Saúde SAÚDE

Consumo de ultraprocessados pode aumentar risco de depressão

Especialista destaca importância de uma alimentação equilibrada para a saúde mental

24/10/2024 17h30
Por: Redação
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Foto: Marcos Santos / USP Imagens

A relação entre alimentação e saúde mental vem ganhando cada vez mais destaque, e um estudo recente trouxe novas evidências sobre os impactos de uma dieta desequilibrada. A pesquisa acompanhou quase 16 mil adultos sem histórico de depressão e revelou que aqueles que consumiam uma dieta composta por quase dois quintos de alimentos ultraprocessados apresentaram um risco 42% maior de desenvolver depressão. Em comparação, o grupo que seguia uma alimentação mais saudável teve apenas 7% de novos casos da doença.

Para a nutricionista Nayara Rios, esses dados reforçam a necessidade de repensarmos nossos hábitos alimentares. "O consumo de alimentos ultraprocessados não afeta apenas o corpo fisicamente, mas também a saúde mental. Esses produtos são ricos em aditivos químicos que podem causar desequilíbrios na microbiota intestinal, interferindo na absorção de nutrientes essenciais para o bem-estar emocional", explica Nayara. Ela destaca que a saúde do intestino está diretamente ligada à produção de neurotransmissores, como a serotonina, conhecida como o hormônio da felicidade.

Segundo a nutricionista, é possível reverter os efeitos nocivos de uma dieta rica em ultraprocessados com mudanças simples no dia a dia. "O ideal é começar com o básico: incluir boas fontes alimentares como frutas, verduras e fibras no cardápio diário. Isso ajuda o corpo a se nutrir adequadamente com substâncias prebióticas e fitoquímicas, que são fundamentais para a manutenção da saúde intestinal e, consequentemente, da saúde mental", afirma. Ela também recomenda a inclusão de gorduras saudáveis, como as encontradas no abacate e nas castanhas, que são importantes para o funcionamento do cérebro.

Além disso, Nayara ressalta que a hidratação é outro aspecto fundamental para o equilíbrio do corpo e da mente. "Manter-se bem hidratado é crucial para o bom funcionamento de todas as funções do organismo, inclusive as cerebrais. A desidratação pode afetar a concentração, o humor e até aumentar a sensação de fadiga, o que pode agravar sintomas de depressão em pessoas predispostas", alerta a especialista.

CONSUMO

O Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens) estima que, em média, os ultraprocessados representam 20% da dieta da população brasileira. Esse número é alarmante, especialmente quando associado ao fato de que o Brasil lidera a América Latina em proporção de pessoas com depressão, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, as novas descobertas reforçam a importância de adotar uma alimentação mais natural e equilibrada como medida preventiva.

No entanto, a nutricionista faz uma ressalva importante: "Embora uma alimentação saudável seja uma grande aliada na prevenção e no tratamento de problemas de saúde mental, ela não substitui o acompanhamento médico especializado. Pessoas que apresentam sintomas de depressão devem sempre buscar ajuda de profissionais, como psiquiatras e psicólogos, para um diagnóstico preciso e um tratamento adequado", frisa Nayara.

A especialista também aconselha que mudanças na dieta sejam feitas de forma gradual e com a orientação de um nutricionista, garantindo que o plano alimentar seja balanceado e adequado às necessidades individuais. "Cada pessoa é única, e o que funciona para uma pode não ser ideal para outra. Por isso, é essencial contar com a orientação de um profissional para montar um cardápio personalizado, que atenda às demandas do corpo e da mente de cada indivíduo", indica.

DEPRESSÃO

Os pesquisadores do estudo apontam que, além do impacto direto no organismo, o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado a um estilo de vida menos saudável de forma geral. "Muitas vezes, quem consome grandes quantidades de ultraprocessados também tem outros hábitos que contribuem para o aumento do risco de depressão, como a falta de atividade física, o estresse e o sono irregular", completa Nayara.

Por isso, a nutricionista reforça que a busca por uma vida mais saudável não deve ser limitada à alimentação. "É importante adotar uma abordagem holística para o bem-estar. Isso inclui praticar atividades físicas regularmente, manter uma boa rotina de sono e, claro, cuidar da saúde mental, seja por meio da alimentação ou com a ajuda de profissionais especializados", conclui Nayara Rios.

O que são alimentos ultraprocessados?

Os alimentos ultraprocessados são muito conhecidos por serem atraentes, práticos e de baixo custo. São alimentos desbalanceados nutricionalmente e, de acordo com o Ministério da Saúde, geralmente, são ricos em gorduras, açúcares ou sódio.

O excesso desses componentes faz com que os alimentos ultraprocessados estejam associados com diferentes problemas de saúde, incluindo até mesmo alguns tipos de câncer, como o câncer colorretal, e demências. Investir em uma alimentação saudável, reduzindo o consumo desses alimentos, é fundamental para a promoção da saúde.

Este tipo de alimentos são formulações industriais feitas inteira ou majoritariamente de substâncias retiradas de alimentos, derivadas de constituintes de alimentos ou sintetizadas em laboratório com base em petróleo e carvão.

Gorduras, açúcares e sódio são componentes que, em níveis elevados, estão associados a alguns problemas de saúde, como obesidade, hipertensão, doenças que afetam o coração, diabetes e até mesmo depressão e ansiedade. Como alimentos ultraprocessados são bastante práticos e considerados muito saborosos por algumas pessoas, o excesso no consumo deles não é exceção na população.

O consumo de alimentos ultraprocessados também se relaciona com o aumento do risco de desenvolver demência. De acordo com o artigo “Association of ultraprocessed food consumption with risk of dementia”, o maior consumo de alimentos ultraprocessados foi associado ao maior risco de demência, enquanto a substituição desses alimentos por alimentos in natura ou minimamente processados foi associada ao menor risco de desenvolver esse problema. (Com informações do Brasil Escola)

Exemplos de alimentos ultraprocessados

biscoitos recheados;
balas;
sorvetes;
chocolates;
cereais matinais;
mistura para bolo;
sopas em pó;
barra de cereal;
temperos instantâneos;
molhos prontos;
iogurtes;
bebidas lácteas;
energéticos;
pratos congelados;
nuggets;
salsichas;
salgadinhos de pacote;
refrigerantes;
pós para refrescos;
macarrão instantâneo.

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