Cultura MÚSICA

Anápolis também é terra sertaneja e produz grandes talentos musicais

Daniel Cândido, Lucas Ramos e Rafael Andrade compartilham suas trajetórias e desafios na busca pelo sucesso na música

15/02/2025 08h00
Por: Lara Duarte
Foto: Piqsels
Foto: Piqsels

Anápolis, cidade conhecida por sua rica cultura e paixão pela música sertaneja, é o berço de muitos talentos que buscam espaço em um cenário musical cada vez mais competitivo. Entre os que têm se destacado estão Daniel Cândido, Lucas Ramos e Rafael Andrade. Cada um deles possui uma trajetória única, mas todos compartilham a paixão pela música e os desafios que enfrentam na cidade.

Daniel Cândido é um cantor e compositor anapolino que encontrou na música sua grande paixão desde a infância. “Minha família nunca teve ninguém profissional na música, mas eu sempre amei. Meu pai arranhava no violão, e isso me despertou o interesse”, conta. Apesar da paixão, ele nunca imaginou que seguiria carreira. Durante a pandemia, reencontrou o gosto pela composição e teve sua primeira grande oportunidade quando uma música sua foi enviada para a dupla Henrique & Juliano. A partir daí, sua trajetória ganhou força.

O compositor já teve músicas gravadas por grandes nomes, como Gusttavo Lima, Luan Santana, Ana Castela e Felipe Araújo. “A primeira vez que ouvi minha música sendo tocada em um bar foi inacreditável. A sensação de dever cumprido é indescritível”, relembra. Apesar do sucesso como compositor, Daniel também sonhava em cantar, o que se tornou realidade com a dupla Dan Cândido & Matheus. Agora, eles preparam o lançamento de um EP e assinaram contrato com a Sony Music.

Daniel Cândido canta em dupla e já tem contrato com gravadora firmado

 

Para Daniel, Anápolis tem um bom cenário para compositores, mas ainda enfrenta dificuldades na projeção de cantores. “A cidade tem muitos talentos, mas falta estrutura. Goiânia, por exemplo, tem mais bares e casas de show, o que facilita a visibilidade dos artistas”, explica. Ele acredita que, apesar do público anapolino ser receptivo, a falta de circulação de artistas para outras cidades dificulta o crescimento da cena local. “Se tivermos mais incentivo, Anápolis pode se tornar um polo musical tão forte quanto Goiânia”, completa.

Lucas Ramos, violonista, também iniciou sua carreira em Anápolis e, hoje, integra a banda do cantor Murilo Huff. “Comecei a tocar aos 13 anos e, aos 15, já fazia barzinhos. Não tive tempo de pensar em outra profissão”, comenta. O incentivo veio principalmente de seu avô, que sempre acreditou em seu talento. “Ele sempre me dizia que um dia eu estaria nos palcos grandes. Eu achava exagero, mas ele estava certo”, lembra.

Aos 17 anos, Lucas começou a viajar profissionalmente, passando por diferentes bandas até chegar ao cenário nacional. Sua transição para os grandes palcos aconteceu quando um empresário identificou nele o perfil de um músico interativo. “Já tinha experiência com outros artistas, mas, com o Murilo Huff, a visibilidade aumentou muito”, conta. Segundo ele, a rotina de shows e viagens pode ser exaustiva, mas compensa. “A gente passa mais tempo na estrada do que em casa, mas a emoção de tocar para milhares de pessoas faz tudo valer a pena”.
Para ele, tocar em uma banda grande trouxe aprendizados importantes. “O nível de exigência e pressão é maior, mas você se acostuma. Além disso, viajar pelo Brasil me fez conhecer diferentes culturas e estilos musicais”, afirma. Ele lembra que, no início, sentia uma grande responsabilidade ao subir no palco. “A gente precisa estar sempre no nosso melhor. O público percebe quando há dedicação”.

Lucas Ramos acompanha o cantor Murilo Huff e está estabelecido no ramo

 

Lucas acredita que Anápolis tem um grande número de músicos de talento, mas que muitos ainda precisam de oportunidades. “Conheço muita gente boa nos barzinhos, gente que não deve nada a músicos de bandas nacionais. O que falta é investimento e planejamento”, destaca. Ele também vê a cidade como um celeiro de talentos que, se bem aproveitados, podem se destacar no cenário sertanejo.

Rafael Andrade, outro nome forte nos barzinhos da cidade, começou sua trajetória aprendendo violão sozinho e ouvindo sertanejo com sua mãe. “Já toquei rock e gospel, mas o sertanejo sempre foi minha paixão”, diz. Hoje, ele tem mais de 20 anos de carreira tocando na noite anapolina. “A gente aprende muito tocando na noite. Você precisa se adaptar ao público e sentir o que eles querem ouvir”, comenta.

A rotina dos músicos locais é intensa. Rafael chega a fazer até três apresentações em um único dia. No entanto, viver exclusivamente da música ainda é um desafio. “Os cachês são baixos e a valorização dos músicos locais ainda é pequena. Precisamos tocar muito para conseguir um retorno financeiro satisfatório”, explica. Ele acredita que, apesar das dificuldades, a persistência é fundamental. “Se você ama o que faz, precisa continuar. A música é feita de altos e baixos”. 

 

Rafael Andrade é um dos sertanejos que tenta o sucesso e mostra talento nos barzinhos da cidade

Nos bares, o repertório é uma mistura entre clássicos e sucessos atuais. “As pessoas sempre pedem ‘Evidências’ e outras modas antigas. O sertanejo raiz tem uma força muito grande”, afirma Rafael. Ele percebe que o público anapolino gosta de apoiar os artistas locais, mas que o reconhecimento ainda é limitado. “Tem muita gente boa aqui. Precisamos de mais oportunidades para mostrar nosso trabalho para um público maior”.

“O público de Anápolis é bairrista. Eles abraçam e escutam as músicas dos cantores locais que se apresentam nos shows, e todos são amigos. Por ser uma cidade menor, todos são próximos e se conhecem, sem aquele distanciamento comum em cidades maiores”, diz Daniel. Para ele, a esperança é que, no futuro, a cidade tenha mais visibilidade e infraestrutura para apoiar seus talentos. Lucas compartilha dessa visão e acrescenta: “Anápolis é uma cidade cheia de talentos, especialmente na área musical, que é a minha área. Conheço muitas dessas pessoas, e muitos deles são meus amigos”. Já Rafael acredita que, mesmo com as dificuldades, o cenário sertanejo anapolino continua sendo um ambiente de grandes talentos. “O que nos move é o amor pela música, e isso nunca vai mudar”.

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.