O consumo das famílias brasileiras registrou queda em fevereiro, refletindo o impacto dos juros elevados e a cautela na aquisição de bens duráveis. O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), recuou 0,2% no mês, atingindo 104,5 pontos e quebrando a sequência de crescimento iniciada em dezembro. No acumulado de 12 meses, a retração foi de 1,1%.
O recuo foi mais acentuado na compra de bens duráveis, com queda de 1,6% no mês e 4,8% no ano. O impacto foi sentido em todas as faixas de renda: enquanto as famílias que ganham até dez salários mínimos reduziram suas intenções de consumo em 0,2%, aquelas com maior poder aquisitivo apresentaram uma retração ainda mais significativa, de 0,5%. A Perspectiva de Consumo, que avalia expectativas para os próximos três meses, também caiu, marcando -2,2% entre os mais ricos e -1% entre os demais.
Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, o cenário é desafiador para o comércio: "As famílias já enfrentam dificuldades para adquirir bens duráveis no começo do ano. Apesar do esforço para manter o padrão de consumo, é provável que o varejo registre uma redução nas vendas nos próximos meses”, afirmou.
Realidade local
Em Anápolis (GO), a situação não é diferente. Igor Pierre, de 26 anos, trabalha na construção civil e tem sentido o peso dos juros altos no orçamento familiar. Casado e pai de três filhos – um de sete anos e gêmeos de um ano –, ele precisou ajustar os gastos da casa. "A gente tem que cortar o que pode. Já diminuímos as idas ao supermercado e evitamos comprar coisas parceladas, porque os juros estão muito altos. Queríamos trocar de carro, mas desistimos", conta.
Apesar da retração no consumo, o mercado de trabalho apresenta sinais positivos. O indicador de emprego atual subiu 0,2%, e a perspectiva profissional avançou pelo quinto mês seguido, com alta de 0,4%, sugerindo um maior otimismo quanto às oportunidades futuras.
Ainda assim, para famílias como a de Igor, o desafio é equilibrar as contas sem comprometer o bem-estar. "O que mais pesa é manter tudo em dia sem abrir mão do que as crianças precisam. O jeito é ter paciência e segurar as compras enquanto os juros não melhoram", conclui.