As produções anapolinas ocupam posição de relevância no contexto do 28º Salão Anapolino de Arte, evento já consolidade no calendário cultural brasileiro, com início previsto para esta sexta-feira, 22, na Galeria de Artes Antônio Sibasolly. Os destaques locais são Cia Nudante, Diego Oliveira e Tatiana Susano. Eles estão incluídos na seleção de obras de 24 artistas de diferentes regiões do Brasil, escolhidos entre mais de 800 inscritos.
A professora, coreógrafa, pesquisadora, artista e produtora cultural da dança, Ludmila Machado de Melo, da Cia. Nudante – grupo experimental de teatro criado há cinco anos – disse ao DM Anápolis que o espetáculo ‘Le Tombe’, da Cia. Nudante, está entre as peças selecionadas para a 27ª Mostra de Teatro de Anápolis, que acontece de 27 a 30 de novembro, promovida pela Prefeitura de Anápolis e a Produtora Art Vídeo, em parceria com a Território Cultural.
Para o 28º Salão Anapolino de Arte, explica Ludmila, está selecionado o ‘Inorgânicas’, obra audiovisual, de vídeo e dança. Segundo ela, esse momento é importante para a Cia. Nudante, que alcança a aprovação de projetos e ganha visibilidade. A produtora analisa que, no percurso de formação da companhia, o artista, pesquisador, professor e jardineiro, com experiência em gestão e produção, doutor em Artes Cênicas, Kleber Damaso, é convidado a fortalecer o projeto de construção em arte contemporânea.
“Trazendo novos alicerces que evocam o pensamento estético e provocam uma reflexão, pautados numa dança-teatro da desconstrução, do gesto político e da ação poética. Dessa parceria surge a videodança “Inorgânicas”, que foi dividida em cinco episódios, também chamados antropias, termo cunhado para designar as ações utilizadas pelo homem de maneira desregrada e que afetam de forma insustentável o meio ambiente”, comenta.
Segundo Ludmila, a obra traz em si um conceito benjaminiano sobre a história, a alegoria e a arte conectada à ideia de ruína, destruição. Novos significados são dados para: o fragmento, o descartável, o lixo, o inorgânico, o objeto deslocado da linearidade de tempo-espaço, devolvendo nova função e dignidade aos destroços em meio à luz natural, à vegetação local, à água do rio e à natureza circundante.
DESAFIO
Ao acolher as margens do Rio Caldas como principal fonte de inspiração, explica Ludmila Machado, a Cia. Nudante recebe um desafio de Kleber Damaso, “que é de destacar o potencial da catástrofe da antropia e, também, uma solução: devolver o verde ao verde, no sentido de discutir a urgência do fortalecimento do simbioceno e revolver os padrões já antigos de uma atuação antropocênica no mundo”.
Nesse percurso poético, salienta, é experimentada uma forma de composição coreográfica que está sendo atualmente discutida nas artes da cena como ecoperformance. Na junção da sensibilidade de um coreógrafo e diretor artístico, experiente e inovador como é Damaso, de performers pensadores e reconfiguradores das noções teatrais mais tradicionais como são Ludmila Machado e Danilo Leão, e de um artista audiovisual atento, criativo e tecnicamente disponível à novas formas de captura das imagens, como é Rafael Ferraz, é que se tem como resultado o universo em formato de videodança: Inorgânicas.
COLETIVO
Kleber Damaso revela que as primeiras vontades que insurgiram da parceria inédita proposta por Ludmila, Danilo e Rafael, “foram de engravidar o tempo, no sentido de se permitir encontrar, sentir e pensar, para gestar algo coletivamente, colaborar, de início, com o possível que eclode a partir da concretização da casa lúdica - um espaço aconchegante, telúrico, com cheiro e cor de terra, surpreendentemente mágico”.
Esta percepção, analisa Damaso, é também inclinada às invenções, às experimentações, por abrigar e projetar sonhos de criações múltiplas. “Daí começaram a brotar as elucubrações sobre o contexto, o próprio compromisso em durar nos estados investigativos, isso que é proporcionado pelas imersões e residências artísticas, de expandir o tempo e o espaço das criações para a ideia de convívio, ou de permanecer para coabitar corpos, lugares e questões, nos levou aos desafios de refletir sobre o entorno: uma área de proteção permanente (APP) que surge a partir de um loteamento familiar, sobretudo, do amor e do desejo de estar perto e de ser parte daquela natureza”, explica.
RIO CALDAS
Segundo Damaso, essa área está nas proximidades da mata ciliar que acompanha, protege e filtra as margens do Rio Caldas, que tem vazão média de 6,72 m³/s, nasce no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) e flui mais de 100 km, para então desaguar no Rio Meia Ponte. “Ao caminhar dentro do rio e às margens daquele pequeno resto de cerrado que acompanha seu curso, torna-se indispensável que, mesmo diante das nossas limitações, o gesto ou os pequenos gestos cabíveis como dispositivos de composição dessa dança audiovisual, devem coincidir ou ao menos considerar os desejos daquela paisagem, e contribuir com sua recuperação”.
Por fim, Kleber Damaso conclui que a decisão coletiva de despoluir, colocando em movimento os entulhos acumulados e parcialmente decompostos às margens do rio, “nosso gesto, então, se expande como ato performativo que intercepta e atravessa o público e o privado, o político e o doméstico, o global e o local, os pensamentos e os movimentos, para que o rio cumpra, por direito, sua função elementar de existir como Rio Caldas”.
FICHA TÉCNICA ‘INORGÂNICAS’
Videodança da Cia. Nudante
Argumento e direção: Kleber Damaso
Performers: Ludmila Machado e Danilo Leão
Imagens: Rafael Ferraz
Edição: Kleber Damaso e Rafael Ferraz
Salão de Artes tem novidades e homenagens
A abertura da 28ª edição do Salão Anapolino de Arte, nesta sexta-feira, 22, contou com um coquetel e cerimônia de premiação às 20h, oferecendo ao público a oportunidade de visitar a mostra gratuitamente até o final de fevereiro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Este ano, a renomada curadora Teresa de Arruda, residente em Berlim e com vasta experiência no cenário da arte contemporânea, participará da abertura, trazendo novas perspectivas e promovendo diálogos entre temáticas locais e globais.
Nesta edição, o Salão homenageia o artista mato-grossense Gervane de Paula, reconhecido por suas obras que abordam críticas sociais, políticas e culturais. Segundo o curador Paulo Henrique Silva, essa homenagem expande o alcance e a representatividade do evento, que nas edições anteriores prestou tributo a artistas goianos.
Além de Gervane de Paula, o evento contou com a participação de 21 artistas e grupos de diversas partes do Brasil, além de representantes da produção local como Cia Nudante, Diego Oliveira e Tatiana Susano.
Para a secretária municipal de Integração, Eerizânia Freitas, o Salão consolida a cidade como “um polo cultural emergente e oferecendo oportunidades tanto para artistas locais quanto para nacionais”.
O 28º Salão Anapolino de Arte é uma iniciativa da Prefeitura de Anápolis, por meio da Secretaria Municipal de Integração e da Diretoria de Cultura, com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Anápolis e co-realização da Associação dos Amigos da Galeria Antônio Sibasolly. O evento foi coordenado por Paulo Henrique Silva, curador responsável pela seleção e organização das obras.