Com o início do ano letivo, pais e responsáveis em Anápolis, se preparam para garantir que seus filhos estejam prontos para a escola. No entanto, um aspecto crucial muitas vezes negligenciado é a saúde ocular. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), aproximadamente 23 milhões de crianças em idade escolar no Brasil apresentam dificuldades visuais que podem comprometer seu aprendizado e desenvolvimento.
Talyta Almeida, mãe do Felipe Almeida, de 8 anos, aluno da Escola Municipal Professora Lena Leão, relatou sua experiência ao descobrir que seu filho tinha problemas visuais. "Os primeiros sinais que eu notei foram sutis, como um pouco de estrabismo. Eu não tinha muito conhecimento, mas percebia que, sempre que tirava fotos dele, o olho parecia torto", explicou. A mãe só conseguiu notar a gravidade da situação quando as fotos revelaram o desvio ocular do filho.
Após a primeira consulta oftalmológica, o médico confirmou a necessidade do uso de óculos e do uso de um tampão para tentar corrigir o estrabismo. "Infelizmente, o tampão não funcionou e ele passou a usar óculos desde então", contou a mãe. Ela enfatiza que, embora não tenha percebido grandes mudanças imediatas, a consulta foi uma medida preventiva essencial.
A preocupação com o bullying na escola também pesou na decisão de Talyta. "Eu tinha certeza de que, se não fizesse a correção, ele iria sofrer bullying por ser vesgo. Para minha surpresa, ele se adaptou super bem aos óculos e nunca teve problemas de autoestima", disse. Essa experiência positiva ressalta a importância de intervenções precoces para a saúde ocular.
No entanto, a mãe expressou sua frustração com a falta de informações adequadas sobre saúde ocular. "Não acredito que haja informações suficientes disponíveis, nem por parte do governo nem dos profissionais de saúde. Vejo muitos médicos divulgando informações na internet, mas poucos oftalmologistas fazem esse trabalho de conscientização", desabafou.
Ela acredita que a dificuldade em perceber problemas oculares nas crianças é um desafio significativo. "Quando uma criança fica doente em outras áreas, os sintomas são mais claros. Já na saúde ocular, muitas vezes só percebemos quando o problema já está avançado", destacou. Isso torna primordial a realização de consultas oftalmológicas regulares.
A oftalmologista do CBCO Hospital de Olhos, Dra. Camila Ávila Geraissate, concorda com a mãe e alerta que muitos casos de problemas visuais passam despercebidos. "As crianças não conseguem expressar que têm dificuldades para enxergar, pois não sabem como é enxergar corretamente", explica. Ela recomenda que os pais fiquem atentos a sinais como dores de cabeça frequentes e a necessidade de se aproximar de telas.
Dados do projeto “Em Um Piscar de Olhos” mostram que, entre mais de 110 mil estudantes avaliados, 19% apresentavam algum problema ocular, e um número significativo desses alunos não fazia uso de óculos ou outros meios corretivos. Mariana, aluna do 3º ano do ensino médio do Colégio Adonai, compartilha sua experiência: "Eu percebi que precisava usar óculos e que tinha algum problema de visão na escola quando eu tinha de 5 a 7 anos, porque mesmo sentando na quarta cadeira da fileira, eu tinha uma dificuldade gigante de enxergar as letras do quadro e, às vezes, até mesmo as letras do meu próprio livro".
Ela ressalta a importância da correção visual, afirmando que "ajuda de uma maneira extraordinária, mesmo o grau não sendo muito grande. A diferença é muito perceptível para mim na hora da leitura, principalmente". No entanto, Mariana critica a abordagem das escolas, afirmando que "ao invés de incentivar e conscientizar os alunos e os pais sobre o uso correto dos óculos, eles optam por estratégias mais fáceis, como colocar os alunos que têm dificuldade de enxergar nas primeiras carteiras". Essa realidade evidencia a necessidade de um maior cuidado e conscientização sobre a saúde ocular nas instituições de ensino.
De acordo com a oftalmologista, pais e responsáveis devem estar atentos a sinais de alerta para problemas de saúde ocular em crianças. Dores de cabeça frequentes podem indicar esforço visual excessivo ou dificuldade em focar objetos. Crianças que se aproximam demais de telas ou livros podem ter problemas de refração, como miopia. Além disso, o hábito de esfregar os olhos constantemente pode indicar desconforto ocular ou alergias. Já a evasão de leituras ou tarefas visuais pode ser sinal de baixa visão. É essencial monitorar esses comportamentos para garantir a saúde ocular infantil.