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Príncipe do Brasil afirma que disputa por mulher motivou a Proclamação da República

Descendente da família real diz que ato da proclamação foi inesperado e que surpreendeu a diversos setores da sociedade

18/11/2024 10h30 Atualizada há 2 semanas
Por: Orisvaldo Pires
Dom Bertrand, ao lado do historiador Jairo Leite e sua esposa, Cinara Itagiba, ao serem recebidos pelo príncipe do Brasil, em São Paulo, em julho deste ano
Dom Bertrand, ao lado do historiador Jairo Leite e sua esposa, Cinara Itagiba, ao serem recebidos pelo príncipe do Brasil, em São Paulo, em julho deste ano

Descendente da família imperial brasileira e pretendente ao extinto trono do Brasil, Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Orléans e Bragança e Wittesbach, príncipe imperial do Brasil, disse, em uma entrevista concedida ao historiador Jairo Alves Leite, em julho deste ano, em São Paulo, que a Proclamação da República do Brasil [também referida na história como ‘Golpe Republicano’ ou ‘Golpe de 1889’] teve como estopim os efeitos de uma disputa por uma mulher, a Baronesa do Triunfo, Maria Adelaide de Andrade Neves Meireles, filha do general e barão Andrade Neves.

A ‘diva’, como era conhecida à época, fora motivo de disputa amorosa entre o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca. Foi no início dos anos 1880, quando Deodoro assume o comando do Exército naquela província e se apaixona pela baronesa. Mas Maria Adelaide também era pretendida por outro galanteador, o senador Gaspar Silveira Martins. Essa disputa fez nascer no coração do Marechal Deodoro sentimento de ódio pelo concorrente. Segundo disse dom Bertrand de Orléans e Bragança ao historiador Jairo Leite, “essa inimizade precipitaria, nos bastidores do Império, o fim do regime já abalado por razões como o fim da escravidão, atritos entre governo e Exército e a frágil saúde de Dom Pedro II”.

Em seu depoimento, Dom Bertrand disse que, embora sejam enumerados o fim da escravatura e o envolvimento dos cafeicultores como algumas das razões para o golpe que resultou na proclamação da República, em 1889, “é preciso corrigir um erro histórico”. Segundo ele, embora houvesse descontentamento de uma minoria de fazendeiros, o que ocorreu foi “um golpe militar de uma minoria, pequena conspiradora no Rio de Janeiro, que tinha apenas um terço das guarnições”. Citou nomes como Benjamin Constant, Floriano Peixoto e Quintino Bocaiuva. Disse que o grupo dos ‘Positivistas’, que classifica como “uma falsa religião”, aproveitou a instabilidade para dar o golpe. 

Dom Bertrand explicou que o grupo aproveitou do descontentamento com parte do Exército, “aproveitou o momento de instabilidade para dar o golpe”. Ele citou uma declaração dada à época pelo ministro do Interior do 1º governo, Aristides da Silveira Lobo [confirmada por artigo escrito no dia 15, e publicado no Diário Popular de 18 de novembro de 1889]: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”. Dois meses depois, Aristides renunciou ao ministério, por “divergir profundamente do Marechal Deodoro da Fonseca”. 

Na entrevista ao historiador anapolino Jairo Leite, Dom Bertrand explica que o Marechal Deodoro da Fonseca era amigo do Imperador Dom Pedro II. Conforme uma carta creditada a Clodoaldo da Fonseca, sobrinho de Deodoro, o golpe não visava a proclamação da República, mas, sim, a mudança do gabinete. Havia desavença com os militares. Entretanto, disse Bertrand, “disseram mentirosamente para Deodoro da Fonseca que o imperador nomearia para presidente do Conselho o ministro Silveira Martins, tido como inimigo por Deodoro, devido à disputa pela Baronesa do Triunfo. “Era um ódio de morte”, disse Bertrand.

Foi então que, segundo ele, foi apresentado um documento por meio de Rui Barbosa, todos assinaram o documento e, Deodoro da Fonseca, revoltado ante a possibilidade de um inimigo assumir a presidência do Conselho, proclamou a República. Assim, conforme atesta Dom Bertrand de Orleans e Bragança na entrevista a Jairo Leite, “a Proclamação nasceu da briga por uma mulher”.

“Proclamação não deveria ser celebrada, porque foi golpe”

O historiador Jairo Alves Leite lembra que, em maio deste ano, Dom Bertrand de Orléans e Bragança visitou exposição em comemoração aos 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. A mostra foi realizada por Jairo, foi denominada ‘Anápolis conquista a América’, e mostrou as relações que a Anápolis teve com a presença das americanas, Helen Joan Lowelll, depois a Jeanet Gaynor. 

“Elas trouxeram os embaixadores em Anápolis, o cônsul, o pessoal da diplomacia na década de 1940”, disse. Segundo ele, Anápolis foi importante porque tinha uma rota internacional que fazia Rio de Janeiro a Miami, pela Aerovias Brasil, criada em 43. “E a gente está resgatando essa história e isso foi mostrado na exposição”, revelou o historiador.

Jairo Leite relatou que, na entrevista que lhe foi concedida, Dom Bertrand comentou que “a [Proclamação] da República não deveria ser comemorada, porque foi um golpe, um golpe militar, onde foi orquestrada por integrantes do Partido Republicano. Eles eram de uma linha positivista, que segue um filósofo francês chamado Auguste Comte [Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, que formulou a doutrina e ficou conhecido como ‘pai do positivismo’ e o ‘pai as Sociologia’]”. 

O historiador comenta ainda que Dom Bertrand, na entrevista, relata a história que os republicanos, insatisfeitos com a monarquia, além da abolição da escravatura, o militarismo estava insatisfeito com os seus baixos salários e, comandados por Floriano Peixoto, orquestram a derrubada do ministro, o Visconde de Ouro Preto, que era o ministro de Dom Pedro II.

Mas os republicanos, revela Jairo, vendo que essa derrubada resultaria apenas na troca de ministros, e que a monarquia continuaria, “jogaram algumas mentiras, falando que uma outra pessoa, que era um desafeto de Marechal Deodoro da Fonseca, seria esse novo ministro. Marechal de Deodoro não era republicano, ele tinha ideais monarquistas. Mas, não estava muito bem de saúde, e acabou sendo enganado por esses militares e, depois de feito isso, deram 24 horas para o imperador Dom Pedro II e sua família, se retirar do Brasil”. A retirada ocorrera na madrugada. 

O levante, diz Jairo, não era popular, “mas, sim, impulsionado pelos militares, que estavam insatisfeitos depois da guerra de Paraguai. Com os republicanos, que eram minoria, mais os ideais de Augusto Conte, positivista, e isso ocorreu”. Por fim, Jairo Alves Leite recorda que a Primeira República, “a República das Espadas, perseguiu muita gente, depois foram feitas várias tentativas e frustradas e quantas vezes foi mudada essa Constituição [...] acabou que o Brasil, que poderia ser um país de primeiro mundo, acabou sendo um país subdesenvolvido e hoje a gente paga com um governo que não controlada a inflação, o Brasil passa por dificuldades financeiras e infelizmente a gente tem um país onde o executivo não está fazendo o papel dele, o judiciário não está fazendo o papel dele e o legislativo federal da mesma forma. Então, a Proclamação da República não é para comemorar e, sim, ter um olhar crítico. O que ocorreu?”.

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