Os ataques de 8 de janeiro de 2023, que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, completam dois anos nesta quarta-feira (8). Para o cientista político Lehninger Mota, o episódio deixou claro que no Brasil não há espaço para governos fora do espectro democrático.
Em entrevista ao DM Anápolis, o analista destacou que o país tem instituições sólidas e uma população majoritariamente comprometida com a democracia. “A grande lição é que aqui no Brasil não há espaço para golpes, seja de direita ou de esquerda. Temos uma população democrática e instituições com capacidade de segurar qualquer arroubo de extremistas”, declarou.
Mota apontou que a resposta institucional e o debate público após os ataques reforçaram a importância de preservar o voto popular e respeitar a Constituição. “Cada vez mais, as pessoas tomam consciência de que a política precisa ser resolvida no campo democrático. O Brasil mostrou que não há espaço para rupturas”, disse o cientista político.
Uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada na última segunda-feira (6), revelou que 86% dos brasileiros desaprovam os ataques de 8 de janeiro. Realizado entre os dias 4 e 9 de dezembro de 2024, o levantamento entrevistou 8.598 pessoas e possui margem de erro de um ponto percentual, para mais ou para menos. Entre os entrevistados, apenas 7% declararam apoiar os atos, enquanto outros 7% não souberam ou preferiram não opinar.
CENÁRIO LOCAL
Em Goiás, o impacto dos ataques de 8 de janeiro ressoou de forma considerável, especialmente em cidades como Anápolis, que teve participação ativa nos movimentos de insatisfação com o resultado das eleições presidenciais de 2022. Protestos no estado começaram logo após o segundo turno, com bloqueios de rodovias como a BR-060, onde manifestantes incendiaram pneus e interditaram completamente o trânsito no perímetro urbano de Anápolis. A rodovia só foi liberada após decisões judiciais e negociações prolongadas com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Além disso, Anápolis foi palco de um acampamento na entrada da Base Aérea, onde manifestantes contrários ao resultado das urnas permaneceram por dois meses. O local, desmobilizado apenas em janeiro de 2023, abrigou defensores da intervenção militar e exibiu cartazes com mensagens pedindo a atuação das Forças Armadas contra o que chamavam de "comunismo".
O cientista político Lehninger Mota destacou a inclinação conservadora de Anápolis como um fator relevante para a adesão local a esses movimentos. “Anápolis tem uma tradição mais à direita, algo que se intensificou nos últimos anos com a polarização política. Embora já tenha tido prefeitos de esquerda, como Antônio Gomide, o cenário atual mostra um alinhamento maior com pautas conservadoras, especialmente em eleições presidenciais”, explicou. Para Mota, a força da direita em Goiás foi comprovada com o desempenho do PL em várias cidades, incluindo Goiânia, onde Fred Rodrigues surpreendeu ao crescer expressivamente no segundo turno.
MANIFESTAÇÕES
A CUT Goiás e membros do Partido dos Trabalhadores (PT) organizam uma caravana para participar de um ato em Brasília, nesta quarta-feira (8), em defesa da democracia e da soberania popular. A ação busca reforçar a importância do voto como instrumento fundamental da democracia e lembrar os dois anos dos ataques.
Segundo os organizadores, o ato contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e terá caráter simbólico, com o objetivo de reafirmar o compromisso das forças políticas com a Constituição e a resistência democrática. A saída de Goiânia acontece na manhã desta quarta-feira, com retorno ao final das atividades na capital federal.
Por outro lado, o grupo Associação de Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav) planeja um evento paralelo, em contraponto às ações do governo federal. A Asfav organizou uma live de oito horas para marcar a data. A transmissão promete informações atualizadas sobre os presos e discussões sobre o projeto de lei que pede a anistia dos envolvidos nos ataques.