Os constantes aumentos no preço dos ovos têm impactado diretamente a população anapolina, que vem sentindo no bolso o efeito da alta dos alimentos básicos. Além dos consumidores que dependem do produto para sua alimentação diária, comerciantes da cidade também enfrentam dificuldades para manter seus negócios viáveis diante dos reajustes frequentes.
“Já subiu duas vezes só essa semana. Tudo tá subindo. Eu uso bastante, caixas e mais caixas. Já subiu duas vezes. Eu acho que teve um aumento... comparando, uma caixa de ovos que custava R$ 30, agora já tá em um valor muito maior. E isso sem contar que pode subir ainda mais”, desabafa Ana Paula.
A confeiteira, que atua há 12 anos no ramo em Anápolis, afirma nunca ter enfrentado uma crise tão severa. Segundo ela, nem mesmo na pandemia a situação foi tão difícil quanto agora. O aumento dos custos de produção está tornando inviável a manutenção dos preços acessíveis para os clientes, o que compromete sua lucratividade.
“Para falar a verdade, está muito complicado. Eu sou MEI, sou empreendedora aqui em Anápolis. Todo mundo tem o direito de subir os preços quantas vezes for preciso, mas quando chega até mim, que tenho que repassar para o consumidor final, eu não posso dobrar. O ovo subiu disparadamente, a farinha subiu, tudo subiu. Mas se eu aumento R$ 5, meus clientes viram bicho. E pra manter o mesmo lucro de antes, eu teria que dobrar o preço do bolo, o que não posso fazer. Então tá muito complicado. Eu estava até pensando em parar de fazer bolo porque não tá compensando”, conta.
Diante da situação, Ana Paula está buscando alternativas para manter seu negócio. A confeitaria, que antes produzia bolos elaborados para casamentos e festas, agora está focando em opções mais simples e acessíveis. “Estou repensando o que fazer. Hoje, eu estou na confeitaria há 12 anos e nunca passei por uma crise tão forte. Já teve crises, mas nem na época da pandemia foi tão difícil como agora. Estou tentando reduzir, modificar meu trabalho. Ao invés de fazer bolos de andar para casamentos, vou tentar focar em caseirinhos, tortinhas menores, sem decoração, mais simples. Porque o meu material, no final do dia, está saindo pelo mesmo preço do bolo, e não está compensando. Se eu aumento, não vendo o quanto deveria”, explica.
A empresária ainda destaca que outros insumos essenciais também estão mais caros, tornando o cenário ainda mais desafiador. “Tive que reajustar os preços dos bolos mais baratos em R$ 5, R$ 10, até R$ 15, e todo mundo reclamou. Mas o ovo aumentou, o trigo aumentou, leite em pó, chocolate, tudo. Até o papel, porque eu trabalho com topo de bolo, e o papel dobrou de preço. A menina que faz os topos de bolo já me avisou. Então está tudo saturado. Para não ficar sem trabalho, estou buscando outras alternativas dentro da confeitaria, mas a situação está complicada”, conclui.
O aumento do preço dos ovos também preocupa consumidores que dependem do alimento para sua dieta. “É um momento ruim para quem, como eu, depende dos ovos para a dieta de ganho de massa muscular. O aumento do preço e a falta do produto nas lojas estão me preocupando, pois não quero ter que reduzir meu consumo de ovos e prejudicar meu treino”, contou Breno Morais.
A alta no preço dos ovos não tem sido um problema apenas para os anapolinos. Conforme informações do jornal O Popular, os distribuidores de Goiás têm enfrentado dificuldades no abastecimento, recebendo volumes menores de ovos das granjas, o que indica uma escassez no mercado. Além disso, fatores como o aumento das exportações e o maior descarte de aves menos produtivas podem ter impactado a oferta do produto, contribuindo para a escalada de preços.
Marcos Café, presidente da Associação Goiana de Avicultura (AGA), explica que a crescente demanda por ovos, impulsionada pelo alto preço das carnes e pelo consumo cada vez maior do produto, tem pressionado os valores no mercado. Segundo ele, esse desequilíbrio entre oferta e procura é um dos principais motivos para os sucessivos reajustes.
De acordo com Divino Eterno da Silva, proprietário Distribuidora de Ovos Santa Clara, a escassez tem levado a aumentos semanais nos preços, chegando a até 50% de reajuste nas últimas semanas. "Quando estava sobrando ovo no mercado, o preço baixou muito. Agora, as granjas reduziram o plantel, a produção caiu e a procura continua alta", explica o empresário, que vende no atacado para estabelecimentos que são grandes consumidores, como restaurantes e panificadoras, mas também comercializa ovos no varejo.
O impacto já pode ser sentido pelos consumidores de Anápolis, que têm encontrado preços cada vez mais altos nas prateleiras e dificuldades para manter a compra de ovos como alternativa alimentar. Em alguns estabelecimentos, a caixa de ovos que antes era vendida a R$ 165 já alcançou R$ 215, um aumento significativo que tem gerado reclamações, mas ainda mantém alta a demanda pelo produto.