Um recente estudo da plataforma Data.AI trouxe à tona uma realidade preocupante: os brasileiros estão cada vez mais conectados, passando em média cinco horas por dia no celular. Esse número coloca o Brasil na quinta posição no ranking global de uso de dispositivos móveis, levantando questionamentos sobre as consequências dessa intensa imersão digital.
No entanto, esse hábito pode estar comprometendo a produtividade e causando um desvio de prioridades, como aponta a psicóloga graduada pela UFG e especialista em ansiedade Débora Marques. “Cinco horas diárias representam um terço de uma jornada de trabalho. É um tempo significativo que poderia ser dedicado a atividades mais construtivas”, alerta a especialista.
Os impactos psicológicos do uso excessivo de smartphones são variados e alarmantes. A psicóloga destaca que o aumento da ansiedade, dificuldades de concentração, interrupção da qualidade do sono e uma constante sensação de urgência são apenas alguns dos efeitos colaterais. “A pessoa acaba se desconectando do momento presente, perdendo a qualidade nas interações sociais e nas relações interpessoais”, explica.
Além disso, o uso prolongado dos dispositivos pode levar a uma sobrecarga mental, fenômeno que a especialista descreve como “brainrot” ou podridão cerebral. A constante ativação do sistema de recompensa gera uma busca incessante por dopamina, reforçando comportamentos compulsivos. “As redes sociais muitas vezes alimentam a comparação excessiva, afetando a autoestima e favorecendo sentimentos de inadequação”, observa Débora.
A dependência do smartphone pode ser identificada por alguns sinais claros. Dificuldade em se desconectar, irritação ao ficar sem o aparelho e uso excessivo como forma de lidar com estresse são indicativos de que a relação com a tecnologia pode estar se tornando prejudicial. “É importante estar atento a essas mudanças, pois o celular não deve substituir responsabilidades e relações importantes”, enfatiza.
Débora também destaca a relação entre o uso excessivo de smartphones e problemas como ansiedade e depressão. “Esse uso pode ser tanto uma consequência de problemas emocionais quanto um fator que exacerba esses quadros”, explica. A exposição a conteúdos negativos e a interferência no sono são elementos que podem agravar a saúde mental.
Frente a esse cenário, a psicóloga sugere algumas estratégias para conter o uso excessivo dos dispositivos. “Estabelecer limites de tempo, criar períodos sem o celular, desativar notificações desnecessárias e substituir o uso do smartphone por atividades relaxantes são algumas das alternativas viáveis”, recomenda. A prática da “desintoxicação digital”, que consiste em reservar dias ou horários livres de tecnologia, também é uma maneira eficaz de recarregar a mente.
Refletir sobre a própria relação com o celular é um passo importante. “É fundamental entender se o uso do smartphone está servindo como uma forma de escapar de questões desconfortáveis”, ressalta Débora. Segundo ela, para aqueles que reconhecem esse padrão, a terapia pode ser uma ferramenta essencial para lidar com a dependência e suas consequências.