Anápolis ABANDONO

Uma a cada 25 crianças nascidas em Anápolis não têm nome do pai

Números mostram que abandono paterno ainda é realidade comum

03/02/2025 16h00 Atualizada há 1 semana
Por: Redação
Foto: Marcelo Casall Jr. / Agência Brasil
Foto: Marcelo Casall Jr. / Agência Brasil

A ausência paterna no registro civil continua sendo uma realidade preocupante em Anápolis. De acordo com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, a quantidade de crianças registradas sem o nome do pai mantém um patamar elevado nos últimos anos, refletindo um problema social persistente.

Em 2025, até o momento, foram registrados 384 nascimentos no município, dos quais 16 não contaram com a inclusão da paternidade, ou seja, 4,1% do total. Há a tendência de manutenção de percentual a 2024 quando, por exemplo, dos 5.917 nascidos, 279 foram registrados sem o nome do pai, ou seja, 4,7%. Situação semelhante ocorreu em 2023, quando 263 dos 6.109 bebês tiveram apenas o nome da mãe na certidão, ou seja, 4,3%.

Os números dos anos anteriores mostram que o problema tem se mantido constante. Em 2022, 268 crianças nasceram sem o reconhecimento paterno em um universo de 5.876 registros. Já em 2021, esse número foi de 235 entre os 5.822 nascimentos. Em 2020, houve 226 casos de ausência paterna entre os 5.829 registros.

Reconhecimento de paternidade

No Brasil, quando o pai está ausente ou se recusa a registrar o filho, o registro de nascimento pode ser feito apenas com o nome da mãe. Nesse momento, ela tem a opção de indicar ao cartório quem acredita ser o pai da criança. Com essa informação, o cartório encaminha o caso ao juiz responsável, iniciando um processo de investigação de paternidade.

Se o homem indicado reconhecer voluntariamente a paternidade após a solicitação judicial, o registro da criança é atualizado por meio de uma averbação, oficializando o vínculo paterno no documento.

Apesar da importância desse processo, os dados do Portal da Transparência do Registro Civil mostram que o reconhecimento posterior da paternidade ainda é raro em Anápolis. Em 2025, até o momento, nenhum registro foi alterado para inclusão do nome do pai. Em 2024, foram realizados apenas 16 reconhecimentos de paternidade, número que sobe para 41 em 2023. Já em 2022, somente dois pais formalizaram o reconhecimento de seus filhos. Nos anos de 2021 e 2020, nenhum reconhecimento foi registrado.

Pais ausentes, mães sobrecarregadas

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2022, as mulheres no Brasil dedicaram, em média, 21,3 horas semanais aos cuidados de pessoas e aos afazeres domésticos, quase o dobro do tempo registrado entre os homens, que foi de 11,7 horas. No Centro-Oeste, a diferença também é significativa, com as mulheres destinando 18,9 horas semanais a essas atividades, enquanto os homens dedicam, em média, 11,4 horas.

Esses números refletem a distribuição do trabalho doméstico e de cuidado no país, que permanece desigual. O levantamento demonstra a continuidade desse cenário ao longo dos anos, onde perece o reconhecimento da paternidade e a equidade na divisão das responsabilidades familiares.

Consequências psicológicas

De acordo com a psicanalista e psicopedagoga Andréa Ladislau, algumas crianças podem apresentar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo, bem como na elaboração de distúrbios de comportamento agressivos.

"Isso porque elas tendem a desenvolver sentimento de insegurança e também manifestar graves transtornos de ansiedade, já que a construção psicoafetiva apresenta deficiências. Além disso, elas também sofrem por não conseguirem desenvolver as habilidades adequadas para a convivência em sociedade, o que justifica a tendência a se isolar e não conseguir interagir de forma saudável com o outro", alerta a psicanalista.

Um outro fator importante, lembra a psicanalista, é a incapacidade de seguir leis ou respeitar autoridades, "pois as crianças com pais ausentes, especialmente as do sexo masculino, podem não conseguir se submeter a uma figura de autoridade, e como resultado disso podem se tornar rebeldes e adeptos da violação das regras, criando sérias consequências negativas para ela no futuro."

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