Educação ESCOLA

Bullying deixa marcas e pais devem ficar atentos aos sinais, diz psicóloga

De acordo com especialista, diálogo, respeito e empatia são fundamentais para evitar agressões entre crianças e adolescentes

29/01/2025 16h00
Por: Redação
Foto: Freepik
Foto: Freepik

Com a volta às aulas, cresce a preocupação com a convivência entre os alunos e o risco de episódios de bullying. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 12% dos estudantes brasileiros de 13 a 17 anos já admitiram praticar algum tipo de agressão na escola, enquanto 23% relataram ter se sentido humilhados ou ofendidos pelos colegas pelo menos duas vezes.

O bullying se caracteriza por atos repetitivos de violência física ou psicológica com o objetivo de intimidar ou machucar alguém. A psicóloga Michelle Costa alerta para os impactos tanto para as vítimas quanto para os agressores. “Quem sofre bullying pode desenvolver fobia social, ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. Já quem pratica pode ter dificuldades em estabelecer relações saudáveis e apresentar comportamento agressivo na vida adulta”, explica.

O impacto do bullying vai além do ambiente escolar. Adolescentes que praticam essas agressões podem enfrentar problemas emocionais e até responder judicialmente em casos mais graves. Além disso, sentimentos como culpa e arrependimento podem prejudicar sua saúde mental no futuro. Por isso, combater o bullying desde cedo é essencial para evitar desdobramentos negativos ao longo da vida.

As principais motivações para provocações nas escolas, segundo a PeNSE, estão ligadas à aparência física. Cerca de 16,5% dos casos envolvem o corpo, 11,6% estão relacionados ao rosto e 4,6% dizem respeito à cor ou etnia. Esses dados reforçam a necessidade de educar crianças e adolescentes sobre respeito e aceitação das diferenças.

A prevenção ao bullying começa em casa. Michelle destaca que os pais desempenham um papel essencial nesse processo. “Ensinar desde cedo que comentários sobre características físicas ou sociais podem ferir o outro é fundamental. O respeito precisa ser um valor cultivado no ambiente familiar e reforçado na escola e em outros espaços sociais”, orienta.

A anapolina Tatiane Vargas, mãe de João Victor (12), Marília Gabrielly (10) e Luís Felipe (8), compartilha como lida com o tema em casa. “Eu sempre explico para eles que é muito importante me relatarem se estão sofrendo algum tipo de bullying ou agressão, porque isso pode trazer prejuízos futuros, principalmente na saúde mental. Também falo que, da mesma forma que machuca quando alguém coloca um apelido ou faz uma piada sem graça, eles não devem fazer o mesmo com os outros. Se percebo que estão mais acuados ou afastados dos colegas, sempre pergunto o que está acontecendo. Fico muito atenta a isso”, conta.

Tatiane ressalta ainda a gravidade do problema e a necessidade de abordá-lo de forma constante. “Acho fundamental conversarmos sobre bullying com as crianças, porque os impactos psicológicos podem ser enormes e, em casos extremos, levar ao suicídio. Machucar fisicamente é grave, mas quando fere internamente, é pior ainda. Precisamos estar atentos a isso”, alerta.

O relato de Victor Emanoel, de 29 anos, ilustra as sequelas que o bullying pode deixar mesmo na vida adulta. “Eu sofri bullying a minha adolescência inteira, e ela vinha da família, vinha dos amigos, das meninas que eu tinha interesse, ou seja, todas as pessoas praticamente. E eu posso te dizer que algumas pessoas levam numa boa, outras não. Eu sempre ouvi tudo calado, nunca consegui rebater a elas, nunca levei pro lado esportivo. E ela desencadeou em mim vários traumas, principalmente o trauma da comida. Eu achava que tudo ia me engordar, eu tinha medo de comer as coisas, e aí veio a bulimia, a anorexia, depois disso eu passei por essas fases. E eu usei isso como gás pra eu ser uma pessoa melhor hoje. Mas eu confesso que eu ainda vivo trauma até hoje. Medo de engordar, medo de, entendeu? Disso tudo. O psicológico abala bastante”, relata.

Segundo a psicóloga, além de ensinar valores como empatia e solidariedade, os pais devem estar atentos a sinais de que seus filhos podem estar sofrendo ou praticando bullying. Mudanças bruscas de comportamento, isolamento, medo de ir à escola ou irritabilidade constante podem ser indicativos de um problema maior. Manter um diálogo aberto e garantir que a criança se sinta segura para compartilhar suas experiências é um passo essencial na prevenção.

Outra forma de combater o bullying é incentivar atividades que promovam a colaboração e o respeito à diversidade. Jogos, leituras e dinâmicas que valorizam diferentes origens e habilidades ajudam as crianças a desenvolverem uma mentalidade mais inclusiva. “Quando há um ambiente de aceitação, as chances de conflitos diminuem e os alunos aprendem a conviver melhor uns com os outros”, destaca Michelle.

A profissional destaca que falar sobre diferenças de forma simples e acessível também é essencial. Ao abordar temas como etnia, classe social e deficiência, os pais devem reforçar valores positivos, mostrando que a diversidade enriquece a convivência e não deve ser motivo para discriminação. Isso contribui para a construção de uma sociedade mais respeitosa e colaborativa.

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.