A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de permitir a venda direta de combustíveis pela Petrobras para grandes consumidores pode não trazer a redução de preços esperada e ainda gerar distorções no mercado. A avaliação é do economista Ivo Ferreira, que, em entrevista ao DM Anápolis, destacou que o real problema do custo dos combustíveis no Brasil está na desvalorização da moeda nacional e na carga tributária incidente sobre o setor.
“O principal motivo para o alto preço dos combustíveis é a desvalorização do real em relação ao dólar. Devido aos problemas nas contas públicas do Brasil, nossa moeda perde valor comparada ao dólar, o que nos faz pagar mais caro por produtos cotados nessa moeda, como o petróleo”, explicou. “A sugestão do presidente Lula de venda direta de combustíveis a grandes consumidores é uma ideia que pode inicialmente parecer boa para reduzir os preços, mas é crucial analisar as possíveis consequências”, completou.
O especialista alertou para o risco de interferências políticas caso a venda direta seja adotada sem critérios bem definidos. “Centralizar a venda na Petrobras para grandes consumidores pode criar um sistema de lobby, gerando outros problemas para a sociedade. Poderia haver controle de preços ou mecanismos artificiais usados pelo governo para benefício próprio, e não da população”, apontou.
Para reduzir os preços de maneira sustentável, Ferreira apontou três medidas que poderiam ser mais eficazes do que a venda direta. “A melhor forma de baixar o preço dos combustíveis seria aumentar a oferta no Brasil, pois a maior competitividade reduz os preços e melhora a qualidade dos produtos. Além disso, reduzir a carga tributária sobre os combustíveis é essencial, já que o governo arrecada muito em impostos e repassa poucos benefícios à sociedade. Por fim, e mais difícil, o governo precisa equilibrar os gastos públicos para fortalecer o valor da nossa moeda, o que nos faria pagar menos pelo petróleo”, cita.
A proposta de venda direta de combustíveis foi mencionada por Lula durante o lançamento do Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobras, no Rio de Janeiro. Segundo o presidente, o objetivo seria reduzir a influência de intermediários no preço final dos produtos como diesel, gasolina e gás de cozinha. A medida, no entanto, ainda não foi detalhada pelo governo nem há previsão de implementação.
Durante a agenda, Lula criticou os empresários donos de postos de combustíveis pelos altos preços cobrados. “O povo não sabe que a gasolina sai da Petrobras a R$ 3,04. Na bomba é vendida a R$ 6,49. Ou seja, é vendida pelo dobro. Cada estado e cada posto tem liberdade de aumentar na hora que quer. E os impostos pagos são do ICMS, que vão para os estados. E o diesel sai da Petrobras a R$ 3,77. O cara vai encher o taque do carro e paga R$ 6,20 o litro”, disse o presidente.