Os livros considerados pelo prefeito Márcio Corrêa (PL) como "abandonados" em um vídeo publicado nas redes sociais, na verdade, fazem parte da reserva técnica da Secretaria Municipal de Educação. O material estocado serve para atender novas matrículas, reposições e reforço escolar ao longo do ano letivo.
No vídeo, Márcio Corrêa interrompe um interlocutor que tenta explicar que os livros são sobras do ano anterior para reforçar o custo do material. No entanto, educadores apontam que a reserva técnica é uma prática comum para garantir que nenhum aluno fique sem material didático ao longo do ano.
Além disso, os exemplares armazenados incluem tanto os adquiridos pela Prefeitura quanto aqueles enviados pelo Governo Federal, que não foram escolhidos pelos professores da rede municipal e são utilizados apenas para recomposição escolar.
O vereador Alex Martins (PP), que foi secretário de Educação até o início de 2024, rechaçou desperdício. “Não são livros abandonados. São livros em estoque prontos para serem usados. Estão prontos para que o próprio prefeito os distribua”, afirmou. “Basta abrir os pacotes e entregar para as novas escolas que foram abertas. Unidades como Parque dos Pirineus, Summerville e Jardim Primavera. Além de haver uma reserva técnica, que é sempre recomendada”, completou.
Entre os livros em estoque, estão os kits do quinto ano, que incluem o material Atividade Resultado, desenvolvido especificamente para preparar os alunos para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). O exame, realizado pelo Ministério da Educação (MEC), mede o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e serve como principal referência para a qualidade do ensino no país. Com o fim do contrato com a editora FTD, que fornecia o sistema de ensino adotado pelo município, a tendência é que estudantes da rede municipal percam um direcionamento estruturado para a avaliação.
Durante a gravação, o prefeito também folheia um dos livros e menciona uma suposta inutilidade, mas o material em questão não foi comprado pela gestão anterior, e sim repassado pelo Governo Federal. No galpão, os únicos volumes adquiridos pelo município são aqueles identificados com a marca da editora FTD, responsável pela padronização do ensino na rede municipal.
O modelo anterior previa um conjunto de livros unificado para todas as escolas, o que permitia a troca de exemplares entre unidades em caso de necessidade. Com o encerramento do contrato e a adoção do material federal, cada escola passa a receber livros diferentes, o que deve dificultar a reposição e a continuidade do aprendizado dos alunos.
Além da perda da padronização, a decisão da nova gestão pode resultar em falta de livros em algumas unidades. Os exemplares enviados pelo Governo Federal não seguem a demanda específica da rede municipal e podem não ser suficientes para todos os alunos. Sem a reserva técnica, muitos estudantes podem ficar sem o material adequado ao longo do ano letivo, especialmente se a meta de abertura de novas 2.500 vagas for cumprida até dezembro.