A Câmara de Anápolis aprovou por unanimidade, na sessão ordinária de terça-feira, 19, a Resolução que cria a Medalha José Borges, destinada a homenagear pessoas físicas ou jurídicas, que tenham desempenhado relevantes ações religiosas e sociais, com destaque nas áreas de filantropia e caridade. José Borges, que foi vereador constituinte em Anápolis, morreu no dia 6 de abriu deste ano, aos 91 anos de idade.
Apresentada pela Mesa Diretora, a Resolução foi de iniciativa do vereador Lisieux José Borges (PSB), filho de José Borges. A honraria, segundo a norma, será acompanhada da Medalha e de Diploma de Honra ao Mérito, a ser concedida anualmente pela Câmara, preferencialmente na semana do dia 20 de outubro, em alusão ao ‘Dia da Filantropia’.
Segundo a Resolução aprovada, serão agraciadas, a cada edição, 10 pessoas, durante sessão solene realizada no Plenário Teotônio Vilela, especialmente convocada para este fim. As indicações dos nomes das pessoas que receberão a medalha devem ser feitas até o dia 20 de setembro, pelos vereadores, em conjunto com a Mesa Diretora.
Lisieux José Borges lembrou que o lema de seu pai era ‘servir ao próximo, com fé e profundo amor fraternal’ e que ele dizia que, mais que um filantropo, era “um homem de caridade”. Sobre a trajetória de José Borges, ressaltou que ele foi um baluarte da Igreja Católica em Anápolis, tendo participado da implantação de praticamente todos os movimentos atualmente existentes na Igreja. Entre eles o Cursilho de Cristandade (MCC), o Encontro Conjugal, Curso de Noivos, Curso de Pais e Padrinhos, Treinamento de Liderança Cristã (TLC).
José Borges também ajudou a fundar as Comunidades Eclesiais de Base (CEB) em Anápolis e várias outras cidades, e contribuiu para a fundação das Conferências da Sociedade de São Vicente de Paulo em pelo menos 25 cidades. “Ele foi um dos primeiros a atuar como [Ministro Extraordinária da Eucaristia] no auxílio aos padres”, disse Lisieux. Os vicentinos atuam assim, com caridade, sob o lema “não mostrar, mas deixar sem visto”, para que as pessoas se engajem na sociedade.
DENTISTA PRÁTICO
Em uma de suas manifestações de caridade, contou Lisieux durante a votação da Resolução em plenário, José Borges, que era dentista prático, atendia os internos do Leprosário. Na época, no exercício de seu ofício, Borges já usava luvas. Durante um dos atendimentos, um hanseniano lamentou ao dentista prático os atos de sectarismo que existiam na sociedade em relação aos conhecidos como leprosos. “As pessoas nos rejeitam”, disse. Então, imediatamente José Borges tirou as luvas, para demonstrar que não tinha qualquer sentimento de asco, mas, sim, de amor e caridade.
José Borges também trabalhava como dentista prático em outras cidades. Conta Lisieux que, nas cidades aonde ele chegava, normalmente fazia atendimentos às quartas feiras e, no restante da semana, fazia caridade aos pobres. O pagamento pelo trabalho de dentista recebida em doações de víveres, da parte de pequenos horticultores, chacareiros, trabalhadores das roças. “Ele chegava em casa abarrotado desses presentes”, disse Lisieux, que também relatou que seu pai levava indigentes para dentro de casa, para cuidar deles, dar banho e comida.
LEGISLATIVO
A Câmara Municipal, disse o vereador do PSB [que também é vicentino], teve uma importância relevante para José Borges, “aqui ele potencializou o seu trabalho de caridade”. Foram três mandatos consecutivos e, em um deles, foi vereador constituinte, ajudou a elaborar a Lei Orgânica do Município (Loma). “Contam jornalistas e vereadores que trabalharam com José Borges que ele foi o mais atuante na elaboração da Loma”, lembrou Lisieux.
O vereador João Feitosa (PP), também católico atuante, disse que José Borges dedicou sua vida ao bem, “deixou um legado de trabalho, simplicidade, sem juízo de valores, e foi um importante homem público”. O vereador Frederico Godoy (Agir) lembrou que, ainda quando era diretor social da Acia, conheceu José Borges que integrava a campanha de arrecadação de cobertores para doação às instituições de caridade.
Tanto Godoy, quando o presidente Dominguinhos do Cedro (PDT), colocaram suas indicações de medalha, em 2025, para que Lisieux as utilize para indicar nomes, já que no vereador do PSB conclui seu mandato em 31 de dezembro de 2024. O vereador Jean Carlos (PL), também ligado aos movimentos da Igreja Católica, disse que conheceu José Borges na campanha eleitoral de 2008. “Éramos da mesma chapa. Ele teve 2.200 votos, eu tibe 1.800, mas não conseguimos nos eleger. Tivemos mais votos que muitos dos que se elegeram naquele ano”, lembrou. Jean disse que Borges era “sereno, trazia tranquilidade, e tinha sabedoria humana e política, desprendido de vaidades e era evangelizador”.
TRAJETÓRIA
José Borges lançou um livro – ‘Graças a Deus e aos Amigos Meus’ – no qual conta sua trajetória de vida. Lisieux conta que seu pai teve tamanho reconhecimento de seu trabalho de caridade, que era mencionado como “uma verdadeira instituição”. Era o único CPF ou Pessoa Física cadastrado pela Prefeitura para participar das ações do setor público junto à sociedade na distribuição de doações e outras atividades de benemerência.
Em seus 91 anos de vida, dos quais a maior parte dedicados à Igreja, aos Vicentinos e à Caridade, José Borges foi missionário e fez trabalho apostólico na Paróquia São Sebastião. Na Sociedade São Vicente de Paulo encontrou o seu lugar no mundo. Também prestou serviços no Lar Monsenhor Pitaluga, atendendo crianças como dentista prático.
Foi colaborador no Leprosário, no Centro Comunitário Vicentino de Goiânia. Ajudou a construir casas para famílias carentes, na Vila de Idosos [no Centro Comunitário Frederico Ozanam, no Bairro São Joaquim]. Conseguiu o terreno e se empenhou na construção do Albergue Vicentino, no Jardim Goiano. Foi presidente do Asilo São Vicente de Paulo.