O estado de Goiás enfrenta uma das piores temporadas de queimadas dos últimos anos. Apenas nos primeiros nove meses deste ano, o Corpo de Bombeiros já contabilizou 15 mil ocorrências de incêndios, número que supera todas as ocorrências registradas em 2023. As principais áreas atingidas incluem vegetação, lotes baldios e propriedades rurais, com destaque para regiões produtivas, onde o impacto econômico tem sido severo.
De acordo com o tenente-coronel Luiz Eduardo Lobo, assessor de comunicação dos Bombeiros, o contexto climático deste ano favorece o avanço rápido das chamas. "Estamos em um período prolongado de estiagem, com temperaturas elevadas, umidade do ar muito baixa e fortes ventos. Isso cria o cenário ideal para a propagação dos incêndios em vegetação", comentou Lobo. Os fatores, segundo o tenente-coronel, têm exigido a mobilização constante de equipes por todo o estado.
Um levantamento realizado pelo Instituto Mauro Borges (IMB) revelou que as queimadas em Goiás já custaram R$ 710 milhões à economia local de janeiro a agosto de 2024. Cerca de 60% das áreas atingidas são produtivas, totalizando aproximadamente 102 mil hectares. O aumento de 40% nos incêndios em áreas agrícolas, comparado ao ano anterior, é especialmente preocupante para o setor agropecuário, que já sofre com a perda de safras e pastagens.
As estimativas indicam que, se o cenário atual se mantiver até o fim do ano, os prejuízos podem ultrapassar R$ 1,5 bilhão, considerando os custos de recuperação de solo e replantio, que correspondem a 0,35% do PIB do estado. As perdas, de acordo com a pasta, afetam diretamente a produção agropecuária e, indiretamente, a economia como um todo, dado que Goiás é um dos principais produtores agrícolas do país.
Expectativa de chuva, mas alerta permanece
O Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO) anunciou que uma frente fria deve atingir o estado nesta quarta-feira, 9. A previsão é de que chuvas isoladas ocorram em algumas regiões, especialmente no centro-sul goiano, acompanhadas por uma leve queda nas temperaturas. As tempestades poderão vir acompanhadas de rajadas de vento e, em algumas áreas, há até a possibilidade de granizo.
Contudo, as autoridades alertam que essas chuvas iniciais não serão suficientes para conter o avanço dos incêndios. "As primeiras precipitações serão importantes, mas não vão resolver o problema de imediato. Continuamos com nossas equipes em alerta, prontas para agir a qualquer momento", destacou o tenente-coronel Lobo. Segundo ele, o monitoramento das áreas críticas continuará intensificado, principalmente em regiões com vegetação seca e ventos fortes.
Os bombeiros destacam que o aumento expressivo de queimadas em Goiás não só afeta a economia e a saúde da população, mas também ameaça o ecossistema do Cerrado, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do país. Especialistas ambientais alertam para os danos irreparáveis à fauna e à flora locais, que, em muitos casos, levam anos para se recuperar de incêndios dessa magnitude.
O Corpo de Bombeiros reforça a importância da colaboração da população para evitar que o número de ocorrências continue crescendo. Acender fogueiras em áreas rurais, queimar lixo em lotes baldios e realizar queimadas controladas sem autorização são práticas proibidas durante o período de estiagem e podem acarretar multas e outras penalidades.
Efeitos na saúde pública
As queimadas também têm causado um impacto direto na saúde da população. Segundo o IMB, 342 pessoas foram internadas em hospitais goianos com problemas respiratórios relacionados à fumaça e à qualidade do ar comprometida. As regiões mais afetadas são aquelas próximas aos focos de incêndio, onde a fumaça persiste por dias, agravando as condições respiratórias de grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.
Os especialistas afirmam que o custo indireto das queimadas, como as internações hospitalares e a perda de dias de trabalho, não foi incluído nas estimativas econômicas, mas também representa um desafio adicional para o sistema público de saúde.
Nesta semana, com a alta incidência de queimadas em diversas regiões do país, o Ministério da Saúde alertou a população sobre os riscos à saúde causados pela fumaça e partículas liberadas no ar. Isso porque a queima de biomassa (queima da floresta e áreas de pastagens) resulta na emissão de material particulado e gases nocivos à saúde humana. Os poluentes se dispersam na atmosfera dependendo da direção dos ventos, da temperatura gerada pelo foco de queimada e de outros fatores, informou a pasta.
Entre os cuidados importantes para proteger o sistema respiratório e manter o bem-estar indicados pelo ministério estão a hidratação constante, evitar atividades e exercícios ao ar livre quando a qualidade do ar estiver prejudicada pela fumaça, manter os ambientes internos úmidos, preferir ambientes fechados e procurar ajuda médica se apresentar sintomas como dificuldade para respirar, tosse constante ou irritação.