A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível que, em muitos casos, não apresenta sintomas evidentes nos estágios iniciais, o que dificulta seu diagnóstico. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), entre janeiro de 2020 e julho desse ano, o estado registrou 34.990 casos de sífilis adquirida, 11.727 casos em gestantes e 1.936 casos de sífilis congênita.
Com a crescente de casos, a campanha Outubro Verde visa ampliar a conscientização sobre a importância da testagem e do tratamento da sífilis, especialmente em gestantes, para prevenir a transmissão da doença aos bebês. A superintendente de Vigilância em Saúde (Suvisa) da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), Flúvia Amorim, enfatiza a necessidade de atenção redobrada no período do pré-natal. “A sífilis congênita, que ocorre quando a infecção é transmitida da mãe para o feto, pode causar malformações, prematuridade e até morte fetal. É fundamental que haja prevenção, testagem e tratamento dos casos de sífilis”, destaca.
Flúvia explica que o diagnóstico precoce é crucial para um tratamento eficaz. “Quando identificada logo no início, a sífilis é tratável com antibióticos, especialmente a penicilina benzatina. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, menores as chances de complicações para a mãe e o bebê”, afirma. Durante o Outubro Verde, a SES-GO intensifica a distribuição de materiais informativos em todo o estado, por meio de suas 18 regionais de saúde, para reforçar a mensagem sobre a importância da prevenção e da testagem regular.
A infectologista Juliana Barreto observa que o aumento dos casos nos últimos anos está relacionado a mudanças no comportamento de prevenção. “A doença tem aumentado muito nos últimos 10 anos, principalmente porque as pessoas têm se preocupado mais com a prevenção do HIV, usando profilaxia pré e pós-exposição, mas acabam deixando de lado outras infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis”, alerta. “O uso de preservativos em todas as relações sexuais é fundamental para evitar a infecção”, reforça.
‘IMITADORA’
Conhecida como "a grande imitadora", a sífilis pode se disfarçar de outras condições de saúde, tornando seu diagnóstico desafiador. Juliana Barreto explica que a infecção pode se manifestar inicialmente com lesões na pele, muitas vezes confundidas com alergias. “A sífilis pode parecer uma simples alergia nas palmas das mãos ou até mesmo passar sem sintomas visíveis, o que leva ao diagnóstico apenas através de exames laboratoriais. Esse atraso no diagnóstico pode resultar em complicações graves, incluindo a sífilis terciária, que afeta órgãos como o coração e o sistema nervoso”, afirma a infectologista.
O tratamento, no entanto, é acessível e eficaz quando realizado no tempo certo. “O foco do tratamento é eliminar o treponema pallidum, a bactéria causadora da sífilis, com a penicilina benzatina. A quantidade de doses depende do estágio da doença e do histórico clínico do paciente. Para quem tem alergia à penicilina, há alternativas de segunda escolha”, explica Juliana. “O mais importante é que a sífilis tem cura, desde que seja tratada corretamente e no tempo certo”, completa.
GESTAÇÃO
A transmissão da sífilis durante a gravidez é uma das maiores preocupações das autoridades de saúde. A sífilis congênita pode ser evitada com um pré-natal bem realizado e com a testagem adequada. Flúvia Amorim ressalta a importância do acompanhamento das gestantes. “Quando a gestante faz os testes e é tratada adequadamente, conseguimos reduzir muito o risco de transmissão para o bebê. Mas, se a infecção não é identificada a tempo, há um risco significativo de que o bebê nasça com a doença e precise iniciar o tratamento logo após o nascimento”, detalha.
A infectologista Juliana Barreto também comenta sobre o cuidado necessário com gestantes. “Não é automático que uma gestante com sífilis vai transmitir a infecção ao feto, mas a chance existe, especialmente se o diagnóstico ocorrer tardiamente. Por isso, é essencial realizar um pré-natal rigoroso. Quando o bebê nasce com sífilis congênita, é preciso iniciar o tratamento imediatamente para minimizar as sequelas”, ressalta.
A campanha Outubro Verde reforça que a informação e a prevenção são as principais armas no combate à sífilis. Além da conscientização, é necessário que a população compreenda a importância de realizar testes regularmente e de buscar o tratamento adequado. “A sífilis é uma doença que tem cura, mas a chave está no diagnóstico precoce. Quanto antes a infecção é identificada, melhores são as chances de um tratamento eficaz e de evitar a transmissão”, finaliza Flúvia Amorim.