Cultura HOMENAGEM

Anapolinos recebem maior honraria cultural de Goiás com o Troféu Jaburu

Muth Lopes, Valdson Ramos e Ludmilla Lima são homenageados por suas contribuições excepcionais em música, artes visuais e dança

12/01/2025 20h00
Por: Redação Fonte: Lara Duarte
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O Troféu Jaburu, a mais prestigiosa comenda cultural do estado de Goiás, será entregue a três talentosos anapolinos em uma cerimônia que celebra a riqueza e diversidade da produção cultural local. Muth Lopes, reconhecido pela sua contribuição à música, receberá a Medalha de Mérito Cultural 2023, enquanto Valdson Ramos, na área de artes visuais, e Ludmilla Lima, representando a dança, serão agraciados com os Diplomas de Destaque Cultural do Ano 2024.

A cerimônia de premiação está marcada para o dia 28 de janeiro, no Auditório Mauro Borges, em Goiânia, e promete ser um momento de grande orgulho para o cenário cultural de Anápolis. A entrega do Troféu Jaburu não apenas destaca o talento e a dedicação dos artistas, como também reforça a força da arte anapolina no cenário cultural goiano. 

Cada um dos homenageados possui uma trajetória notável, marcada por um impacto duradouro em suas respectivas áreas, contribuindo para o enriquecimento da identidade cultural da cidade. 

Conheça os artistas:

Muth Lopes

Músico, compositor e professor de violão com ênfase em harmonia, Muth Lopes é um verdadeiro ícone da música anapolina, e sua trajetória é um testemunho da rica tradição musical que emana dessa cidade.

"Me sinto imensamente honrado por essa premiação, não só por mim, mas pelo nosso povo e nossa cidade que sempre abrigou grandes talentos musicais", afirmou Muth. Ele destacou a importância da coletividade, estendendo a honraria a todos os professores e funcionários da Escola de Música de Anápolis, onde tem desempenhado um papel crucial na formação de novos músicos. 

Ao longo de sua carreira, Muth enfrentou os desafios de fazer arte em um país onde a cultura muitas vezes é subestimada. "Os desafios sempre são muitos quando se trata de fazer arte, não só no nosso estado, mas em todo o nosso país. Mas o amor em fazer sempre é maior", refletiu, citando o saudoso Chico Buarque: "O grande artista tem que sambar de cócoras sem tocar no chão". 

Em sua jornada musical, Muth conta que teve o apoio de diversos colegas de profissão anapolinos. "Vários músicos em Anápolis me serviram de ponte na minha trajetória", disse, mencionando o Grupo Quinteto Melodia e renomados violonistas como Reinaldo Reis, João Almeida e Dilermando Reis, carinhosamente conhecido como Dilé. Ele também reconheceu a influência do maestro Orestes Farinello, seu grande mestre de harmonia, que o ajudou a se destacar na Escola de Música de Anápolis.

As influências de Muth são tão diversas quanto sua carreira. “Meu pai, Sr. Alonso, tinha o maior acervo de discos e livros da nossa cidade. Sempre fui influenciado pelo violão instrumental brasileiro, o samba, a bossa nova, música latina, jazz, baião e diversos ritmos e estilos brasileiros”. Essa rica herança musical propiciou a Muth um vasto material para seu aprendizado e desenvolvimento artístico.

Ao longo de sua carreira, Muth teve a honra de trabalhar com grandes nomes da música brasileira, como Mestre Gamela, Bororó Felipe, Cristovão Bastos, Manassés Aragão, Zé Nogueira e muitos outros. "Foram experiências incríveis de onde consegui produzir meu CD 'Muth Instrumental', que rendeu vários prêmios na categoria de música instrumental", compartilhou. Sua participação em festivais, incluindo o FIGO, um festival internacional de música, solidificou ainda mais sua presença no cenário musical.

Valdson Ramos

A arte é um espelho da sociedade, e poucos a compreendem tão bem quanto Valdson Ramos. Natural de Formoso, mas radicado em Anápolis (GO), Valdson tem se destacado no cenário artístico local e nacional, especialmente através de sua colaboração com a Barranco Galeria. Sua trajetória é marcada por desafios, superações e uma profunda conexão com a cultura religiosa que permeia sua vivência.

"Eu me sinto visto, eu sinto que o meu trabalho está sendo visto e valorizado", afirma Valdson, refletindo sobre a importância do reconhecimento em sua carreira. Para ele, cada prêmio e cada elogio são a confirmação de que sua arte ressoa nas pessoas, algo que todo artista almeja.

