Com a grande quantidade de ofertas e informações disponíveis nas redes sociais, muitas pessoas têm repensado seus hábitos de consumo. O movimento "low buy" surge como uma alternativa para quem deseja comprar de forma mais consciente, focando apenas no necessário. A proposta não é eliminar totalmente o consumo, mas evitar compras impulsivas e priorizar o que realmente importa.
A nutricionista Thaís Surian, de 32 anos, percebeu que, apesar de ter um guarda-roupa cheio, utilizava sempre as mesmas peças. O mesmo acontecia com produtos de beleza. "Estava comprando de forma exagerada, sem necessidade. Agora, meu objetivo é quitar o apartamento o mais rápido possível, então reduzi drasticamente meus gastos", conta. Para isso, ela decidiu evitar compras por pelo menos seis meses, mas admite que as tentações são constantes. "Outro dia fui com meu marido a um outlet e fiquei com vontade de comprar uma camiseta. Pensei bem e consegui resistir", relata.
O excesso de estímulos de consumo nas redes sociais é um dos principais desafios para quem adere ao "low buy". A economista Paula Gonçalves Sauer, professora da ESPM, explica que muitas compras são motivadas pela necessidade de pertencimento. "Muitas vezes adquirimos produtos que nem combinam com nosso estilo de vida apenas para nos sentirmos incluídos socialmente. Na internet, tudo é visual. Você precisa ter ou, pelo menos, parecer que tem", analisa. Segundo ela, novas gerações têm buscado investir mais em experiências do que em bens materiais, especialmente após a pandemia. "As perdas vividas nesse período mudaram os propósitos de consumo. Muitas pessoas passaram a valorizar ter menos coisas para administrar, economizando tempo e dinheiro", acrescenta.
A especialista em recursos humanos Bel Vazquez, de 41 anos, também adotou o "low buy" e estabeleceu um plano para quitar seu imóvel em menos tempo. "Além do minimalismo, esse movimento faz com que as mulheres olhem com mais atenção para suas finanças", comenta. Ela acredita que a falta de educação financeira contribui para hábitos de consumo prejudiciais. "Os homens costumam investir em patrimônio, estudos, viagens. Já nós, mulheres, somos incentivadas a gastar com produtos, muitas vezes sem retorno real", critica.
Ao organizar suas compras passadas, Bel notou a grande quantidade de resíduos gerados, especialmente com itens de beleza. Para evitar desperdícios, passou a seguir outra tendência: o "project pan", que incentiva o uso completo dos produtos antes de adquirir novos. "Percebi que tinha dez hidratantes corporais, dez perfumes, 30 batons. Para que tudo isso? Mesmo doando algumas coisas, nem sempre temos certeza se serão realmente aproveitadas ou descartadas", aponta.
A engenheira agrônoma Alana Galbiatti, de 28 anos, estendeu o "low buy" para outros aspectos da vida, como o lazer. Ela e o marido reduziram a frequência de jantares fora e passaram a priorizar restaurantes que aceitam vale-refeição. "Comecei a me preocupar em construir uma reserva de emergência para o futuro. Muitas pessoas não se planejam financeiramente. Será que nossa geração vai conseguir se aposentar?", questiona.
Para a psicóloga Larissa Fonseca, doutoranda pela Universidade Federal de São Paulo, o consumo excessivo pode estar relacionado à busca por bem-estar emocional, mas a satisfação gerada por compras impulsivas é temporária. "À medida que amadurecemos emocionalmente, percebemos que o excesso de consumo não traz felicidade duradoura. Comprar menos reduz a ansiedade e melhora a autoestima", afirma. Segundo ela, o uso consciente do dinheiro tem benefícios para o cérebro. "Fortalece o córtex pré-frontal, melhorando a tomada de decisões e reduzindo a impulsividade", explica. Além disso, a menor dependência de bens materiais pode fortalecer a identidade pessoal, ajudando as pessoas a se valorizarem por quem são, e não pelo que possuem.
O economista Allan Couto recomenda que quem deseja adotar o "low buy" comece estabelecendo um orçamento mensal para compras não essenciais. "É importante definir prioridades e entender a diferença entre necessidade e desejo. Isso ajuda a evitar compras por impulso", orienta. Ele também sugere o uso de aplicativos de controle financeiro e a reserva de uma pequena quantia mensal, independentemente do valor. "O ideal é focar em qualidade e não em quantidade, além de priorizar experiências em vez de bens materiais", finaliza.