A próxima administração, óbvio, tem inúmeros desafios, situações inerentes à responsabilidade de se administrar uma cidade cosmopolita como Anápolis. Entre eles está a execução do Plano de Macrodrenagem, contratado pela Prefeitura de Anápolis para mitigar o problema das inundações na cidade. O ex-secretário de Obras da atual gestão, vereador Wederson Lopes (União Brasil), entende que nos últimos dois anos houve avanço nessa área, mas que a próxima administração municipal terá a incumbência de realizar as etapas ainda pendentes.
No dia 18 de março deste ano, audiência pública foi realizada na Câmara, por iniciativa de Wederson, para debater o Plano de Macrodrenagem. O desafio histórico foi abordado com base na execução das chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SbN). A apresentação foi conduzida pelo profissional que comandou a elaboração do plano, o consultor ambiental Antônio El Zayek. Segundo ele, “uma proposta para parar de empurrar a água para a baixada, onde ela está dando problema e criando as enchentes”.
Wederson Lopes citou, nesta segunda-feira, 14, na tribuna da Câmara, algumas das ações já realizadas pela Prefeitura de Anápolis, na gestão do prefeito Roberto Naves (Republicanos), no contexto deste plano. Destacou a recuperação de locais como as avenidas JK, Universitária e Fernando Costa. “Pessoas morriam nesses locais [...] Entre 2023 e 2024 não tivemos mais alagamentos ou inundações, por exemplo, na Rua Amazílio Lino de Souza. Foram executadas ações para que não haja problemas. O que não quer dizer que esses locais não corram mais risco”, explicou.
Foram construídos ainda, neste projeto, cinco jardins de chuva ao longo da Avenida Brasil Sul, além de uma área permutada disponibilizada para instalação de bacia de contenção, lembrou Wederson Lopes. Entretanto, pondera o vereador, o Plano de Macrodrenagem ainda está em execução. Várias outras etapas estão por vir. “É um desafio que deve ser assumido pelo próximo prefeito. A atual gestão não tem o tempo necessário para executar todo o plano. O próximo gestor terá essa prerrogativa”, projetou.
ETAPAS
O consultor Antônio El Zayek, nas várias oportunidades que teve para explicar as etapas do Plano de Macrodrenagem, disse que o caminho para a solução dos problemas nesta área passa pela recuperação do ciclo que era feito pela natureza antes da hiperimpermeabilização do solo. Ou seja, permitir que a água penetre na terra, reduzindo o volume que chega aos pontos mais baixos da cidade – que por serem também densamente povoados – resultam em enchentes que geram danos materiais e, em alguns casos, mortes.
O especialista, por exemplo, explicou que a água da chuva que cai no Posto Presidente, na BR-060, chega em grande parte à Rua Amazílio Lino. As galerias pluviais existentes no trajeto só ampliam a rapidez dessa água, que chega bem mais rápido no ponto mais baixo. Entre as SbN propostas para Anápolis estão os jardins de chuva, já implantados com sucesso em algumas regiões.
El Zayek também aposta na mudança de comportamento da população, que precisa passar a ser responsável por parte da água que cai em suas propriedades. Segundo o consultor, se todo imóvel tivesse um poço de drenagem, a situação já estaria resolvida. O consultor ressaltou que o plano não apresenta soluções complexas. “É reter a água como a natureza fazia, intensificando esse serviço nas áreas verdes”.
DEFINITIVO
Os problemas de drenagem urbana de Anápolis, ressaltou Wederson Lopes, que também é engenheiro civil, ocorrem há décadas. E reafirma que a gestão Roberto Naves promoveu várias intervenções para mitiga-los. Lopes disse que, quando ocupou a Secretaria de Obras, ajudou a implementar ações diversas, mas entende que a solução definitiva vem com a aplicação do Plano de Macrodrenagem. “O próximo prefeito já tem as diretrizes, os projetos detalhados para executar”, adianta o vereador.
Wederson Lopes acredita que será necessária, no ano que vem, a realização de processo licitatório para a contratação de empresa especializada para executar o Plano de Macrodrenagem. Segundo ele, com as equipes e maquinários próprios, a Prefeitura levaria muito tempo para atender todas as demandas de obras, “se houver licitação específica para a execução, ganharemos tempo”. O objetivo, disse, é que até setembro ou outubro de 2025, em sendo executado o plano, a cidade estaria mais protegida contra a força das próximas chuvas.
A Secretaria de Obras, segundo Lopes, ainda em 2024 deve realizar obras pontuais relevantes para o contexto geral do Plano de Macrodrenagem. Disse que, em contrato com a secretária Flávia Ribeiro, obteve informações sobre serviços de limpeza nas áreas críticas, desobstrução de bueiros, bocas-de-lobo, em áreas históricas de alagamentos.
Cronograma deve definir prazos e metas
Os debates sobre o tema revelaram que o Plano de Macrodrenagem depende de ações práticas [obras e serviços] e burocráticas [contratações e legislação]. Um tópico clareado durante a recente audiência pública que tratou do tema é que o plano se torne uma lei. O vereador Lisieux José Borges (PSB), que também participou da audiência e é engenheiro civil entende que, o plano se tornar lei é essencial “para que se cumpra tudo que foi falado aqui [na audiência]”.
Lisieux respalda a técnica prevista no Plano de Macrodrenagem, destacadas por Wederson e El Zayek, de que a natureza seja utilizada em favor da solução dos problemas de inundações e alagamentos sofridas pela cidade. E disse esperar que se torne lei. A secretária de Obras, Meio Ambiente e Serviços Urbanos, Flávia Ribeiro, na audiência, ponderou que, se houver o planejamento correto, baseado no plano contratado pelo Executivo, é possível que se alcance resultados no futuro. “São mudanças de paradigmas, de conceitos, que tem tudo para resolver o problema de Anápolis para os próximos anos”.
Wederson Lopes lembrou que a gestão atual já o deixou o plano contratado, pronto, para que comece agora a executar e a próxima administração dê sequência. Lopes citou ainda a Frente Parlamentar de Acompanhamento às Medidas Preventivas às Enchentes em Anápolis, criada nesta legislatura na Câmara Municipal, presidida pelo vereador Jean Carlos (PL). Naquela oportunidade Jean defendeu a criação de um cronograma, com prazos e metas.
Uma das sugestões evidenciadas pelos vereadores é a proposta de implantação de uma bacia de contenção oriunda do próprio estudo, o que, segundo eles, seria um grande avanço. O vereador Alex Martins (PP) lembrou que Anápolis é uma cidade que não foi planejada, “mas que precisa criar mecanismos claros, exitosos, para a solução do problema, que é grave”.