“Não me lancei com antecedência para barganhar outros cargos. Disputarei a Presidência em 2026. E para ganhar”. Essa é uma das primeiras frases do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), a entrevista-perfil concedida a O Globo, um dos mais importantes e respeitados jornais do Brasil. Caiado se mostra certo de que a eleição deste ano prova o poder da direita como catalisadora dos anseios da maioria da população e “que dela não há dono”.
O título e o olho da reportagem, por si, refletem a maneira como Caiado é percebido pelos analistas políticos nacionais e a grande imprensa do país: “Ronaldo Caiado, obstinado aspirante da segunda via da direita” e “Governador de Goiás desafia Bolsonaro e aposta em linha dura na segurança para se lançar ao Planalto em 2026”. O governador goiano confirmou o que havia anunciado há alguns dias, de que sua candidatura a Presidência da República será lançada em fevereiro, na Bahia.
A reportagem expõe a trajetória de vida de Caiado, desde seu nascimento, em 1949, em Anápolis, com passagem pelos cinco mandatos de deputado federal e um de senador, antes de assumir o governo de Goiás em 2019. “Do alto da aprovação de 86% dos goianos, registrada na pesquisa Genial/Quaest de abril, e de 75% na da Atlas/Intel de agosto, Caiado desconversa. Mas sabia que a vitória (depois confirmada) de seu candidato à prefeitura de Goiânia, o ex-deputado Sandro Mabel, também do União Brasil, era tarefa obrigatória para realizar o desejo de encerrar a trajetória política tal qual a iniciou, há três décadas e meia: como candidato à Presidência da República”.
A análise do jornalista aponta para uma possível candidatura a Presidente, em condições mais favoráveis que a enfrentada por Ronaldo Caiado quando disputou a eleição de 1989, tendo como adversários outros 21 pretendentes, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Afif Domingos (PL), Aureliano Chaves (PFL), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Ulysses Guimarães (PMDB) e Fernando Collor de Mello (PRN), eleito presidente. Caiado teve 0,68% dos votos naquela oportunidade.
BAHIA
Sobre o lançamento de sua candidatura a Presidência da República agendada pela a Bahia, segundo analisa do autor da matéria jornalística, obedece a realidade de “governar um estado com apenas cinco milhões de eleitores”. Caiado disse não ter o luxo, “como Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo)”, de poder esperar até 2026 para se decidir. “A festa está marcada na Bahia, onde conheceu sua segunda mulher, a carismática primeira-dama Gracinha, mãe de suas duas filhas mais novas, comandante dos projetos sociais do governo e possível candidata ao Senado daqui a dois anos”.
Na entrevista a O Globo, Caiado, ao falar de 2026, diz apostar na queda de popularidade de Lula e na saída do União Brasil do governo petista. Também acredita em um cenário com Tarcísio disputando a reeleição em São Paulo e em um primeiro turno de prévia informal da direita, com “um candidato com o sobrenome Bolsonaro”, Ratinho Jr. e, se não estiver inelegível, o ex-coach Pablo Marçal. “O Marçal pautou nacionalmente a disputa sem um case real para apresentar. Pois eu o tenho, e se chama Goiás”, disse o governador.
Segurança pública como marca de governo
A reportagem repercute as constantes participações do governador Ronaldo Caiado em debates e outras atividades no âmbito nacional [entre elas, recentemente, o festival Expert XP, em São Paulo, voltado a investidores da Faria Lima] para tratar do tema ‘segurança pública’, considerada a grande marca de seu governo. Caiado, nessas ocasiões, reforça a condição de Goiás que, afirma, é o único estado brasileiro onde facções criminosas não controlam “uma rua sequer”. O jornalista lembra de uma das frases que Caiado costuma dizer: “ou o bandido muda de profissão ou se muda de Goiás”.
“Para cabeças coroadas da política goiana, Caiado acerta ao oferecer resposta ao que as pesquisas revelam: a maior preocupação dos eleitores brasileiros hoje, em todas as faixas de renda, é a segurança pública. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), de 2018 para cá, quando começou seu governo, há queda de 85% em latrocínios, 56% em homicídios dolosos, 47% em roubo seguido de morte, 68% de furto de veículos, 44% de residências e 89% em furto de transeuntes”.
O texto também traz a contestação do governador Ronaldo Caiado à visão de que só baixou a violência por causa do crescimento dos chamados autos de resistência (mortes cometidas por policiais). “Conta que colhe o resultado de investimento maciço em tecnologia e a incrementação da Polícia Penitenciária. Uma das medidas que celebra é a gravação das conversas entre advogados e clientes nos presídios do estado, que, diz, impediu a comunicação interna das facções. Caiado cita o governo de Nayib Bukele, em El Salvador, como exemplo ao combate ao crime. Lá, cerca de 80 mil pessoas foram detidas sem ordem judicial”.
A reportagem expõe que Ronaldo Caiado tem sido voz constante contra as iniciativas do Planalto no combate ao crime. “Primeiro, tornou-se um opositor do uso de câmeras corporais pelos policiais, diretriz pregada pelo Ministério da Justiça. Além disso, chamou a PEC da Segurança do governo Lula de ‘cortina de fumaça para tirar o poder dos estados’”.
BOLSONARO
Sobre a relação de Caiado com o ex-presidente Jair Bolsonaro, a matéria fala sobre “guerra verbal”, com referência desde à crítica do governador ao que classificou de se chamar a Covid-19 de “gripezinha”, durante a pandemia, às trocas de farpas entre ambos, durante a campanha eleitoral deste ano em Goiânia. “Sobre a covardia, ele se retratou no dia seguinte. Mas sabe que ele acertou em relação ao rosnador? Cachorro que late, como diz o ditado, não morde, pode-se passar a mão à vontade nele. Agora, com o rosnador, como eu, é preciso mesmo ter cuidado”, relata o jornalista sobre a fala de Caiado.
Encerrado o processo eleitoral de 2024, vitória para Caiado. Os partidos da sua base conquistaram 179 das 246 prefeituras do estado. Em Goiânia, Sandro Mabel (UB), candidato apoiado por Ronaldo Caiado, derrotou Fred Rodrigues (PL), candidato apoiado por Bolsonaro. “[...] Eetamos todos cansados da polarização sem resultados práticos em nossas vidas. Os dois últimos governos falharam em unir o país. Não falharei”, disse o governador.
*Com informações do O Globo