O vereador Jean Carlos (PL), reeleito para o quarto mandato, com 3.001 votos, se posicionou ante as perguntas do jornalismo da Manchester FM/DM Anápolis, com o mesmo vigor e desprendimento comumente vistos em seus posicionamentos na tribuna do legislativo. Perguntado se, agora na base de apoio ao prefeito, terá liberdade para divergências, disse que não muda suas convicções e que “o administrador, o chefe do executivo, não pode ficar refém só de aplausos cegos”. Disse que vê no prefeito eleito Márcio Corrêa a maturidade, equilíbrio e conhecimento necessários para comandar uma cidade com as dimensões e necessidades de Anápolis. E disse, também, que seu nome está à disposição, entre os demais da base de apoio, para pleitear a presidência da Câmara Municipal.
Terá liberdade, estando no PL, para divergir do prefeito?
Naturalmente. Eu não mudo minhas convicções. Eu espero, como eu sempre preguei, maturidade. Do legislativo, do executivo, para discutir. Porque às vezes eu posso estar errado divergindo. Mas às vezes, numa hora, a gente pode estar certo.
O senhor acredita que a postura precisa ser essa?
Eu acredito. O administrador, o chefe do executivo, não pode ficar refém só de aplausos cegos, não. É importante ter ponderações em determinadas circunstâncias. É um alerta, porque essas ponderações vêm ao encontro do sentimento da população. Então, quando a gente apontava uma divergência, digamos, na área da saúde, era um alerta para o administrador que não estava bem avaliado. Nós sabemos que administrar uma cidade do porte de Anápolis, com os gargalos que tem e ousar mudar um formato de gestão, é difícil. E ninguém é dono das razões. Assim, é importante ter maturidade para ouvir. E o vereador é isso, o porta-voz da população.
Já teve alguma conversa [com o prefeito eleito] sobre possivelmente ocupar a alguma secretaria ou a presidência do ISSA?
Não, nenhuma. Tive algumas oportunidades de passar determinadas informações, um cenário do que se amostra no Instituto de Previdência do regime próprio dos servidores. Então, por essas situações, as pessoas podem ter vislumbrado isso. E, também, tivemos a oportunidade de apresentar professores, buscar adesão de alguns professores da rede municipal ao projeto do Márcio [Corrêa]. Mas nenhuma conversa nesse sentido.
Mas, se o convite for feito pelo prefeito eleito Márcio Corrêa?
A princípio, digo que a minha vontade é permanecer e seguir no mandato. [...] Tem muitas pautas que eu não posso me omitir, que foram apresentadas nos nossos projetos de reeleição, então fica difícil realmente.
Há uma saída para a situação do ISSA?
Tem saída. O que tem que ser feito? Primeira coisa, alimentar o sistema com concurso público. É natural. Se você aumenta os gastos e não aumenta a contribuição, a situação naturalmente vai chegar a um momento de dificuldade, colapsar. E nós temos outras fontes de recursos que até foram criadas pelo atual prefeito, que é o plano de custeio, que infelizmente ele acabou não cumprindo integralmente. A questão das áreas, que acabou indo, mas não registrou e não trouxe recurso nenhum. Poderia trazer recursos como monetização ou até mesmo a venda, em algumas situações.
A solução do ISSA passa pelo instituto e pelo esforço do Executivo e do Legislativo?
Com certeza. E isso não é dessa administração, é de várias. É um déficit previdenciário que vem ao longo de décadas e que vai se agravando à medida que aumenta o número de aposentados. E não tem o mesmo acompanhamento nas contribuições previdenciárias. O que ainda diminuiu o déficit um pouco, e que eu inclusive considero bastante injusto, é a cobrança previdenciária dos aposentados. Isso que reduziu o déficit significativamente.
[Nas questões do servidor], vai continuar cobrando agora do prefeito?
Com certeza. O modus operandi de retirar a insalubridade dos agentes de saúde. Essas situações que deveriam ser corrigidas, mas não na forma que aconteceu. Vale ressaltar que data base não é aumento, é correção obrigatória legal. O aumento é outra situação, que algumas categorias, inclusive, precisam. Por exemplo, técnicos de Raios X e tecnólogos de Radiologia precisam de equiparar o piso. Os agentes administrativos, eu lutei desde 2017 para que acontecesse essa equiparação. Recentemente aprovada, ainda não lançada em folha, mas que foi também uma pauta que nós apresentamos.
O senhor disse que vai ser independente de muitas situações. Já começa agora no processo da eleição da mesa diretora da Câmara?
A eleição da mesa, a princípio nós vemos aparentemente quatro postulantes, todos eu acho que têm plenas condições de exercer a presidência da Câmara. Eu coloco meu nome na exposição, até porque naturalmente o PL tem que estar participando diretamente dessa composição, porque foi o partido mais bem votado individualmente. Fizemos dois vereadores, conseguimos eleger o prefeito municipal e queremos participar diretamente da composição na mesa. Não faço isso uma obsessão. Mas todos sabem do meu conhecimento técnico.
Se for outro candidato, da base de Márcio Corrêa, o senhor acompanha?
Se chegarmos a um consenso, naturalmente. Não tenho essas vaidades excessivas.
O vereador Suender Silva disse que vê o PL como um partido que deve reivindicar a presidência da Câmara. O que o senhor pensa?
É natural que também tenha essa pretensão. Mas, logicamente, nós sabemos que são vários fatores. Não é porque é do PL. Tem sobretudo a questão do diálogo com os colegas. Nós sabemos que o Domingos [Paula] tem uma boa infiltração, um bom relacionamento.
Como analisa a administração de Domingos Paula como presidente da Câmara?
Eu acho que ele teve avanço, sobretudo porque ele adotou algumas medidas que foram, inclusive, objeto de propostas nossas no executivo. Por exemplo, o vale-alimentação, alguns ajustes para os servidores efetivos. Eu acho que ele precisa avaliar melhor, digamos, a distribuição com igualdade de estrutura para todos os vereadores, não apenas aqueles mais próximos. Mas ele teve uma boa condução, acredito que, sobretudo, não teve nenhum ilícito. Acho que em algumas situações a Câmara tem que ter uma independência maior, sobretudo no cuidado de convocação de sessão extraordinária.
Os dois vereadores do partido [do prefeito eleito] afirmam publicamente que não acompanharão todas as votações, depende do interesse, da situação, da consequência. Então o líder vai ter muito trabalho.
Mas, depende sobretudo do próprio entendimento da administração. Eu espero que todos os projetos que venham tenham um consenso natural. Agora é natural numa administração, numa cidade de R$ 2,3 bilhões [de orçamento], de 400 mil habitantes e tantas demandas, que haja divergência. Eu percebi no Márcio, e acredito que ele possa, durante sua gestão, demonstrar isso para todos, é uma maturidade e um comportamento bastante sereno e com sabedoria. Em muitas situações que houve divergências [na Câmara] foi às vezes por provocações de terceiros que colocam a lenha na fogueira, que não precisava.