Saúde SAÚDE MENTAL

Mesmo com o fim do “Setembro Amarelo”, campanhas de prevenção devem continuar, afirma psicóloga

“O trabalho é o ano inteiro, a saúde mental é uma pauta para todos os dias em nossa vida”, disse Rafaella Cunha

30/09/2024 18h47
Por: Lucas Tavares
Foto: Prefeitura de Anápolis
Foto: Prefeitura de Anápolis

O “Setembro Amarelo”, mês que conta com uma grande campanha dedicada a prevenção do suicídio, se encerrou oficialmente nesta segunda-feira (30), porém, profissionais ligados a área de saúde mental destacam que os trabalhos de assistência e acolhimento continuarão integralmente, durante todo o ano.

À Rádio Manchester, a psicóloga Rafaella Cunha destacou que, apesar da importância, o tema ainda é um tabu na sociedade. “Desde que a campanha [Setembro Amarelo] começou, foi muito importante para clarear, sem tanto preconceito, sem tanto estigma”, afirmou.

“Essa campanha foi lançada pela Associação Brasileira de Psiquiatria, mas todo mundo envolvido na saúde mentalmente se dedica. Mas o trabalho é o ano inteiro, desde janeiro, que é o “Janeiro Branco”. A saúde mental é uma pauta para todos os dias em nossa vida”, completou.

O “Janeiro Branco”, citado por Rafaella, visa alertar a população para a necessidade dos cuidados com a saúde mental e emocional. Um dos principais objetivos é a prevenção de doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico.

Essas doenças mentais, segundo a psicóloga, podem ser causadas por uma série de fatores e são cada vez mais comuns. “A depressão foi considerada a doença deste século e a nossa sociedade também está sendo considerada a sociedade do cansaço”, destacou.

“São os dois sintomas que mais aparecem hoje na clínica: depressão e cansaço, o stress também. Eu acho que isso tudo é ligado ao mundo contemporâneo, ao que nós estamos fazendo e como nós estamos vivendo a nossa vida”, ressaltou.

Rafaella, que atende especialmente adolescentes, destaca que a procura desse público também é crescente. Segundo ela, muitas pessoas acreditam que, pela juventude, energia e vigor físico não é possível se deprimir, porém, os motivos podem ser os mais diversos.

“Grande parte [das pessoas que tentam suícidio] pode ser por transtorno mental, mas eu, no meu consultório há mais de 10 anos, e todas as pesquisas que eu sigo na área da psicanálise, sei que existem casos em situações da vida: a perda de um amor, a perda de um trabalho, não passar no vestibular. Não necessariamente aquela pessoa estava em depressão ou tinha transtorno bipolar, foi  um fato pontual em que a pessoa não teve recurso e não teve tempo para encontrar outra saída. Uma tentativa de sair da cena de angústia”, afirmou.

“O que eu quero que a gente pense é que essas pessoas são excluídas da sociedade porque a gente tem medo de conversar com elas, porque a gente não sabe o que falar, não sabe o que dizer e aí a gente não consegue escutar essas pessoas”, completou Rafaella.

Ainda de acordo com a psicóloga, o assunto é delicado e de causa complexa e, por isso, precisa ser tratado de forma séria e ainda destaca o jornalismo e a psicologia como áreas fundamentais nesta rede de conscientização e proteção. “A gente precisa ser muito respeitoso e ter o cuidado de não patologizar e diagnosticar quem está em sofrimento”, disse.

Alguns sinais destacados pela psicóloga são: alteração do sono, alteração do apetite, desesperança, falta de sentido na vida. Além disso, ela afirma que não são apenas os psicólogos e psiquiatras que atenderão em um momento de crise, pois nem sempre esses profissionais terão acesso à pessoa no momento de mais necessidade.

Por este motivo, é necessário aprimorar a escuta. “Às vezes vai ser um familiar, às vezes vai ser um amigo que vai acolher. A dica de ouro é: ouça mais e fale menos. Quanto mais a gente fala, maior a chance da gente errar, porque a gente vai aconselhar. Então, não pode ir pela via religiosa, pela visão positiva de que “você é forte, você vai conseguir”, a pessoa já está se sentindo fora do mundo e essas falas podem pesar mais ainda”, ponderou.

Para atender pessoas em situação crítica, o Centro de Valorização da Vida (CVV) está disponível 24h pelo número 188, sem custos de ligação. Assim como a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), que está presente em Anápolis, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), o Ambulatório de Saúde Mental (Espaço Florescer), localizado no Jundiaí e os diversos profissionais da área.

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