Você já se pegou consumindo incessantemente notícias trágicas, sem conseguir desviar para conteúdos mais leves? Se a resposta é sim, você pode estar vivenciando o fenômeno conhecido como doomscrolling. Nos dias de hoje, ao navegar por veículos de notícias ou redes sociais, é quase impossível escapar de conteúdos que abordam desastres ambientais, conflitos armados, crises políticas e humanitárias, além de questões relacionadas à saúde pública. Esses temas, embora não sejam novos, ou consumidos em excesso, têm gerado um ambiente onde muitas pessoas se sentem obcecadas por informações negativas.
O termo doomscrolling refere-se à compulsão de buscar e absorver notícias ruins, um comportamento que ganhou destaque durante a pandemia da Covid-19, quando a cobertura da crise dominava os meios de comunicação. Em 2020, esse conceito foi reconhecido pelo Dicionário Oxford, resultante da combinação das palavras “doom” (ruína) e “scrolling” (rolar), ilustrando a prática de percorrer continuamente um feed repleto de conteúdos negativos. Recentemente, o termo voltou a ser relevante, especialmente em meio a tragédias climáticas, guerras e crises políticas, que continuam impactando a saúde mental de muitos.
Segundo o professor de psiquiatria Richard Mollica, da Universidade de Medicina de Harvard, o doomscrolling pode levar a um estado de vigilância extrema e obsessão pelo perigo. À medida que a pessoa consome mais conteúdo negativo, a necessidade de continuar essa prática cresce, resultando em níveis elevados de estresse e ansiedade. Esse vício pode se manifestar como uma preocupação constante com os eventos que estão sendo lidos, criando uma sensação de alerta e tensão, como se o perigo estivesse sempre à espreita.
Uma pesquisa publicada na revista Health Communications identificou que 16,5% dos 1.100 voluntários entrevistados relataram problemas de saúde mental, como estresse e ansiedade, que se intensificaram devido ao consumo excessivo de notícias negativas. Essa realidade reflete como o doomscrolling pode ter um impacto significativo na saúde emocional e física dos indivíduos.
A psicóloga Yasminne Fayad Takeda destaca a importância de se policiar diante dessa compulsão de consumir notícias negativas. "Estabelecer um limite para o consumo de notícias e filtrar as páginas que seguimos é essencial. Aqueles que já estão sofrendo com esse hábito precisam supervisionar-se e, se necessário, buscar ajuda profissional para auxiliar nesse processo", afirma.
Ela enfatiza que o equilíbrio é fundamental para a saúde mental. "Nós somos seres biopsicossociais, e precisamos verificar se estamos saudáveis em todas as dimensões da vida. Criar um equilíbrio saudável entre estar informado e cuidar da saúde mental requer atenção ao tipo de conteúdo consumido, às relações estabelecidas e à forma como lidamos com a tecnologia", explica.
Yasminne também observa que o ritmo acelerado da vida moderna contribui para o aumento da ansiedade. "O número de pessoas ansiosas no consultório tem crescido bastante. Muitas não têm o hábito de descansar ou reorganizar suas emoções, o que as leva a se perder da própria realidade. Por isso, é crucial o acompanhamento psicológico para ajudar na reorganização emocional", acrescenta.
Por fim, a psicóloga alerta para a necessidade de olhar para a própria realidade, em vez de se deixar levar por informações externas. "É importante perceber o que realmente funciona na nossa vida, ao invés de se comparar com a realidade dos outros. A conscientização é primordial. Ao ter consciência da própria realidade e dos efeitos das irrealidades, conseguimos melhorar nossos hábitos de consumo de notícias e, consequentemente, ter uma saúde emocional mais equilibrada".