Goiás TRAGÉDIA

Fatores climáticos podem ter contribuído para queda de avião com goianos em Ubatuba

Aeronave, que saiu de Mineiros, enfrentavapista molhada no momento do pouso. Professor cita possíveis causas de acidente

10/01/2025 08h00 Atualizada há 1 semana
Por: Emilly Viana
Foto: Reprodução / Instagram
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Um acidente envolvendo um avião da família Fries, conhecida no agronegócio goiano, deixou uma pessoa morta e quatro feridas nesta quinta-feira (9), em Ubatuba, no litoral de São Paulo. A aeronave, um Citation Jet modelo 525, saiu de Mineiros, na região Sudoeste de Goiás, e caiu na Praia do Cruzeiro após enfrentar condições climáticas degradadas, com chuva e pista molhada, segundo informações da administração do aeroporto local. O piloto, Paulo Seghetto, não resistiu após ser retirado das ferragens em parada cardiorrespiratória. Entre os sobreviventes estão MireylleFries, o genro Bruno Almeida Souza e dois netos da família, além de uma pessoa atingida na orla, que sofreu fraturas. 

Em entrevista ao DM Anápolis, o advogado e professor de Direito Aeronáutico Georges Ferreira analisou os fatores que podem ter contribuído para a tragédia. Segundo ele, as condições climáticas e a infraestrutura do aeródromo são elementos centrais que precisam ser apurados. “Condições como pista molhada e clima degradado afetam diretamente a performance da aeronave. Não houve, até o momento, informações de falhas reportadas pelo piloto, o que direciona a investigação para fatores externos, como o ambiente operacional e a infraestrutura do local”, explicou. 

O acidente ocorreu em um aeródromo utilizado pela aviação geral, com infraestrutura mais limitada em comparação aos aeroportos comerciais. A Rede Voa, que administra o local, informou que o avião enfrentava condições meteorológicas adversas, incluindo chuva e visibilidade reduzida. O especialista destacou que essas características exigem mais cautela e comunicação entre os pilotos que utilizam pistas sem torre de controle. 

“Em pistas menores, a coordenação depende muito da comunicação entre os pilotos e dos sistemas automáticos, como o Metar, que atualiza as condições meteorológicas. Além disso, pistas sem torre de controle carecem de suporte imediato em situações críticas, o que aumenta a responsabilidade dos operadores. Apesar disso, as condições dessas pistas são fiscalizadas periodicamente para garantir segurança”, explicou. 

De acordo com o advogado, o Brasil é o segundo país no mundo em número de pistas de aviação geral, o que exige um sistema de manutenção rigoroso. “Esses aeródromos precisam estar em conformidade com normas de segurança, como áreas de escape, cercas de proteção contra animais e drenagem adequada. No entanto, em situações como essa, a combinação de fatores climáticos e operacionais pode ser determinante para o desfecho de uma operação”, acrescentou. 

AERONAVE

A aeronave envolvida, fabricada pela Cessna em 2008, é considerada altamente confiável e estava com a manutenção em dia, de acordo com os registros da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O professor destacou que esse modelo, classificado como “Light Jet”, é amplamente utilizado e segue critérios rigorosos de certificação. 

“A aeronave precisa estar com todas as manutenções realizadas conforme o manual e as exigências da ANAC. Caso contrário, ela não pode operar. Além disso, o piloto precisa estar com sua habilitação renovada e comprovar proficiência em condições específicas. Tudo isso é verificado antes de qualquer voo”, apontou. 

Sobre o piloto, Paulo Seghetto, o especialista afirmou que o histórico de formação e as comunicações realizadas durante o voo serão peças-chave na investigação. “O Cenipa buscará analisar cada detalhe, desde o plano de voo aprovado até a comunicação com os centros de controle e o desempenho do piloto no momento da aterrissagem”, disse. 

INVESTIGAÇÃO

A responsabilidade pela apuração das causas do acidente cabe ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB). O órgão já iniciou o trabalho no local do acidente, utilizando técnicas específicas para coletar dados e preservar evidências. 

“O Brasil possui uma das melhores equipes de investigação aeronáutica do mundo. O Cenipa não busca atribuir culpados, mas identificar fatores contribuintes e determinantes para prevenir futuros acidentes. Cada etapa, desde o desempenho da aeronave até o clima e o histórico do piloto, será analisada com rigor”, ressaltou o especialista. 

Segundo ele, a investigação não se limita a identificar erros ou negligências. “O objetivo é levantar todos os dados possíveis para entender o que aconteceu e evitar que situações semelhantes se repitam. Isso inclui depoimentos de envolvidos, análises de manutenção, e, em casos onde houver caixa-preta, a avaliação dos registros. No caso desse modelo, a aeronave não possui caixa-preta, mas as comunicações serão fundamentais para reconstruir os últimos momentos do voo”, citou. 

VÍTIMAS

A família Fries, proprietária da aeronave envolvida no acidente em Ubatuba, é amplamente reconhecida no agronegócio goiano. Produtores de soja, eles mantêm um projeto de replantio de árvores nativas que já resultou em mais de 2 milhões de mudas na região onde está localizada a fazenda da família. A propriedade, situada no interior de Goiás, é ainda o local de nascimento do Rio Araguaia.

No acidente, estavam a bordo MireylleFries, filha do produtor rural NelvoFries, o genro Bruno Almeida Souza e dois netos do casal. Todos sobreviveram ao impacto, apesar de apresentarem ferimentos, e foram resgatados por equipes de emergência. O piloto Paulo Seghetto, que estava no comando da aeronave, não resistiu e morreu após ser retirado das ferragens em parada cardiorrespiratória. A aeronave havia partido de Mineiros, cidade de origem da família, com destino ao litoral paulista.

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