Anápolis MERCADO IMOBILIÁRIO

Juros altos e inflação ameaçam construção civil em Anápolis

Presidente do Sinduscon critica políticas do governo federal e alerta para riscos de desaceleração no setor neste ano

16/01/2025 16h00
Por: Emilly Viana
Foto: Samuel Sousa/DM Anápolis
Foto: Samuel Sousa/DM Anápolis

O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Anápolis (Sinduscon), Luiz Antônio Rosa, não poupou críticas ao governo federal e à condução da política econômica nacional. Em entrevista ao DM Anápolis, Rosa alertou para os riscos que o aumento dos juros e a inflação desenfreada representam para o setor da construção civil. 

A preocupação é, sobretudo, com as novas normas para financiamentos imobiliários que entraram em vigor em dezembro e limitaram o acesso ao crédito. "No âmbito federal nós temos uma preocupação grande com as restrições que a Caixa Econômica fez agora", comentou. Com as mudanças, imóveis avaliados em mais de R$ 1,5 milhão ficaram fora do programa de financiamento, independentemente do valor que o cliente deseje financiar.

Outro gargalo é o patamar dos juros, que pegou de surpresa investidores e construtoras. "A Caixa aumentou os juros do financiamento imobiliário e já puxou os outros bancos para aumentar os seus financiamentos também, as taxas", destacou. O líder empresarial também mencionou o impacto da alta da taxa Selic e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no setor, que tem previsão de alta para este ano. Ele criticou a falta de controle sobre a inflação e alertou para os riscos de uma "tempestade perfeita" para o segmento.

Apesar das dificuldades no cenário macroeconômico, o presidente do Sinduscon avaliou que 2024 foi um ano positivo para a construção civil em Anápolis. "Nós tivemos um bom ano. A gente teve crescimento, teve melhorias, não teve nenhuma questão de desaceleração", afirmou.
No entanto, Rosa ressaltou que o ano terminou com "sinais de alerta", principalmente em relação à escassez de mão de obra e à perspectiva de aumento dos juros e da inflação. "A mão de obra hoje é um desafio gigantesco. Nós estamos com déficit de mão de obra na cidade. E esse déficit começou a aumentar em 2024", disse.

Ele destacou que a falta de profissionais qualificados tem levado as empresas a buscarem alternativas, como a industrialização das obras e o uso de mais equipamentos. "O maior problema de 2024 para nós que está sendo agora a gente vai continuar tendo. É o teste de mão de obra. [...] está nos induzindo a fazer obras mais industrializadas com mais com mais ferramentas e com mais equipamentos porque a mão de obra realmente pra cidade de Anápolis como tem o DAIA, como tem agroindústria pra gente é muito difícil", explicou.

Rosa também criticou a falta de profissionais qualificados na área e o movimento dos poucos trabalhadores especializados para outros setores. Ele informou que o Sinduscon tem se reunido com o prefeito Márcio Corrêa (PL) e com representantes do Senai para discutir formas de incentivar a formação de mão de obra para o setor. "Anápolis está tendo muita formação de mão de obra, mas às vezes não está ficando aqui, está indo embora", ponderou.

Informações atualizadas e detalhadas sobre o mercado imobiliário anapolino devem divulgados em relatório do Sinduscon em março. "A gente optou por fazer esse fechamento em março. A gente vai compilar todos os dados de outubro, outubro, dezembro, janeiro, fevereiro e jogando para março porque a gente vai conseguir ter uma linha de raciocínio", explicou Rosa.

Os dados incluirão informações sobre lançamentos, estoque de imóveis, perfil da demanda e preços. "Agora o que a gente tem de preocupação neste final de ano: a gente estava com bons lançamentos. Os números para a Anápolis são relativamente bons em questão de lançamento. Porém, o custo do metro quadrado nosso ainda não consegue acompanhar o de venda. Nós estamos no meio de Goiânia e Brasília. O nosso preço de construção é parecido com das duas cidades, mas o nosso preço de venda ainda é mais baixo", revelou.

NOVO ANO

Para 2025, a expectativa é de um ano desafiador para o setor da construção civil, com a necessidade de adaptação ao cenário econômico e às mudanças no perfil da demanda. Luiz Antônio Rosa destacou a importância da parceria com a gestão municipal para superar as dificuldades e garantir o crescimento do segmento. 

"A gente tem uma expectativa muito positiva com a nova gestão que fez uma abertura de comunicação com o setor, que chamou para poder conversar, para poder direcionar o que a gente quer que mude na cidade", afirmou.

O presidente aponta que a prioridade será cobrar a redução da burocracia para a aprovação de projetos e lançamentos imobiliários, além da abertura de um "canal direto com o setor" para discutir as demandas da construção civil. Ele disse já esteve com Márcio Corrêa após a eleição, em encontro no qual o prefeito abordou o projeto de construção de moradias populares. 

Além de um possível acordo com a Caixa e o recebimento de emendas parlamentares, o setor espera que Corrêa inicie diálogo com o Governo Estadual para trazer iniciativas da Agência Goiana de Habitação (Agehab) para a cidade. "A gente observou que a Agehab, por exemplo, não fez unidades a custo zero em Anápolis. A gente teve várias unidades a custo zero da Agehab em todo o estado. E Anápolis ainda ficou sem participar", citou.

Corrêa ainda tem como promessa de governo a construção de 10 mil casas subsidiadas no município. Para este ano, ele afirmou que poderia construir 2,5 mil casas com entrada 100% subsidiada e parcel em valor menor, entre R$ 300 e R$ 400, que poderiam trazer mais impacto positivo para o setor.

No fim do ano passado, o prefeito se reuniu com representantes da Caixa Econômica e de construtoras para alinhar os primeiros detalhes do programa Construindo Sonhos. Ainda não há detalhamento de como ele funcionaria, mas poderia abranger um possível subsídio da instituição financeira, a atuação da iniciativa privada e contrapartidas do Município. 

Em entrevista à Rádio Manchester, em novembro do ano passado, Corrêa prometeu que o programa seria lançado ainda no primeiro semestre deste ano. “Vamos lançar 2.500 casas já no próximo semestre”, disse à época.

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