coisa mais barata", conclui Íris.
O cenário atual de alta nos preços tem gerado preocupações sobre o que está por vir nos próximos meses. Uma das principais razões para essa inquietação é a possibilidade de aumento na taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central.