Entretanto, o caminho até aqui não foi fácil. Valdson enfrentou a resistência quando anunciou a escolha de sua profissão. "Os maiores desafios que enfrentei na minha arte foram a aceitação, a princípio dos mais próximos", revela. Para garantir sua subsistência, ele também atua como professor no ensino fundamental e médio, uma escolha que, segundo ele, contribui bastante para sua vida artística.

Anápolis, sua cidade de adoção, tem sido um berço fértil para sua criatividade. "A decisão de continuar sendo artista partiu do que acontece em Anápolis", revela Valdson, destacando a crescente cena cultural da cidade. "Anápolis tem uma escola de arte municipal e diversos artistas reconhecidos nacionalmente e mundialmente." Eventos como o Salão Anápolis de Arte, que reúne talentos de todo o Brasil, têm contribuído para a visibilidade da cidade no mapa cultural.

A religiosidade é uma das principais fontes de inspiração para Valdson. "Desde criança, fui criado na cultura religiosa", conta ele, mencionando as festas e celebrações que moldaram sua visão artística. Essa vivência se traduz em suas obras, que buscam trazer à tona temas que transcendem as paredes da religiosidade e geram discussões sociais mais amplas. "O bônus que esses temas geram é uma discussão a nível muito maior do que só dentro da religiosidade", explica.

Um dos trabalhos mais significativos de Valdson é "Conhecereis A Verdade", que explora a dualidade entre o verdadeiro e o falso. "Esse trabalho leva a uma discussão muito ampla sobre a vida da atualidade. O que é verdade? Existe uma verdade absoluta?", questiona. Com uma peça que mistura uma pedra verdadeira e uma réplica quase idêntica, Valdson provoca o espectador a refletir sobre a natureza da verdade em tempos de desinformação.

"Eu gosto muito desse trabalho e é gratificante ver que agora faz parte do acervo do Museu de Artes de Anápolis", conclui, evidenciando o impacto que sua arte tem na sociedade.

Ludmilla Lima

Natural de Anápolis, Ludmilla começou sua jornada no mundo da dança aos 8 anos, quando ingressou na escola de dança Escola de Dança de Anápolis Mauricio Salles, onde se formou em balé clássico. Desde então, sua trajetória tem sido marcada por conquistas e um compromisso inabalável com a promoção da dança na região.

"Me sinto feliz e grata ao receber o Troféu Jaburu, pois percebo que estou trilhando o caminho certo. A cada movimento, busco fomentar a cultura da dança e o reconhecimento da profissão de bailarino e coreógrafo", afirma Ludmilla, celebrando a importância de seu trabalho para a comunidade.

Após concluir sua licenciatura em dança pela Universidade Federal de Goiás (UFG), ingressou na Companhia de Dança Klauss Vianna, levando sua arte para diversas cidades brasileiras. Em 2014, fundou a Plié Studio de Dança, onde continua a ensinar balé e jazz contemporâneo. 

A artista não hesita em promover a dança no cenário anapolino. No ano passado, trouxe grandes nomes para a cidade, como Caio Nunes e Jefferson Cassemiro para formação. "Meu objetivo é oferecer oportunidades de profissionalização para os bailarinos de Anápolis, valorizando também os figurinistas, cenógrafos e iluminadores envolvidos na cadeia produtiva", destaca.

Entretanto, a trajetória de Ludimilla não foi isenta de desafios. A pandemia da Covid-19, em 2020, trouxe dificuldades significativas, resultando na perda de 80% de seus alunos. "Foi um momento em que percebi que a dança não tinha a importância que deveria ter nas famílias. Dediquei-me a estudar e buscar leis de fomento para mostrar que a dança é fundamental na formação do ser humano", reflete.

A cultura de Anápolis, segundo Ludimilla, exerce uma influência profunda em suas criações. Seu primeiro espetáculo autoral, "Versões de Caixas", retratou a angústia e a felicidade de estar em casa durante a pandemia. "Busquei trazer bailarinas anapolinas para contar suas histórias através do movimento", explica. O próximo projeto, que ainda está em desenvolvimento, promete explorar ainda mais sua jornada pessoal e artística.

"Minhas criações são reflexos do cotidiano e das vivências que tenho na cidade. A dança é para todos, e é isso que busco mostrar em meus espetáculos", conclui Ludimilla, que se prepara para mais uma apresentação que promete encantar o público.

A comenda

O Troféu Jaburu é uma honraria concedida anualmente pelo Conselho de Cultura de Goiás, que reconhece pessoas ou entidades de destaque no universo cultural. A poetisa Cora Coralina foi a primeira homenageada pela comenda, em 1980, e desde então, o prêmio tem sido um símbolo de excelência e compromisso com a cultura no estado.

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