Esportes DIA DA MULHER

Mulheres se provam por carreira no esporte em Anápolis e relatam desafio e preconceito

Repórter, atleta e torcedora encaram, além de estereótipos, falta de oportunidades e assédio no meio esportivo da cidade

08/03/2025 13h00
Por: Janayna Carvalho
Foto: Janayna Carvalho
Foto: Janayna Carvalho

O esporte tem sido, historicamente, um ambiente dominado por homens. Em Anápolis, essa realidade não é diferente. Seja dentro das quadras, nos gramados ou na imprensa esportiva, as mulheres ainda enfrentam preconceito, falta de oportunidades e, muitas vezes, situações de assédio. Apesar dos avanços nos últimos anos, o caminho para a equidade ainda é longo.

A repórter esportiva Cris Matheus relata que o mercado para mulheres no jornalismo esportivo é desafiador e marcado por obstáculos que vão além da simples qualificação profissional. "O preconceito ainda existe, assim como a falta de oportunidades. Muitas vezes, precisamos provar muito mais do que um homem para conseguir um espaço. Já passei por situações desconfortáveis, inclusive de assédio, simplesmente por estar trabalhando. O ambiente esportivo precisa evoluir muito nesse sentido."

No futevôlei, a professora de educação física e atleta Jéssica Braz destaca que o cenário melhorou, principalmente no âmbito profissional. “Hoje nós temos um espaço muito maior do que antigamente em todos os esportes. No futevôlei, por exemplo, antes existiam poucos campeonatos femininos em nível profissional, agora já são praticamente os mesmos do masculino, com premiações iguais. A visibilidade cresceu demais e hoje vemos árbitras comandando jogos importantes" afirma.

Mesmo com esse avanço, ela reconhece que ainda há desafios, principalmente no ambiente profissional. “No futsal, por exemplo, só tem eu e mais uma professora, o restante é tudo homem. Eu não vejo problema, porque eles me respeitam, mas para uma nova professora, sem tanto conhecimento ou contato, pode ser difícil. O preconceito ainda existe quando se trata de uma mulher treinando um time masculino ou jogando.”

Para Jéssica, a presença feminina em cargos de liderança no futebol ainda é um desafio a ser superado. “O dia que tivermos uma treinadora mulher comandando um time masculino de elite, como Corinthians ou Flamengo, acredito que teremos zerado 100% a dificuldade da mulher no esporte. Mas estamos em uma crescente e espero que nos próximos anos isso se torne realidade.”

O preconceito também está presente fora das quatro linhas, atingindo torcedoras que frequentam estádios e participam do meio esportivo como espectadoras. Helena Silva, torcedora apaixonada por futebol, conta que já passou por situações desconfortáveis apenas por gostar do esporte. "Muitos homens acham que mulher não entende de futebol. Já escutei piadinhas no estádio e até fui questionada se eu estava lá porque meu namorado gostava, como se eu mesma não pudesse torcer e entender do jogo. É cansativo ter que provar o tempo todo que gostamos de futebol tanto quanto eles.”

O cenário do esporte feminino em Anápolis e no Brasil tem evoluído, mas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres mostram que ainda há um longo caminho pela frente. A luta por mais respeito, espaço e reconhecimento continua, impulsionada por profissionais, atletas e torcedoras que desafiam diariamente as barreiras impostas pelo machismo no esporte.

Futebol feminino

A carência do esporte feminino em Anápolis é tamanha que a cidade, embora seja a terceira mais populosa do estado e o maior município do interior, não tem nenhum clube de futebol no Campeonato Goiano. Em 2019, o Anhanguera inaugurou a empreitada pelo futebol feminino, mas encerrou as atividades após apenas um ano.

A modalidade passa por expansão no mundo, no Brasil e em Goiás, que no ano passado teve o torneio com mais clubes de sua história, com oito, incluindo times de Trindade e Itaberaí, mas Anápolis não tem acompanhado o 'boom'.

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