A saúde mental no Brasil enfrenta um cenário preocupante, de acordo com o relatório do Global Mind Project, que apontou que os índices globais de bem-estar emocional permaneceram inalterados desde a pandemia. O país, ao lado da África do Sul e do Reino Unido, ocupa a última posição no ranking, com 34% dos brasileiros relatando-se “angustiados” e “se debatendo”. Os jovens com menos de 35 anos são os mais afetados, de acordo com o levantamento. Em Goiás, a campanha Janeiro Branco surge como um movimento para promover a conscientização e o autocuidado emocional, especialmente nesse início de ano, um período tradicionalmente associado a recomeços e planejamento.
A campanha é um convite à reflexão sobre a saúde mental e emocional, segundo a psicóloga Aparecida Tavares. “Ela desperta em nós essa busca por um encontro genuíno com o nosso eu. Entender como nós funcionamos, compreender, identificar as nossas emoções e, através disso, entender o quanto somos seres de possibilidades”, explica.
A especialista destaca que cuidar da mente é um passo essencial para alcançar o equilíbrio integral. “Essa saúde mental nos proporciona também a saúde integral. Porque se eu cuido da mente, eu cuido do corpo. Se eu cuido da mente, eu consigo compreender o meu papel e o meu propósito na vida", aponta.
Janeiro, comumente marcado por resoluções de ano novo, é visto como um momento propício para reavaliar prioridades e estratégias de vida. Para Aparecida, esse período simboliza um ciclo de renovação e organização. “É uma oportunidade criada dentro de nós, de um novo ciclo, de proporcionar em nós atitudes que nos tragam bem-estar, que produzam em nós uma evolução. Esse início de ano é como você dá aquela faxina e faz uma análise daquilo que vai descartar. Só que a proposta não é um descarte de qualquer maneira, mas um descarte consciente. O que eu quero fazer diferente? Eu vou refletir sobre isso para desenvolver estratégias de poder fazer algo numa proposta de vida que promova bem-estar mental e espiritual", pondera.
ESTRATÉGIAS
Para que a saúde mental seja tratada de forma contínua e eficaz, Aparecida sugere cinco estratégias que podem ser incorporadas ao longo do ano. Ela destaca a importância de buscar conexão com a dimensão espiritual, por meio de práticas como meditação, mindfulness, yoga e contemplação, que ajudam no autoconhecimento e no entendimento do propósito de vida.
“Na dimensão espiritual, a gente tem essa válvula extra que nos ajuda a olhar pra vida entendendo que somos autores da nossa história. Existe a possibilidade de um entusiasmo, de uma força que vem do profundo de mim para poder fazer diferente", pontua a especialista.
Outro ponto essencial para a saúde emocional, segundo a psicóloga, é compreender as próprias emoções e o universo interno. “Nós normalmente somos educados para compreender o mundo externo. E pouco entendemos do nosso mundo interno. Por que eu sinto raiva ou alegria? O que posso descartar? O que aprendo aqui? Se não tem como mudar determinadas situações, como posso me adaptar a elas?”, reflete. Ela afirma que esse processo de racionalizar as emoções ajuda no autoconhecimento e na identificação de estratégias para lidar com desafios.
REDE DE APOIO
Aparecida também enfatiza o valor das relações interpessoais e da superação de dificuldades como parte do crescimento pessoal. Ela sugere que cada pessoa analise o momento em que está e avalie seus limites e possibilidades. “Quando aquilo ultrapassa o nosso limite, precisamos respeitar o limite do outro, de não querer mudar. Entenda onde você está, por que você está e por que precisa muitas vezes sair desse lugar. Quando a gente chega no topo da montanha, às vezes ficamos olhando para o precipício, mas a vida nos convida a olhar para o horizonte e entender a beleza do caminho percorrido", afirma.
Reservar tempo para atividades prazerosas e descanso é outra recomendação essencial. Para Aparecida, essas práticas ajudam a equilibrar as obrigações diárias e os momentos de lazer. “Todos nós merecemos voltar àquele lugar que gostamos tanto ou conhecer o lugar que sempre almejamos estar. Fazer coisas que nunca fizemos e nos permitir o descanso e o lazer. No lazer a gente vai descobrindo também os nossos hobbies, extrair o contato com aquilo que eu gosto”, sugere.
Por fim, ela convida as pessoas a refletirem sobre seu impacto no bem-estar coletivo, destacando a importância da responsabilidade social. “Analise se suas atitudes estão colaborando com o bem-estar coletivo. O consagrado filósofo Edgar Morin certa vez comparou o homem a um grão de areia. Nós somos apenas aquele grãozinho, mas fazemos parte de um grande universo. É aí que acontece a nossa responsabilidade social", conclui.