A abertura de uma nova cratera na Rua Radial Sul, na Vila Goiás, trouxe à tona a precariedade do sistema de drenagem em Anápolis. Ao DM Anápolis, o engenheiro civil Clodoveu Reis, especialista em Engenharia de Saneamento, defende que a cidade precisa urgentemente de um Plano Diretor de Drenagem para solucionar os problemas estruturais.
"É preciso a gente pensar no plano diretor de drenagem, um plano audacioso como foi feito em Goiânia agora no ano passado. Foi entregue pela prefeitura de Goiânia um plano diretor de drenagem muito bom, que dá um norte para essas ações de intervenção, o mais urgente como fazer e depois fazer os projetos e executar", citou o especialista, que atuou na Saneago por 30 anos e é ex-secretário de Infraestrutura do município.
Casos semelhantes ao da cratera na Rua Radial Sul já foram registrados em diferentes pontos de Anápolis nos últimos meses. Em novembro de 2024, um grande buraco se abriu na Rua Barão do Rio Branco, no Centro, poucos dias após a conclusão de outro reparo na mesma via. Também foram notificadas ocorrências próximas à Avenida JK no mesmo mês e no trevo do Recanto do Sol, em dezembro.
Para Reis, os episódios evidenciam a fragilidade do sistema de drenagem e a necessidade de intervenções estruturais mais amplas para evitar que novos colapsos comprometam a mobilidade e a segurança da população. "Anápolis carece demais, pois é uma cidade super problemática com áreas de risco. Por mais que não temos favelas, já tivemos casos graves em avenidas como a Amazílio Lino e a Miguel João, que já são conhecidas pelos problemas durante períodos críticos de chuvas", destacou.
O engenheiro reforça, ainda, que a infraestrutura de drenagem precisa levar em consideração a bacia hidrográfica da cidade. "Tem toda a bacia do Antas, principalmente. Não é só o Antas, mas o Antas é o principal córrego da cidade que recebe praticamente todos os afluentes", pontuou.
As falhas na drenagem, conforme o especialista, são especialmente graves no Centro da cidade. "A gente vê muito aqui no Centro da cidade, esse quadrilátero da Eugênio Jardim até o terminal de ônibus na Xavier de Almeida, e pegando mais ou menos a 14 de Julho até a Contorno.
Esse quadrilátero central tem galerias de água pluvial que rompem, e quando vem uma chuva forte, ela lava tudo, desmorona tudo", explicou.
O engenheiro lembra que, além da drenagem deficiente, as redes subterrâneas do município são antigas e precisam ser substituídas. "O que acontece aqui no Centro é que temos três tipos de redes que se cruzam e que fazem a infraestrutura de saneamento: esgoto sanitário, água potável e galeria de água pluvial. Tanto as redes de água quanto de esgoto são da década de 50 para trás, muito antigas mesmo", enfatiza.
Clodoveu relatou que, ainda quando ocupava a Secretaria de Infraestrutura do município, a Saneago já trabalhava em um projeto para trocar essas tubulações. "São duas estruturas já defasadas que já passou da hora de trocar", completou.
REVITALIZAÇÃO
A Saneago confirmou que está pronta para iniciar a substituição da tubulação de esgoto na região central da cidade. O projeto já foi elaborado e deve entrar em fase de licitação nos próximos meses. Entretanto, a estatal destacou que, para garantir a eficiência da obra, é necessário que a Prefeitura de Anápolis execute, simultaneamente, a troca das galerias de águas pluviais, que não fazem parte da competência da companhia.
A estatal aguarda um posicionamento da Prefeitura para alinhar as intervenções. O vereador Rimet Jules (PT) confirmou que a demanda já foi levada ao secretário de Obras, Rone Evaldo, e que está sendo avaliada pelo Executivo Municipal. "Vão trocar a tubulação do Centro, mas a Saneago alertou que a prefeitura precisa fazer a parte dela na drenagem. Se isso não for feito junto, vamos desperdiçar dinheiro e enfrentar problemas logo depois", afirmou.
O projeto de revitalização do Centro de Anápolis, que está em fase de finalização, prevê um concurso público para selecionar propostas de reurbanização e valorização do patrimônio histórico. O edital está sendo elaborado pela Secretaria de Habitação e Planejamento Urbano, com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO).
Para Clodoveu, obras estéticas no Centro devem ser feitas apenas após a troca da infraestrutura subterrânea. "É um trabalho que vai dar muita dor de cabeça, muita preocupação, mas ele tem que ser feito. Só depois de trocar essas redes é que nós vamos poder revitalizar o Centro, fazer paisagismo, porque seria uma incoerência muito grande trabalhar por cima e deixar uma coisa que está totalmente carcomida debaixo da terra", afirmou.
A equipe técnica responsável pelo edital inclui especialistas em engenharia civil, meio ambiente, patrimônio e desenho urbano. As propostas serão avaliadas por uma comissão que levará em conta critérios como viabilidade técnica, impacto econômico e respeito ao patrimônio histórico da cidade.
Enquanto as tratativas avançam, moradores e comerciantes da região central continuam enfrentando transtornos com alagamentos e erosões. Para Clodoveu, a solução passa por um planejamento abrangente. "Já passou da hora de ter soluções mais definitivas", arrematou.