Um acidente envolvendo um avião da família Fries, conhecida no agronegócio goiano, deixou uma pessoa morta e quatro feridas nesta quinta-feira (9), em Ubatuba, no litoral de São Paulo. A aeronave, um Citation Jet modelo 525, saiu de Mineiros, na região Sudoeste de Goiás, e caiu na Praia do Cruzeiro após enfrentar condições climáticas degradadas, com chuva e pista molhada, segundo informações da administração do aeroporto local. O piloto, Paulo Seghetto, não resistiu após ser retirado das ferragens em parada cardiorrespiratória. Entre os sobreviventes estão MireylleFries, o genro Bruno Almeida Souza e dois netos da família, além de uma pessoa atingida na orla, que sofreu fraturas.
Em entrevista ao DM Anápolis, o advogado e professor de Direito Aeronáutico Georges Ferreira analisou os fatores que podem ter contribuído para a tragédia. Segundo ele, as condições climáticas e a infraestrutura do aeródromo são elementos centrais que precisam ser apurados. “Condições como pista molhada e clima degradado afetam diretamente a performance da aeronave. Não houve, até o momento, informações de falhas reportadas pelo piloto, o que direciona a investigação para fatores externos, como o ambiente operacional e a infraestrutura do local”, explicou.
O acidente ocorreu em um aeródromo utilizado pela aviação geral, com infraestrutura mais limitada em comparação aos aeroportos comerciais. A Rede Voa, que administra o local, informou que o avião enfrentava condições meteorológicas adversas, incluindo chuva e visibilidade reduzida. O especialista destacou que essas características exigem mais cautela e comunicação entre os pilotos que utilizam pistas sem torre de controle.
“Em pistas menores, a coordenação depende muito da comunicação entre os pilotos e dos sistemas automáticos, como o Metar, que atualiza as condições meteorológicas. Além disso, pistas sem torre de controle carecem de suporte imediato em situações críticas, o que aumenta a responsabilidade dos operadores. Apesar disso, as condições dessas pistas são fiscalizadas periodicamente para garantir segurança”, explicou.
De acordo com o advogado, o Brasil é o segundo país no mundo em número de pistas de aviação geral, o que exige um sistema de manutenção rigoroso. “Esses aeródromos precisam estar em conformidade com normas de segurança, como áreas de escape, cercas de proteção contra animais e drenagem adequada. No entanto, em situações como essa, a combinação de fatores climáticos e operacionais pode ser determinante para o desfecho de uma operação”, acrescentou.
AERONAVE
A aeronave envolvida, fabricada pela Cessna em 2008, é considerada altamente confiável e estava com a manutenção em dia, de acordo com os registros da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O professor destacou que esse modelo, classificado como “Light Jet”, é amplamente utilizado e segue critérios rigorosos de certificação.
“A aeronave precisa estar com todas as manutenções realizadas conforme o manual e as exigências da ANAC. Caso contrário, ela não pode operar. Além disso, o piloto precisa estar com sua habilitação renovada e comprovar proficiência em condições específicas. Tudo isso é verificado antes de qualquer voo”, apontou.
Sobre o piloto, Paulo Seghetto, o especialista afirmou que o histórico de formação e as comunicações realizadas durante o voo serão peças-chave na investigação. “O Cenipa buscará analisar cada detalhe, desde o plano de voo aprovado até a comunicação com os centros de controle e o desempenho do piloto no momento da aterrissagem”, disse.
INVESTIGAÇÃO
A responsabilidade pela apuração das causas do acidente cabe ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Força Aérea Brasileira (FAB). O órgão já iniciou o trabalho no local do acidente, utilizando técnicas específicas para coletar dados e preservar evidências.
“O Brasil possui uma das melhores equipes de investigação aeronáutica do mundo. O Cenipa não busca atribuir culpados, mas identificar fatores contribuintes e determinantes para prevenir futuros acidentes. Cada etapa, desde o desempenho da aeronave até o clima e o histórico do piloto, será analisada com rigor”, ressaltou o especialista.
Segundo ele, a investigação não se limita a identificar erros ou negligências. “O objetivo é levantar todos os dados possíveis para entender o que aconteceu e evitar que situações semelhantes se repitam. Isso inclui depoimentos de envolvidos, análises de manutenção, e, em casos onde houver caixa-preta, a avaliação dos registros. No caso desse modelo, a aeronave não possui caixa-preta, mas as comunicações serão fundamentais para reconstruir os últimos momentos do voo”, citou.
VÍTIMAS
A família Fries, proprietária da aeronave envolvida no acidente em Ubatuba, é amplamente reconhecida no agronegócio goiano. Produtores de soja, eles mantêm um projeto de replantio de árvores nativas que já resultou em mais de 2 milhões de mudas na região onde está localizada a fazenda da família. A propriedade, situada no interior de Goiás, é ainda o local de nascimento do Rio Araguaia.
No acidente, estavam a bordo MireylleFries, filha do produtor rural NelvoFries, o genro Bruno Almeida Souza e dois netos do casal. Todos sobreviveram ao impacto, apesar de apresentarem ferimentos, e foram resgatados por equipes de emergência. O piloto Paulo Seghetto, que estava no comando da aeronave, não resistiu e morreu após ser retirado das ferragens em parada cardiorrespiratória. A aeronave havia partido de Mineiros, cidade de origem da família, com destino ao litoral paulista.